sábado, 19 de fevereiro de 2011

1º RECADO PARA 2° ANOS DO ENSINO MÉDIO DE 2011 DO JC - DE 14 A 18 DE FEVEREIRO

Lemos essa semana a crônica O amor acaba

de
Paulo Mendes Campos; mas antes, os alunos responderam: "O amor acaba?" Parece que não existem certezas sobre o tal questionamento. 


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania1 da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.


1. No sentido literário, epifania é um momento privilegiado de revelação quando ocorre um evento que "ilumina" a vida da personagem.


O amor acaba - Crônicas líricas e existenciais. 2ª- ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

EM GRUPO, OS ALUNOS TAMBÉM CONSTRUIRAM UMA CRÔNICA COM A MESMA TEMÁTICA; PORÉM COM UMA EXIGÊNCIA: TERIAM QUE USAR AS FIGURAS DE LINGUAGEM: METÁFORA, COMPARAÇÃO E PERSONIFICAÇÃO INUSITADAS E SURPREENDENTE. ISSO APROXIMA O TEXTO MAIS DA ESFERA LITERÁRIA.

VEJA:

1º GRUPO LIDERADO POR YASMIM

2º GRUPO LIDERADO POR



O QUE É CRÔNICA??????????????

Uma crônica é uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal.
 LEIA AS CRÔNICAS DE , PUBLICADAS ....................  

ESTUDE AS DIFERENÇAS ENTRE CRÔNICA E CONTO. EM SEGUIDA, FAÇA UM MAPA CONCEITUAL  NO QUAL SE DESTAQUE OS PONTOS SEMELHANTES E DIFERENTES ENTRE ESSES DOIS GÊNEROS TEXTUAIS

 

Diferença entre Crônica e Conto (http://anagabrielavieira.blogspot.com/ ) 

Crônica X Conto
crô.ni.ca


s. f. 1. Narração histórica, por ordem cronológica. 2. Seção ou coluna, de jornal ou revista, consagradas a assuntos especiais.






con.to.1


s. m. 1. Narração falada ou escrita. 2. História ou historieta imaginadas. 3. Fábula. 4. Mentira inventada para iludir indivíduos rústicos; engodo, embuste. — C.-do-vigário: embuste para apanhar dinheiro das pessoas de boa-fé.

O Conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho), ainda que contenha os mesmos componentes do romance. Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total – da qual falava Poe (1809-1849) e Tchekhov (1860-1904): o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade.


Crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem. A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.


Basicamente, o que diferencia o conto da crônica é a densidade poética.


O conto é pesado, a crônica é leve. O conto deve provocar e inquietar, a crônica deve entreter e deleitar. A crônica é a prosa curta, amena e coloquial, com toques de malícia e humor, sobre os fatos políticos da atualidade ou sobre os hábitos e costumes dos diversos segmentos sociais. O conto é todo o resto, é toda a prosa curta que não é crônica.


No conto a história é completa e fechada como um ovo. É uma célula dramática, um só conflito, uma só ação. A narrativa passiva de ampliar-se não é conto.


Poucas são as personagens em decorrência das unidades de ação, tempo e lugar. Ainda em conseqüência das unidades que governam a estrutura do conto, as personagens tendem a ser estáticas, porque as surpreende no instante climático de sua existência. O contista as imobiliza no tempo, no espaço e na personalidade (apenas uma faceta de seu caráter).


A crônica é um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. É uma produção curta, apressada (geralmente o cronista escreve para o jornal alguns dias da semana, ou tem uma coluna diária), redigida numa linguagem descompromissada, coloquial, muito próxima do leitor. Quase sempre explora a humor; mas às vezes diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa – fiada. Noutras, despretensiosamente faz poesia da coisa mais banal e insignificante.


E, finalmente, a crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens. O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a apresentação da personagem e o desfecho.


No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos, o que não se dá na crônica, que procura captar um lance curioso, um momento interessante, triste ou alegre. No conto, a personagem é analisada e/ou caracterizada, há maior densidade dramática e freqüentemente um conflito, resolvido em desfecho. Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica para o leitor imaginar e, depois, tirar suas conclusões. Uma das finalidades da crônica é justamente apresentar o fato, nu, seco e rápido, mas não concluí-lo. A possível tese fica a meio caminho, sugerida, insinuada, para que o leitor reflita e chegue a ela por seus próprios meios.

Crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem.

A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção e fantasia, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.

A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.

Em resumo, podemos determinar cinco pontos:

Narração histórica pela ordem do tempo em que se deram os fatos.

Seção ou artigo especial sobre literatura, assuntos científicos, esporte etc., em jornal ou outro periódico.

Pequeno conto baseado em algo do cotidiano.

Normalmente possui uma crítica indireta.

Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico.


Tipos de Crônica


Crónica Descritiva

Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados em um espaço, viva como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme publicado.
LEIA AS CRÔNICAS DE , PUBLICADAS NA REVISTA VEJA  

Crônica Narrativa

Tem por eixo uma história, o que a aproxima do conto. Pode ser narrado tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular. Texto lírico (poético, mesmo em prosa). Comprometido com fatos cotidianos ("banais", comuns).
LEIA "A ÚLTIMA CRÔNICA, DE FERNANDO SABINO.

Crônica Dissertativa

Opinião explícita, com argumentos mais "sentimentalistas" do que "racionais" (em vez de "segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil", seria "vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo"). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular quanto na do plural.

LEIA AS CRÔNICAS DE LYA LUFT, PUBLICADAS NA REVISTA VEJA  
Crônica Narrativo-Descritiva

É quando uma crônica explora a caracterização de seres, descrevendo-os. E, ao mesmo tempo mostra fatos cotidianos ("banais", comuns) no qual pode ser narrado em 1ª ou na 3ª pessoa do singular.
LEIA AS CRÔNICAS DE , PUBLICADAS NA REVISTA VEJA  
Crônica Humorística

Apresenta uma visão irônica ou cômica dos fatos apresentados.
LEIA AS CRÔNICAS DE MILLÔR FERNANDES OU DE LUIS FERNANDO VERÍSSIMO, COMO "DIGA NÃO ÀS DROGAS" (DIZEM NÃO SER DELE).  

Crônica Lírica

Linguagem poética e metafórica. Expressa o estado do espírito, as emoções do cronista diante de um fato de uma pessoa ou fenômeno.No geral as emoções do escritor.
LEIA AS CRÔNICAS DE VINÍCIUS DE MORAES, DO LIVRO "PARA VIVER UM GRANDE AMOR", POR EXEMPLO. 

Crônica Poética

Apresenta versos poéticos em forma de crônica.
LEIA AS CRÔNICA-POEMA DE MANUEL BANDEIRA, COMO "PENSÃO FAMILIAR" OU "3 DE ABRIL" DE RACIONAIS MC.

Crônica Jornalística

Apresentação de aspectos particulares de noticias ou fatos. Pode ser policial, esportiva, etc.
LEIA AS CRÔNICAS DE PEDRO BIAL, COMO,  

Crônica Histórica

Baseada em fatos reais, ou fatos históricos.


EXEMPLIFICANDO...
CRONICA JORNALÍSTICA:
Segunda-feira, 1/11/2010

Dilma e o Big Mac

Daniel Bushatsky

Estou pensando em importar um Big Mac da China. Aposto que chega mais barato do que custa aqui no Brasil.

Segundo o famoso índice Big Mac, calculado pela revista The Economist, o Iuane, moeda chinesa, está 41% desvalorizado em relação ao dólar. Somado ao trabalho escravo e à ditadura existente, entende-se o porquê de o sanduíche lá ser tão barato.

Outro produto que estou pensando em comprar é uma bolsa Louis Vuitton, modelo Speedy 35. Desta vez penso em comprar em Londres. A cidade inglesa tem o produto quase 50% mais barato que aqui em São Paulo. Incrível, não? Acho que são os impostos que fazem a diferença, até porque um empregado inglês deve ganhar mais do que um brasileiro e a Libra Esterlina é mais valorizada que o Real. O Big Mac lá custa 1 dólar e 60 centavos a menos do que no Brasil. Ou seja: com a diferença, posso sair com minha bolsa e tomar uma casquinha de creme no McDonald's.

Salários, impostos, escravidão, outras questões que importam são o câmbio valorizado e a entrada de investimentos externos no Brasil ― o país saiu fortalecido da crise mundial. Esses fatores são responsáveis pela entrada de dólares e, também, pela saída. O IOF ajuda, mas são eles que determinam.

É assim que o Big Mac no Brasil é o segundo mais caro do mundo, perdendo somente para o suíço, que custa incríveis 6 dólares e 78 centavos.

