domingo, 5 de junho de 2011

NINGUÉM PASSA IMPUNE POR CLARICE LISPECTOR... CONFIRME 3º ANO 2º BIMESTRE 2011



 

 

 

Clarice por Clarice 8 

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].” 



VÁ A ESTES LINKS. NÃO HÁ ARREPENDIMENTO... HÁ NELES UMA EXPLANAÇÃO ACERCA DA OBRA "A HORA DA ESTRELA" E DO ESTILO CLARICEANO.


LEIA A OBRA NA ÍNTEGRA "A HORA DA ESTRELA

"A Hora da Estrela" é, basicamente, o relato das fracas aventuras de uma moça
alagoana "numa cidade toda feita contra ela":_ o Rio de Janeiro.
Clarice Lispector usa o recurso de criar um narrador-personagem: à medida que
ele nos faz conhecer a protagonista, também conhece sua própria identidade.
Por que o narrador escreve? