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Análise de Os Lusíadas de Luis Vaz de Camões
Os Lusíadas (1572) canta a
glória de um povo centrada no período histórico dos descobrimentos. Dedicado a
D. Sebastião, tem como herói coletivo o povo português “... o peito ilustre
lusitano.”
O que é uma epopeia?
Palavra de origem Grega, epopeia significa canto e é uma narrativa,
geralmente em verso, que conta (canta) os feitos grandiosos de um herói, que
pode ser individual (Ulisses – em Odisseia - e Aquiles – em Ilíada, ambas de
Homero) ou coletivo (Os Portugueses – o povo português – em Os Lusíadas). Este
heróis ficam imortalizados através da narração dos seus sucessos gloriosos.
OBS:
Os eventos exigem um agente e, tratando-se de eventos excepcionais, o
agente deverá ser igualmente um ser de exceção, um ser que, pela sua origem,
pelas suas características, se distancie, se imponha aos seus semelhantes
(herói), pouco importando que se trate de um indivíduo ou de uma coletividade (herói
individual ou herói coletivo). Na Ilíada e na Odisseia, escritas no século VI
a.C., o herói é individual: num caso, Aquiles; no outro, Ulisses. N' Os
Lusíadas o herói é, como o título indica, coletivo - o povo português. Já na
Eneida de Virgílio há certa ambiguidade: o herói parece ser individual, Eneias,
mas na realidade o objetivo do poema é exaltar o povo romano.
Necessidade de uma
epopeia portuguesa
Em Portugal, intensifica-se, no século XV, a necessidade de conhecimento
e domínio do espaço físico. Desenvolveu-se, então, um espírito de ousadia que
levou a uma abertura de mentalidades – Humanismo – e uma consequente percepção
mais rigorosa do mundo a nível físico, científico e econômico.
Decorrente deste espírito humanista – aberto, crítico, de valorização do
real e do saber - surge a necessidade de reler os escritores greco-latinos (os
clássicos) para compreender o seu conteúdo ideológico, psicológico e científico
em oposição às crenças religiosas que dominavam o pensamento anterior ao
humanismo. A este movimento que reclama os ideais clássicos dá-se o nome de
Renascimento. O Renascimento tem como origem o desejo de retomar os valores e
modelos da Antiguidade Clássica. Outro fator que contribuiu para uma mudança
cultural foi a expansão ultramarina. Através dos Descobrimentos, surgiu ao
Homem um novo mundo, repleto de saber, experiência e observação, que permitiu o
desenvolvimento do espírito crítico. Assim, houve uma conjugação de aspectos
que permitiram que o Homem se tornasse o centro do Universo, exaltando as suas
capacidades e a sua força física e mental.
Os feitos Portugueses eram a demonstração evidente da força humana, do
domínio da inteligência do Homem sobre os elementos da natureza. O orgulho
português estava no seu auge. Havia, então, a necessidade de uma obra que
cantasse esses feitos.
Luís de Camões viveu numa época em que Portugal gozou o seu ponto mais
alto de domínio do mundo, devido aos Descobrimentos. Esta vivência serviu-lhe
de estímulo (histórico) que, aliado ao renascimento cultural, lhe deu a
conhecer as epopeias clássicas, originando então a criação de uma epopeia
nacional.
Os Lusíadas acabam, então, por surgir com um duplo objetivo: exaltar os
feitos Portugueses (ideal cavaleiresco) e enobrecer a Língua Portuguesa.
Estrutura de Os
Lusíadas
Estrutura externa
Os Lusíadas estão divididos em dez cantos, cada um deles com um número
variável de estrofes, que, no total, somam 1102. Essas estrofes são todas
oitavas (têm oito versos) decassílabicas (cada verso tem dez sílabas métricas),
obedecendo ao esquema rimático “abababcc” (rima cruzada, nos seis primeiros
versos, e emparelhada, nos dois últimos).
Estrutura interna
Camões respeitou com bastante fidelidade a estrutura clássica da
epopeia. A obra é constituída por quatro
partes:
Proposição — O poeta começa por
declarar aquilo que se propõe fazer, indicando de forma sucinta o assunto da
sua narrativa; propõe-se, afinal, tornar conhecidos os navegadores que tornaram
possível o império português no oriente, os reis que promoveram a expansão da
Fé e do Império, bem como todos aqueles que se tornam dignos de admiração pelos
seus feitos (Canto I, estâncias 1-3).
Invocação — O poeta dirige-se
às Tágides (ninfas do Tejo), para lhes pedir o estilo e eloquência necessários
à execução da sua obra; um assunto tão grandioso exigia um estilo elevado, uma
eloquência superior; daí a necessidade de solicitar o auxílio das entidades
protectoras dos artistas (Canto I, estâncias 4 e 5).
Dedicatória — É a parte em que o
poeta oferece a sua obra ao rei D. Sebastião (Canto I, estâncias 6-18).
Narração — O poeta canta os
feitos dos Portugueses, tendo como acção central a viagem de Vasco da Gama à
Índia. A par desta, surge a narração da História de Portugal. A narração
constitui o núcleo fundamental da epopeia. Aqui, o poeta procura concretizar
aquilo que se propôs fazer na “proposição”. Surge “in media res”, ou seja, já
na viagem (característica da epopeia clássica).
A narração desenvolve-se em quatro
planos diferentes, mas estreitamente articulados entre si:
1. Plano da viagem — A ação central do
poema é a viagem de Vasco da Gama. Luís de Camões percebeu a importância
histórica desse acontecimento, devido às alterações que provocou, tanto em
Portugal, como na Europa. “Por mares nunca
dantes navegados”
2. Plano da História
de Portugal – O objetivo de Camões era enaltecer o povo português e não apenas um
ou alguns dos seus representantes mais ilustres. Tinha, por isso, que
introduzir na narrativa todas aquelas figuras e acontecimentos que, no seu
conjunto, afirmavam o valor dos Portugueses ao longo dos tempos. “Daqueles Reis que foram dilatando”
NOTA: O poeta utilizou,
então, alguns artifícios para contar a História de Portugal:
a) Narrativa de Vasco da Gama ao rei de
Melinde
O rei recebe Vasco da Gama e procura saber quem é ele e donde vem. Para
lhe responder, Vasco da Gama localiza o reino de Portugal na Europa e conta-lhe
a História de Portugal até ao reinado de D. Manuel. Ao chegar a este ponto,
conta inclusivamente a sua própria viagem desde a saída de Lisboa até chegarem
ao Oceano Índico, visto que a narrativa principal se iniciara “in media res”,
isto é, quando a armada já se encontrava em frente às costas de Moçambique.
b) Narrativa de Paulo da Gama ao Catual
Em Calecut, uma personalidade hindu (Catual) visita o navio de Paulo da
Gama, que se encontra enfeitado com bandeiras alusivas a figuras históricas
portuguesas. O visitante pergunta-lhe o significado daquelas bandeiras, o que
dá a Paulo da Gama o pretexto para narrar vários episódios da História de
Portugal.
c) Profecias
Os acontecimentos posteriores à viagem de Vasco da Gama não podiam ser
introduzidos na narrativa como fatos históricos. Para isso, Camões recorreu a
profecias colocadas na boca de Júpiter, Adamastor e Tétis, principalmente.
3. Plano Mitológico,
dos Deuses ou Maravilhoso (conflito entre os deuses pagãos)
Camões imaginou um conflito entre os deuses pagãos: Baco opõe-se à
chegada dos Portugueses à Índia, pois receia que o seu prestígio seja colocado
em segundo plano pela glória dos Portugueses, enquanto Venus, apoiada por
Marte, os protege. O maravilhoso tem uma função simbólica: esta intriga dos
deuses reflete indiretamente as dificuldades que os Portugueses tiveram que
vencer e inculca a ideia de que os portugueses eram seres predestinados para
estas façanhas do destino e que os próprios deuses o desejavam.
A mitologia permite a evolução da ação (os deuses assumem-se como
adjuvantes ou como oponentes dos portugueses) e constitui, por isso, a intriga
da obra. “A
quem Neptuno e Marte sempre obedeceram”
Júpiter Deus do Céu e da Terra, pai dos deuses e
dos homens.
Netuno Deus do mar.
Venus Deusa do amor e da beleza.
Baco Deus
do vinho e do Oriente.
Apolo
Deus do Sol, das artes e das letras.
Marte Deus da Guerra, velho apaixonado de Vênus.
Mercúrio Mensageiro dos
deuses.
4. Plano das
considerações do poeta
Por vezes, normalmente em final de canto, a narração é interrompida para
o poeta apresentar reflexões de caráter pessoal sobre assuntos diversos, a propósito
dos fatos narrados. “Cantando espalharei por toda
a parte”
≈ Breve apontamento
sobre os episódios
1. Proposição (Canto
I – estâncias 1-3)
O poeta apresenta o assunto do poema: vai cantar as façanhas guerreiras
dos homens que se fizeram heróis devassando o mar, dos reis que dilataram a Fé
e o Império e de todos aqueles que se tornaram imortais pelas suas obras.
Afirma também que vai cantar a glória do povo português. O poeta acrescenta
ainda que os feitos portugueses são mais grandiosos do que aqueles cantados nas
epopeias clássicas, logo, merecem ser exaltados.
“As armas e os barões assinalados/ (...) as memórias gloriosas/ Daqueles
Reis (...)/ (...) E aqueles (...)/ Se vão da lei da Morte libertando:/ Cantando
espalharei por toda parte,/ (...) Que eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem
Netuno e Marte obedeceram.”
Neste excerto, encontram-se todos os agentes do engrandecimento da
Pátria que o poeta vai cantar. Todos eles são sintetizados na força do povo
português “...o peito ilustre Lusitano/”, a quem Netuno (venceram os mares) e
Marte (conquistaram as terras através da guerra) obedeceram. O povo português é
tão sublime, tão digno que glória, determinado e corajoso, que até os deuses
lhe obedecem.
Notar o uso da
conjugação perifrástica,
- foram dilatando;
- andaram devastando;
- se vão libertando;
que exprime o aspecto durativo, apresentando a ação no seu fluir. São
expressões que conferem visualidade e impressionismo à linguagem e sugerem
também que esses feitos heroicos são um trabalho aturado e persistente.
2. Concílio dos
Deuses (Canto I – estâncias 20-41, plano mitológico)
- Enquanto a armada portuguesa navega no oceano, dá-se uma
simultaneidade de dois planos.
- Os deuses são convocados por Mercúrio (o seu mensageiro) e dirigem-se
ao Olimpo para decidirem sobre o futuro dos Portugueses no Oriente.
- Na estância 22, temos uma descrição de Júpiter (o pai dos deuses),
através da qual vemos o seu destaque, a sua responsabilidade e o seu poder.
- Discurso de Júpiter: o pai dos deuses afirma que o Fado (destino)
tornará os portugueses superiores aos povos da antiguidade clássica. Enuncia
heróis do passado e refere a presente ousadia e persistência portuguesas na
demanda de vencer os mares. A sua opinião é que se deve cumprir o Fado, os
portugueses devem conseguir chegar à Índia.
- Os outros deuses vão intervindo, dando as suas opiniões: Baco
manifesta-se contra, com receio de perder a sua fama; Vênus pronuncia-se a
favor, por gostar dos portugueses, dada a sua semelhança com os romanos; Marte
intervém a favor de Vênus, interpelando Júpiter para cumprir com a sua
determinação.
- Júpiter concorda com Marte, pelo que fica decidido que os Portugueses
serão ajudados a chegar à Índia. (de notar a intenção de Camões: os portugueses
são tão valorosos que até os Deuses estão a seu favor)
“Do mar que vê do Sol a roxa entrada/” – Perífrase para Oceano Índico,
Oriente.
3. Inês de Castro
(Canto III – estâncias 118-137, plano da História de Portugal)
- episódio trágico e lírico
Trágico Lírico
Contempla momentos da tragédia clássica:
O narrador interpela o
Amor acusando-o de ser responsável pela tragédia, sendo a inconformidade do
“eu” poético expressa ao longo de todo o episódio, bem como a repulsa pela
morte de Inês, chorada até pela natureza.
- a paixão entre Pedro e Inês é um desafio ao poder.
- a punição, a decisão de matar Inês.
- a piedade, presente no discurso de Inês quando tenta demover o rei.
- a catástrofe, quando se consuma a morte de Inês.
- Vasco da Gama relata ao rei de Melinde o episódio trágico de Inês de
Castro, cujo responsável é o Amor.
- Descreve-se a vida feliz e tranquila de Inês nos campos do Mondego. O
narrador, neste momento, vai introduzindo indícios de que essa felicidade não
será duradoira “Naquele engano de alma, ledo e cego” (est. 120, v.3).
- Condenação de Inês – D. Afonso IV decide a morte de Inês, no entanto,
tendo-a na sua presença, vacila, mas as razões do reino levam-no a prosseguir.
- Discurso de Inês – Inês inicia a sua defesa, apelando à piedade do rei
através: dos animais que se humanizam ao cuidar de crianças; da afirmação da
sua inocência; do respeito devido às crianças; do apelo ao desterro.
- Sentença e execução da morte – A determinação do rei mantém-se. Inês é
executada.
- Considerações do narrador – vê a morte de Inês como uma atrocidade.
Afirma que a própria natureza chora Inês.