Nessa linha de raciocínio, fico pensando quantos Big Macs valem o nosso atual presidente, a campanha eleitoral e os principais candidatos a presidente da república.

Lula vale um "nº 1", ou seja, 1 Big Mac, 1 coca, mas como ele é anti-imperialista, 1 guaraná e "uma" fritas média. Isto porque, mesmo que ele se diga de esquerda, desde que assumiu, manteve a política econômica de FHC e, fora deslizes na política externa, sempre foi bem tradicional. É verdade, pensando melhor, que talvez as fritas viriam frias e o guaraná sem gás: ninguém em sã consciência alia-se ao presidente do Irã ou diz que prisioneiros políticos são iguais a prisioneiros comuns.

A campanha eleitoral não valeu um Big Mac, nem o chinês. Onde foram parar os debates agressivos, as campanhas convincentes, os slogans criativos? O que significa "Serra é do bem" ou "Scaff é o cara"? Deve ser difícil transmitir conteúdo, mas as propagandas exageraram. Até o último sábado, véspera do segundo turno, se ouvia o programa eleitoral gratuito ― que de gratuito não tem nada ―, não sabia identificar de quem era a campanha: Serra ou Dilma?

Serra mereceu um "McLanche Feliz". Não é possível que alguém que estivesse perdendo pudesse ser tão "frouxo". A revista Veja fez mais campanha para ele do que ele próprio. Ela denunciou os tentáculos do PT, enquanto ele fez aquela cara de apatia sem se esforçar o mínimo para conseguir o que quer. É a típica criança tímida. Capaz de que fique sem o brinquedo da promoção.

Dilma não merece comentários. Ela não iria ao McDonald's e nem o Ronald McDonald seria bonzinho com ela. Em tese, ele só é legal com quem não se faz de alienada. Mas as últimas reportagens de Veja, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo trazem justamente o que o Ronald não permite. Nem o Papai Noel levaria presente no final do ano. O Papai Noel não é ingênuo a ponto de acreditar que ela não sabia da Erenice ou dos dossiês encomendados ao Secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay.

Mas se ela não vai ao McDonald's, aonde ela iria? Ao The Fifties!

Como Lula, ela diria que a lanchonete americana faz parte do capitalismo ianque e, como Lula, ela não sabe que o The Fifties é uma homenagem aos anos 50 dos Estados Unidos, onde a moda era ir à lanchonete tomar milk-shake e comer hambúrguer. Talvez ela não entendesse a decoração "retrô" e fosse à noite ― sempre imaginei que é à noite que as coisas erradas acontecem ―, para ninguém ver.

Só espero que a vencedora da eleição se atente ao índice da The Economist, porque atrás dele tem muito mais do que só dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles, no pão com gergelim. É o reflexo da economia do Brasil.

Aliás, a mesma economia de 12 anos atrás, quando o PT acusou FHC de populismo cambial para assegurar a sua reeleição. O dólar atualizado com a inflação brasileira e americana vale o mesmo que há 12 anos. Será que o PT também está fazendo populismo cambial? Para o índice Big Mac, sim!

Finalizando: com essa vitória de Dilma, espero que ela se renda às McOfertas ou à especial tortinha de maçã, mais conhecida como McTortinha de maçã, pois não dá para governar sem elas. E lembre-se sempre de que "Just do it"; ops, errei, esse é slogan da Nike.

Lembre-se sempre de que nós brasileiros torcemos pelo seu sucesso.

Espero que ela também seja do bem! (http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3190&titulo=Dilma_e_o_Big_Mac)


EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CLASSE GRAMATICAL ( CLASSE DE PALAVRAS OU FAMÍLIA DE PALAVRAS)


1. A alternativa que apresenta classes de palavras cujos sentidos podem ser modificados pelo advérbio são:


a) adjetivo - advérbio - verbo.

b) verbo - interjeição - conjunção.

c) conjunção - numeral - adjetivo.

d) adjetivo - verbo - interjeição.

e) interjeição - advérbio - verbo.


2. Das palavras abaixo, faz plural como "assombrações"

a) perdão.

b) bênção.

c) alemão.

d) cristão.

e) capitão.


3. Na oração "Ninguém está perdido se der amor...", a palavra grifada pode ser classificada como:


a) advérbio de modo.

b) conjunção adversativa.

c) advérbio de condição.

d) conjunção condicional.

e) preposição essencial.


