sexta-feira, 18 de maio de 2012

Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. 


 De acordo com o site da Fundação Manoel de Barros , um instituto de apoio à cultura e de assistência social batizado em sua homenagem, Barros adota uma temática regionalista e inspirada na natureza, “indo além do valor documental para fixar-se no mundo mágico das coisas banais retiradas do cotidiano”. 


 Manoel de Barros 
Conheci Manoel de Barros em algum programa da TV Cultura. Fiquei fantasiada com tamanha criatividade com as palavras. Ao ler “Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros” me senti uma menina grande que não tinha aprendido nada sobre o que as palavras poderiam dizer, ou ser. “Tudo que não invento é falso”. Com esse paradoxo, Manoel de Barros inicia este livro que são fragmentos de lembranças livres em um tempo aparentemente invisível. 


Cada trecho é diagramado em páginas soltas e podem ser lidos em qualquer ordem, sem nenhum tipo de linearidade. Afinal, a imaginação do autor não possui regras determinadas. 
Manoel de Barros busca a essência existente por trás da palavra. Para ele, mais do que o significado literal, as palavras têm o poder de simplesmente encantar, sem a necessidade de possuir uma função definida, assim ele faz um criançamento das palavras. As palavras, nas memórias inventadas, voam livres sem obedecer a regras. 
Livro distribuído gratuitamente nas escolas públicas !!!


 Ótimo Trecho do Livro


 “Um Olhar Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via não era uma garça na beira do rio. o que ela via era um rio na beira de uma garça. Ela despraticava as normas. Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste. Com ela as coisas tinham que mudar de comportamento. Aliás, a moça me contou uma vez que tinha encontros diários com as suas contradições. Acho que essa frequência nos desencontros ajudava o seu ver oblíquo.”
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Memórias inventadas: a segunda infância, de Manoel de Barros




























Dezessete textos compõem esta obra de Manoel de Barros, 
Memórias inventadas: a segunda infância, que une a poesia do mato-grossense com ilustrações de sua filha, Martha Barros. 
 

Tudo que não invento é falso”. Com esse paradoxo, Manoel de Barros inicia este livro que são fragmentos de lembranças livres em um tempo aparentemente invisível. Cada trecho é diagramado em páginas soltas e podem ser lidos em qualquer ordem, sem nenhum tipo de linearidade. Afinal, a imaginação do autor não possui regras determinadas.

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Conforme se passeia pelas páginas, percebe-se o tom poético de Manoel. O autor se preocupa com cada palavra, esculpindo um texto que tem como preocupação primordial a busca pela beleza.  

Na introdução do livro, intitulada “Manoel por Manoel”, o escritor diz ter saudade do que não foi. Diz, ainda, que não teve uma infância peralta como gostaria. Agora, brinca livremente com as palavras e acredita que “desfazer o normal, há de ser uma norma”.

Manoel de Barros busca a essência existente por trás da palavra. Para ele, mais do que o significado literal, as palavras têm o poder de simplesmente encantar, sem a necessidade de possuir uma função definida. O indizível, aqui, é mais valorizado que uma frase que informa sem emocionar. As palavras, nas memórias inventadas, voam livres sem obedecer a regras que, por fim, podem assassinar seu encanto.

Apesar de valorizar e celebrar o abstrato, Manoel de Barros demonstra consciência e opinião clara sobre atitudes que compõem a realidade. “Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas eu sei menos”, afirma no texto “Desprezado”.

Já em “Sobre importâncias”, o autor relativiza o valor das coisas. Para Manoel, a importância só pode ser medida pelo encantamento que ela produz em cada pessoa. Como um grande empresário poderia concordar com a afirmação “Uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building”? Manoel de Barros corre na contramão de quem pensa no prazer de possuir e esquece o encanto das coisas simples. As palavras em desordem, dessa forma, ajudam o leitor a perceber que, na realidade, a imaginação é a coisa menos falsa que o homem já inventou.

Com leveza, inocência e simplicidade, o autor tece suas memórias infantis, sem mostrar a angústia de “bons tempos aqueles, hein?!”; ao contrário, parece ter prazer no que faz. E prazer tem o leitor, ao encontrar lá relatos/lembranças da empregada que o ensinou-lhe o sexo aos quinze anos; ou a lacraia descarrilada (meninos separaram os “gomos” de uma lacraia, como se se tratasse de um trem); ou de quando o léxico de um menino não tem mais que oito palavras.

Embora seja “prosa”, esse livro de Manoel de Barros traz momentos de pura poesia como a tentativa de desenhar uma manhã e cometer um desenho erótico, com a manhã de pernas abertas para o sol; ou nos trechos (a seguir, entre aspas, transcritos diretamente da obra): “eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas eu sei menos”; “os verbos servem para emendar os nomes [...] bentevi cuspiu no chão. O verbo cuspiu emendava o bentevi com o chão”; “que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”.

Mais que prosa, poesia, música ou qualquer outro rótulo que se possa aplicar ao trabalho de Manoel de Barros, está neste livro a linguagem perfeita, mesmo que não tenha sido esta sua intenção. No livro: “quisera uma linguagem que obedecesse a desordem das falas infantis do que as ordens gramaticais [...] desfazer o normal há de ser uma norma”.

Trecho do livro

"Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim, por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos. Ou tem hora que eu sou quando uma pedra. E sendo uma pedra eu posso conviver com os lagartos e os musgos. Assim: tem hora eu sou quando um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a gente inventava nas tardes. Hoje eu estou quando infante. Eu resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como quem aprecia de ir às origens de uma coisa ou de um ser. Então agora eu estou quando infante. Agora nossos irmãos, nosso pai, nossa mãe e todos moramos no rancho de palha perto de uma aguada. O rancho não tinha frente nem fundo. O mato chegava perto, quase roçava nas palhas. A mãe cozinhava, lavava e costurava para nós." Fontes: A Folha de Londrina | Faculdade Cásper Líbero 
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/m/memorias_inventadas_a_2_infancia



















RESENHA ACERCA DO LIVRO DE AMÓS OZ, REPENTE, NAS PROFUNDEZAS DO BOSQUE










Sobre preconceito e intolerância

Por Claudio Rodrigues especial para a biblioo
Começo pelo fim. O último parágrafo de De repente, nas profundezas do bosque, do israelense Amós Oz, é também uma única palavra: Amanhã. Ou seja, o fim da história não existe; o que existe é o fim do livro. O autor nos projeta, desse modo, para o que há de vir, o devir. E nos convida a refletir questões muito caras à vida em sociedade, como a intolerância para com o diferente.
O conto ou novela é apresentado pelo autor como uma fábula para todas as idades, embora aqui no Brasil a editora o tenha colocado na prateleira dos juvenis. Uma fábula é um gênero textual que, embora muito apreciado pelas crianças, tem sua origem na tradição oral com o objetivo de transmitir uma moral aos jovens. Era por meio das fábulas que os anciãos depositavam nos jovens das aldeias todo o seu ensinamento sobre moral, ética, justiça… uma forma carinhosa de dizer: “Ei, preste atenção no que você fez!”, “Olha, você agiu desse modo e isso significa…”. O tempo das fábulas é o passado definido como o tempo em que os animais falavam. Eles, os bichos, são os protagonistas dessas narrativas, agindo e pensando como os humanos. Para ser fábula, portanto, é necessária a presença dos bichos. E é imprescindível a apresentação de uma lição de moral.
Amós Oz elabora uma singela narrativa em que conta o insólito cotidiano de uma aldeia cujos moradores vivem uma maldição. Ali não há um bicho sequer: aves, peixes, bichos de estimação, vermes, insetos… todos se foram há muito tempo, para longe, nas montanhas, levados pelo demônio Nahim. As crianças da aldeia nunca viram um animal, só sabem que eles existem pelos desenhos que a professora Emanuela (sempre os professores) lhes apresenta; ou por conversas entrecortadas que ouvem aqui e acolá entre os adultos. Falar em bichos é trazer para os moradores a lembrança da maldição. E ninguém, absolutamente ninguém, se aventura a entrar na densa floresta para averiguar qualquer coisa. Ninguém, absolutamente ninguém, pode perguntar sobre o que aconteceu. Até que ponto é justo e honesto não dar explicações sobre o que de fato aconteceu? Até que ponto esconder o fato é poupar as crianças?

O insólito apresenta-se numa linguagem delicada e poética

A linguagem delicada de Amós Oz, com suas minuciosas e poéticas descrições de lugares e personagens, parece uma pintura, uma insólita pintura: “Das profundezas dos bosques, do coração dos bosques emaranhados que cercavam a aldeia por todos os lados, de manhã até a noite soprava um cheiro estranho de escuridão. E até mesmo nos meses de verão chegava dos bosques um tipo de penumbra de inverso. E o rio, efervescente, borbulhante, se contorcia entre os pátios e se arrastava até o vale, correndo furioso no declive com uma espuma branca nas suas margens, como se corresse com toda a força para fugir para bem longe, e mesmo assim ele se detinha por um momento para amaldiçoar em seu curso toda a aldeia” (p. 38). A força dessa descrição, em que os elementos da natureza são personificados e também emanam a maldição, revela o tom sombrio da fábula.
Três crianças resolvem tirar a história a limpo. Uma delas, o menino Nimi, é malvisto na escola e no vilarejo por ser diferente, e também porque acredita no que a professora diz. Os outros dois amigos, a menina Maia e o menino Mati, guardam um segredo que pode mudar tudo na aldeia. Alguns adultos mantêm um comportamento estranho aos olhos da aldeia: a mãe de Maia, a padeira viúva, tem o hábito de espalhar farelo de pão no rio e ao pé das árvores para aves que nunca vêm comer; ou o velho Guinom, que anda carregado num carro de bebê, de fraldas, e balindo feito um cabrito; ou Almon, o pescador, que tem saudade até do barulho dos cupins roendo a noite, conversa sozinho ou com o espantalho que não espanta pássaro nenhum.

Investigando outros aspectos além da narrativa

Como um detetive, gosto de investigar o livro além da narrativa. Faço isso sempre que pego um novo livro. Olhar a capa e quarta páginas, me deliciando com o projeto gráfico, é a primeira coisa que faço. Depois, observo a orelha, quando o livro a tem. Este de Oz não tem orelhas. Observo o verso da página de rosto que me informa coisas como quem ilustrou a capa, quem diagramou, quem traduziu, etc. É aí que observo uma mensagem, aparentemente inocente: “Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles não emitem opinião”. Ora, se o autor denominou seu texto de fábula, por que a necessidade dessa advertência? E aqui surge o paradoxo: ser real apenas no universo da ficção, que é fingimento. Não são pessoas de carne e osso e sim de papel e tinta que nos falam aí. E nos falam, no seu silêncio. E nos instigam, na sua não-realidade. E nos confrontam quando nos colocam a par dos seus medos, das suas incertezas. E nos fazem correr os olhos a nossa volta para ver melhor se também nós não estamos omissos pelos erros dos outros.
Amós Oz, o autor israelense mais conhecido da atualidade, sabe como ninguém retratar as questões conflitantes da humanidade. Professor de literatura em Israel, publicou mais de 18 livros, a maioria de ficção, sendo traduzido para inúmeras línguas. Nascido num campo de refugiados, e tendo enfrentado o preconceito anti-semita, o autor faz de sua ficção um convite à reflexão sobre o quanto somos diferentes culturalmente, e iguais humanamente.
A última palavra dessa fábula moderna é “amanhã”. Um amanhã que tem ânsia de ser futuro, mas futuro bem próximo.