- Vingança de D. Pedro – D. Pedro, quando sobe ao trono, manda matar os
carrascos de Inês.
“Tu, só tu, puro Amor,...” – Apóstrofe
Amor – divindade sedutora – prazer e felicidade vs. tragédia, dor e
sofrimento.
Sentimento
antitético. Provoca sentimentos contrários, opostos.
“... puro Amor, com força crua,/ (...) fero Amor,(...)/ (...) áspero e
tirano,/ Tuas aras banhar em sangue humano.” Antítese do amor – o amor é
puro, mas age com força crua, é cruel, tirano, e causador das maiores
desgraças.
“Do teu príncipe ali te respondiam/ As lembranças que na alma lhe
moravam,/ Que sempre antes seus olhos te traziam,/ Quando dos teus fermosos se
apartavam;” –Hipérbato
De notar a impressionista animização da natureza, que chora a morte de
Inês “As filhas do Mondego a morte escura/ Longo tempo chorando memoraram,/” - Animismo
4. Batalha de Aljubarrota (Canto IV, estâncias 28 a 45, plano da
História de Portugal)
- O sinal da trompeta (est. 28).
- Descrição da batalha; D. Nuno Álvares Pereira defronta os seus irmãos
que lutam por Castela, o que leva a uma reflexão sobre traição (est. 32 e 33) –
põe em evidência a lealdade e o patriotismo e confere maior dramatismo à
descrição, realçando a figura de Nuno Álvares (objetivo de Camões).
- Discurso de D. João I, incitando ao combate. O ânimo dos soldados
cresce e os chefes castelhanos começam a perecer “A sublime bandeira
Castelhana/ Foi derribada aos pés da Lusitana” (est. 41) – “sublime” – respeito
por Castela, pelo seu povo, mas não pelo seu rei.
- O final da batalha: os vencedores - D. João festeja a vitória; os
vencidos – os castelhanos deixam de oferecer resistência, uns morrem, outros
fogem (incluindo o próprio rei). “Já pelo espesso ar os estridentes/ Farpões,
setas e vários tiros voam;” – Aliteração
– em –s e –r, simula o som ríspido e rude da guerra.
5. Despedidas de
Belém (Canto IV, estâncias 83 a 89, plano da Viagem)
Os que partem – referência ao estímulo dado pelo rei aos marinheiros;
Vasco da Gama refere o entusiasmo de marinheiros e soldados nesta demanda;
orações de despedida.
Os que ficam – A gente da cidade deixa transparecer saudade e tristeza;
os mais chegados revelam a sua tristeza (os homens com “suspiros”; as mulheres,
as mães, as esposas e as irmãs “cum choro piadoso”).
“De ser do Olimpo estrelas,.../” – Metáfora para tornarem-se imortais.
Grandeza épica – os navegadores tinham consciência do perigo mas, mesmo
assim, enfrentaram os obstáculos. A verdadeira coragem só aparece perante o
medo (mais uma vez, a exaltação do povo português)
6. Adamastor (Canto
V, estâncias 39 a 60, plano mitológico)
- O Adamastor é um dos episódios mais significativos da obra, pela
inter-relação dos planos da narração e pela sua simbologia. Pertence ao plano
da Viagem – “aquele oculto e grande Cabo” -, como figura mitológica, pertence
ao plano mitológico e faz profecias dos acontecimentos futuros de Portugal,
logo, pertence também ao plano da História de Portugal.
- Simbolicamente, este episódio representa os perigos do mar, perigos
esses que os portugueses enfrentaram e ultrapassaram, assemelhando-se, pela grandeza,
ao próprio gigante. Esse episódio, por isso mesmo, adquire uma dimensão épica.
- Aparecimento e descrição do Adamastor – figura gigantesca que surge no
mar numa atitude ameaçadora, deixando os marinheiros completamente paralisados
“Arrepiam-se as carnes e o cabelo, / A mi e a todos, só de ouvi-lo e
vê-lo!”(est. 49, vv. 7 e 8).
- As profecias: Adamastor começa o seu discurso elogiando os
Portugueses. Depois, profetiza dificuldades futuras na passagem do Cabo.
- A história do Adamastor: era um dos filhos do Céu e da Terra;
confrontou-se com Júpiter e Netuno; apaixona-se por Tétis, filha de Nereu e
Dóris; Dóris promete interceder, dadas as ameaças de Adamastor em conquistar
Tétis pelas armas; Tétis aparece e surge a decepção do gigante quando se vê
abraçado a um rochedo, pensando que abraçava a amada; transformação de
Adamastor em penedo como castigo de Júpiter que venceu os gigantes.