4. Marque a frase em que o termo destacado expressa circunstância de causa:

a) Quase morri de vergonha.

b) Agi com calma.

c) Os mudos falam com as mãos.

d) Apesar do fracasso, ele insistiu.

e) Aquela rua é demasiado estreita.


5. "Enquanto punha o motor em movimento." O verbo destacado encontra-se no:

a) Presente do subjuntivo.

b) Pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo.

c) Presente do indicativo.

d) Pretérito mais-que-perfeito do indicativo.

e) Pretérito imperfeito do indicativo.



6. Aponte a opção em que muito é pronome indefinido:

a) O soldado amarelo falava muito bem.

b) Havia muito bichinho ruim.

c) Fabiano era muito desconfiado.

d) Fabiano vacilava muito para tomar decisão.

e) Muito eficiente era o soldado amarelo.


7 . A flexão do número incorreta é:

a) tabelião - tabeliães.

b) melão - melões

c) ermitão - ermitões.

d) chão - chãos.

e) catalão - catalões.


8. Dos verbos abaixo apenas um é regular, identifique-o:

a) pôr.

b) adequar.

c) copiar.

d) reaver.

e) brigar.


9. A alternativa que não apresenta erro de flexão verbal no presente do indicativo é:

a) reavejo (reaver).

b) precavo (precaver).

c) coloro (colorir).

d) frijo (frigir).

e) fedo (feder).


10. A classe de palavras que é empregada para exprimir estados emotivos:

a) adjetivo.

b) interjeição.

c) preposição.

d) conjunção.

e) advérbio.


11. Todas as formas abaixo expressam um tamanho menor que o normal, exceto:

a) saquitel.

b) grânulo.

c) radícula.

d) marmita.

e) óvulo.


12. Em "Tem bocas que murmuram preces...", a seqüência morfológica é:

a) verbo-substantivo-pronome relativo-verbo-substantivo.

b) verbo-substantivo-conjunção integrante-verbo-substantivo.

c) verbo-substantivo-conjunção coordenativa-verbo-adjetivo.

d) verbo-adjetivo-pronome indefinido-verbo-substantivo.

e) verbo-advérbio-pronome relativo-verbo-substantivo.


13. A alternativa que possui todos os substantivos corretamente colocados no plural é:

a) couve-flores / amores-perfeitos / boas-vidas.

b) tico-ticos / bem-te-vis / joões-de-barro.

c) terças-feiras / mãos-de-obras / guarda-roupas.

d) arco-íris / portas-bandeiras / sacas-rolhas.

e) dias-a-dia / lufa-lufas / capitães-mor.


14. "...os cipós que se emaranhavam..." . A palavra sublinhada é:

a) conjunção explicativa.

b) conjunção integrante.

c) pronome relativo.

d) advérbio interrogativo.

e) preposição acidental.


15. Indique a frase em que o verbo se encontra na 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo:

a) Faça o trabalho.

b) Acabe a lição.

c) Mande a carta.

d) Dize a verdade.

e) Beba água filtrada.


16. Em "Escrever é alguma coisa extremamente forte, mas que pode me trair e me abandonar.", as palavras grifadas podem ser classificadas como, respectivamente:

a) pronome adjetivo - conjunção aditiva.

b) pronome interrogativo - conjunção aditiva.

c) pronome substantivo - conjunção alternativa.

d) pronome adjetivo - conjunção adversativa.

e) pronome interrogativo - conjunção alternativa.


17. Marque o item em que a análise morfológica da palavra sublinhada não está correta:

a) Ele dirige perigosamente - (advérbio).

b) Nada foi feito para resolver a questão - (pronome indefinido).

c) O cantar dos pássaros alegra as manhãs - (verbo).

d) A metade da classe já chegou - (numeral).

e) Os jovens gostam de cantar música moderna - (verbo).


18. Quanto à flexão de grau, o substantivo que difere dos demais é:

a) viela.

b) vilarejo.

c) ratazana.

d) ruela.

e) sineta.


19. Está errada a flexão verbal em:

a) Eu intervim no caso.

b) Requeri a pensão alimentícia.

c) Quando eu ver a nova casa, aviso você

d) Anseio por sua felicidade.

e) Não pudeste falar.