De repente, nas profundezas do bosque, Amós Oz
A FÁBULA COMO ARMA




Num mundo de hoje, ainda cabe fábula para adulto. Em De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz (1939-), percebe-se, pela linguagem, que o pequeno livro mostra um autor preocupado com a forma. O que distingue logo esta fábula de outras para crianças é a escritura. O livro não faz concessões à linguagem tatibitate de outros livros infantis.
Escrito de forma vigorosa, em que palavras se repetem de maneira variada em frases longas, Oz trabalha tanto com o imaginário infantil quanto com o imaginário adulto. Talvez fosse melhor dizer que opera com o mesmo imaginário ancestral e arquetípico. E as preocupações do autor, oriundo de uma zona em permanente conflito como é o Oriente Médio, não podem se dar ao luxo de não serem interpretadas como discussão sobre o problema palestino.
De repente, nas profundezas do bosque conta a história do desaparecimento de todos os bichos da aldeia: cachorros, gatos, pássaros, cobras, lagartos, bichos rastejantes, bichos voadores, bichos domésticos, bichos de cria, bichos da água, tudo havia desaparecido. Os bichos foram levados por aquele que as pessoas da aldeia acreditavam fosse o demônio das montanhas: Nihi.
Ninguém mostrava às crianças que eles um dia pudessem ter existido. As crianças supunham que o mundo era composto apenas de seres humanos e que as possíveis histórias de bichos eram invenção de uns poucos adultos perturbados da cabeça. Alguns, como a professora Emanuela, que contava histórias sobre como latiam os cachorros, eram motivo de chacota e desprezo. Os adultos, quando inquiridos pelas crianças, tratavam do desaparecimento dos animais como tabu. Desconversavam, negavam, não queriam falar sobre o assunto.
Mas, dois personagens infantis, Maia e Mati, adentram o bosque vizinho, e lá descobrem que os animais foram seqüestrados por Nihi, que não passa de um menino que resgatou os animais contra a fúria e a zombaria dos adultos. De repente, nas profundezas do bosque é uma fábula contra o preconceito e a intolerância. O alvo maior é o entendimento e a aceitação do Outro. A passagem em que as metáforas perdem sua força e dão lugar às explicações para o significado da fábula talvez seja o momento do livro menos forte, já que a fábula significaria por si mesma, sem necessidade de uma “moral” ao fim do livro.
Amós Oz, que declarou ter tido a ajuda dos netos ao contar-lhe a fábula antes de escrevê-la, é um escritor israelense que luta por uma solução pacífica ao problema palestino. Uma solução, como ele mesmo declarou numa entrevista, “de fundo chekhoviana para o conflito, antes que uma solução shakesperiana, pois nas tragédias de Shakespeare quase todos morrem, enquanto nas tragédias de Chekhov, todos acabam desapontados, desiludidos, mas vivos”.
Autor de literatura para adultos, talvez o principal escritor israelense vivo, traduzido para trinta idiomas, com dezoito livros escritos, Amós Oz é o co-fundador do movimento pacifista Peace Now. Esse escritor que também é professor da Universidade Ben Gurion, morando em Arad, no deserto de Negev, já chegou a dizer, num dos seus livros (De amor e trevas), que, quando criança, tinha medo de ficar adulto, pois para ele ficar adulto representava a morte. Com todo esse passado e toda essa moldura política, Amós Oz não precisava explicar suas metáforas, já por si significativas. Lewis Carroll, por exemplo, autor de dois públicos, o infantil e o adulto, não fez concessão nem à inteligência das crianças nem à argúcia dos leitores adultos.
Por fim, há uma clara divisão entre o reino animal e os humanos. As pessoas, sem os animais, se tornam tristes e desoladas e negam a existência deles para as gerações posteriores. Apesar de tudo, persiste uma lembrança de um reino de complementariedade: os animais como parte de um complexo maior que é a vida. Lida como fábula ecológica – o que não exclui a leitura política –, De repente, nas profundezas do bosque é a metáfora maior do reino animal do qual o homem é somente mais um elemento. Logo, excluir os animais é correr o risco da extinção do próprio homem.
(http://ronaldocostafernandes.blogspot.com.br/2011/07/de-repente-nas-profundezas-do-bosque.html)



FINALIZANDO...



A postura dos moradores do vilarejo em relação aos acontecimentos aparentemente estranhos, fez com que eles desenvolvessem medo e receio do novo, e quisessem distância como uma forma de autopreservação ou também medo de que pudesse acontecer mudanças, que não estavam preparados para lidar.
Para convencer a população do vilarejo, eu diria que o diferente não é ruim,pode ser bom e quem define o que é certo? Nada é certo,pois para nós certo é o que nos convém e nos agrada por isso ser diferentes é que é ser certo.