- O Adamastor desaparece, chorando, emocionado com a sua triste sorte –
símbolo do domínio dos mares por parte dos portugueses.
Adamastor Corpo de super-homem
contrasta com
Fragilidade
psicológica de um herói enganado – frustração amorosa.
7. A tempestade e a
chegada à Índia (Canto VI, estâncias 70-93, plano da Viagem)
- Aproximação da tempestade.
- Descrição da tempestade: do interior e do exterior.
- Súplica de Vasco da Gama: Vasco da Gama dirige-se à “Divina Guarda”
pedindo clemência e argumentando que aquela é uma viagem ao serviço de Deus “Se
este nosso trabalho não Te ofende,/ Mas antes Teu serviço só pretende?” (est.
82, vv.7 e 8)
- Continuação da descrição da tempestade.
- Intercessão de Vênus – Vênus manda as Ninfas enfeitarem-se e irem ao
encontro dos ventos que, perante a sua beleza, logo desfalecem “À vista delas,
logo lhe falecem/ As forças com que dantes pelejaram” (est. 88, vv.1 a 3) –
simbologia.
- Pela manhã, avistam a Índia. Vasco da Gama agradece a Deus.
≈ Estilo de Luís de Camões
Na Invocação, Camões pede às Tágides um estilo grandioso e um “som alto
e sublimado”. Como o conseguiu? (ver pp. 238 e 239 do manual)
Através de aliterações, anáforas, antíteses, apóstrofes, comparações,
eufemismos, enumerações, hipérboles, hipérbatos, metáforas, perífrases,
personificações, pleonasmos, do uso invulgar da conjugação perifrástica, do
verbo e do adjetivo.
ALITERAÇÃO - Repetição de um ou mais sons consonânticos para
intensificar e aumentar a expressividade "Sois senhor superno" (I,
10).
ANÁFORA - Repetição (de que
resulta sobressair o que se repete) de uma palavra ou de um membro de frase
"Vistes que, com grandíssima ousadia/ Vistes aquela insana fantasia/
Vistes, e ainda vemos cada dia," (VI, 29).
ANTÍTESE - Confronto de dois
elementos ou ideias antagónicas, no intuito de reforçar a mensagem:
"Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou
frio."
APÓSTROFE - Apelo do autor, através
de interrupções, invocando pessoas ausentes, coisas ou ideias sob forma
exclamativa "E tu, nobre Lisboa, que no mundo..." (III, 57).
COMPARAÇÃO - Aproximação entre
dois termos ou expressões através de uma partícula comparativa (como), levando
à compreensão mais profunda do primeiro termo "Qual aos gritos…// Tal do
rei…" (III, 47-48).
EUFEMISMO - Expressão que
atenua ou modifica o sentido violento, mau ou desonesto da narrativa
"Tirar Inês ao mundo determina," (III, 23).
HIPÉRBATO - Inversão violenta
da posição dos membros de uma frase:
Ex.: "...os duros/Casos que Adamastor contou, futuros" (V,
60).
HIPÉRBOLE - Exagero de
qualquer realidade para a tornar mais saliente, exagero este que serve para
ferir o pensamento quando tomada à letra "Que a vivos medo, e a mortos faz
espanto,".
IRONIA - Exprime o
contrário do que as palavras ou frases significam, para que se compreenda ou a
estupidez ou a fraqueza que se pretende castigar após se verificar a
discordância:
Ex.: "Oulá, Veloso amigo, aquele outeiro (...)
Por me lembrar que estáveis
cá sem mim;" (V, 35).
METÁFORA - Consiste em
designar um objecto ou ideia por uma palavra que convém a outro objecto ou
outra ideia - ligados aqueles por uma analogia. A metáfora é num único, os dois
termos da comparação sem a partícula comparativa (como) "Tomai as rédeas
vós do reino vosso:" (I, 15).
ONOMATOPEIA - Representação
auditiva ou visual pelos sons das palavras, além do respectivo sentido:
tentativa de imitação dos ruídos naturais através dos fonemas da linguagem:
"Polas concavidades retumbando." (III, 107).
PERÍFRASE - Expressão por
diversas palavras daquilo que se poderia dizer mais concisamente ou apenas por
uma palavra "Pelo neto gentil do velho Atlante." (=Mercúrio) (I, 20).
PERSONIFICAÇÃO - Atribuição de
qualidades, atributos e impulsos humanos a seres inanimados e a animais
irracionais "Os altos promontórios o choraram," (III, 84).
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