20. Das classes de palavra abaixo, as invariáveis são:

a) interjeição - advérbio - pronome possessivo.

b) numeral - substantivo - conjunção.

c) artigo - pronome demonstrativo - substantivo.

d) adjetivo - preposição - advérbio.

e) conjunção - interjeição - preposição.


21. Todos os verbos abaixo são defectivos, exceto:

a) abolir.

b) colorir.

c) extorquir.

d) falir.

e) exprimir.


22. O substantivo composto que está indevidamente escrito no plural é:

a) mulas-sem-cabeça.

b) cavalos-vapor.

c) abaixos-assinados.

d) quebra-mares.

e) pães-de-ló.


23. A alternativa que apresenta um substantivo invariável e um variável, respectivamente, é:

a) vírus - revés.

b) fênix - ourives.

c) ananás - gás.

d) oásis - alferes.

e) faquir - álcool.


24. "Paula mirou-se no espelho das águas": Esta oração contém um verbo na voz:

a) ativa.

b) passiva analítica.

c) passiva pronominal.

d) reflexiva recíproca.

e) reflexiva.


25. O único substantivo que não é sobrecomum é:

a) verdugo.

b) manequim.

c) pianista.

d) criança.

e) indivíduo.


26. A alternativa que apresenta um verbo indevidamente flexionado no presente do subjuntivo é:

a) vade.

b) valham.

c) meçais.

d) pulais.

e) caibamos.


27. A alternativa que apresenta uma flexão incorreta do verbo no imperativo é:

a) dize.

b) faz.

c) crede.

d) traze.

e) acudi.


28. A única forma que não corresponde a um particípio é:

a) roto.

b) nato.

c) incluso.

d) sepulto.

e) impoluto.


29. Na frase: "Apieda-te qualquer sandeu", a palavra sandeu (idiota, imbecil) é um substantivo:

a) comum, concreto e sobrecomum

b) concreto, simples e comum de dois gêneros.

c) simples, abstrato e feminino.

d) comum, simples e masculino

e) simples, abstrato e masculino.

30. A alternativa em que não há erro de flexão do verbo é:

a) Nós hemos de vencer.

b) Deixa que eu coloro este desenho.

c) Pega a pasta e a flanela e pole o meu carro.

d) Eu reavi o meu caderno que estava perdido.

e) Aderir, eu adiro; mas não é por muito tempo!


31. Em "Imaginou-o, assim caído..." a palavra destacada, morfologicamente e sintaticamente, é:

a) artigo e adjunto adnominal.

b) artigo e objeto direto.

c) pronome oblíquo e objeto direto.

d) pronome oblíquo e adjunto adnominal.

e) pronome oblíquo e objeto indireto.


32. O item em que temos um adjetivo em grau superlativo absoluto é:

a) Está chovendo bastante.

b) Ele é um bom funcionário.

c) João Brandão é mais dedicado que o vigia.

d) Sou o funcionário mais dedicado da repartição.

e) João Brandão foi tremendamente inocente.


33. A alternativa em que o verbo abolir está incorretamente flexionado é:

a) Tu abolirás.

b) Nós aboliremos.

c) Aboli vós.

d) Eu abolo.

e) Eles aboliram.


34. A alternativa em que o verbo "precaver" está corretamente flexionado é:

a) Eu precavejo.

b) Precavê tu.

c) Que ele precavenha.

d) Eles precavêm.

e) Ela precaveu.

35. A única alternativa em que as palavras são, respectivamente, substantivo abstrato, adjetivo biforme e preposição acidental é:

a) beijo-alegre-durante

b) remédio-inteligente-perante

c) feiúra-lúdico-segundo

d) ar-parco-por

e) dor-veloz-consoante


domingo, 13 de fevereiro de 2011

1º RECADO PARA 8ª SÉRIE/9° ANO DE 2011 DO JC - FEVEREIRO


LISTA DE ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS NA 8ª SÉRIE

1.      Refazer todas as atividades dadas da minigramática acerca dos "Termos da oração".

 2. Ler os seguintes livros:
  1. Eles não usam Black Tie, de Gianfrancesco Guarnieri
  2. Iracema, de José de Alencar(romance)
  3. A Cartomante, de Machado de Assis (Conto)
  4. A Cartomante, de Lima Barreto (Conto)
  5. Depois Daquela Viagem, de Valéria Piassa Polizzi(romance)
  6. Meninas da Noite, de Gilberto Dimenstein
  7. Miguilin, de Guimarães Rosa (Conto)
  8. Cinco Minutos, de Machado de Assis(romance)
  9. Os mais belos contos da literatura brasileira (Antologia)
  10.  Leitura dos livros recebidos da Secretaria da Educação
3- Selecione Artigos de opinião, artigos de divulgação científica, resenhas crítica e verbete de enciclopédia em jornais e revistas impresso ou online e faça uma pasta para guardar essa coletânea.

4- Estudos da Gramática:
  • Retomada dos termos da oração (morfossintaxe) 
  • Período composto por coordenação
  • Período composto por subordinação
  • Concordância verbal
  • Concordância nominal
  • Regência verbal
  • Regência nominal
  • Crase
  • Figuras de linguagem

Observação: Obrigatoriamente, todos deverão usar a minigramática da Saraiva
SUGESTÕES DE LEITURA

 


A Cartomante
Machado de Assis

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.

Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.

Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.

Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.

Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.

— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.

Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.

Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.

Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.

Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.

Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.

Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...

Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.

No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.

Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.

Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.

— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...

Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.

Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!

Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?

Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.

A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:

— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.

— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

— A mim e a ela, explicou vivamente ele.

A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.

— As cartas dizem-me...

Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.

Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...

E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.

— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?

— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.

— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...

A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.

Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.

E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.

A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.

Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

Este conto foi publicado originalmente na Gazeta de Notícias - Rio de Janeiro, em 1884. Posteriormente foi incluído no livro "Várias Histórias" e em "Contos: Uma Antologia", Companhia das Letras - São Paulo, 1998, de onde foi extraído. Com esta publicação homenageamos Machado de Assis que, no dia 21 deste, estaria completando seu 172° aniversário.

A CARTOMANTE
LIMA BARRETO

Não havia duvida que naqueles atrasos e atrapalhações de sua vida, alguma influência misteriosa preponderava. Era ele tentar qualquer cousa, logo tudo mudava. Esteve quase para arranjar-se na Saúde Pública; mas, assim que obteve um bom "pistolão", toda a política mudou. Se jogava no bicho, era sempre o grupo seguinte ou o anterior que dava. Tudo parecia mostrar-lhe que ele não devia ir para adiante. Se não fossem as costuras da mulher, não sabia bem como poderia ter vivido até ali. Há cinco anos que não recebia vintém de seu trabalho. Uma nota de dois mil-réis, se alcançava ter na algibeira por vezes, era obtida com auxílio de não sabia quantas humilhações, apelando para a generosidade dos amigos.

Queria fugir, fugir para bem longe, onde a sua miséria atual não tivesse o realce da prosperidade passada; mas, como fugir? Onde havia de buscar dinheiro que o transportasse, a ele, a mulher e aos filhos? Viver assim era terrível! Preso à sua vergonha como a uma calceta, sem que nenhum código e juiz tivessem condenado, que martírio!

A certeza, porém, de que todas as suas infelicidades vinham de uma influência misteriosa, deu-lhe mais alento. Se era "coisa feita", havia de haver por força quem a desfizesse. Acordou mais alegre e se não falou à mulher alegremente era porque ela já havia saido. Pobre de sua mulher! Avelhantada precocemente, trabalhando que nem uma moura, doente, entretanto a sua fragilidade transformava-se em energia para manter o casal.

Ela saía, virava a cidade, trazia costuras, recebia dinheiro, e aquele angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa.

Bem! As cousas iam mudar! Ele iria a uma cartomante e havia de descobrir o que e quem atrasavam a sua vida.

Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes, espíritas, teósofos anunciados; mas simpatizou com uma cartomante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda espécie de feitiçaria, principalmente a africana. Rua etc.".

Não quis procurar outra; era aquela, pois já adquirira a con- vicção de que aquela sua vida vinha sendo trabalhada pela mandinga de algum preto mina, a soldo do seu cunhado Castrioto, que jamais vira com bons olhos o seu casamento com a irmã.

Arranjou, com o primeiro conhecido que encontrou, o dinheiro necessário, e correu depressa para a casa de Madame Dadá.

O mistério ia desfazer-se e o malefício ser cortado. A abastança voltaria à casa; compraria um terno para o Zezé, umas botinas para Alice, a filha mais moça; e aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.

Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro e doce, um sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o mundo, que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe surgia claro e doce.

Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito.

O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa. Era sua mulher.
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DIVIRTA-SE...






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Artigo de opinião





TEXTO ARGUMENTATIVO -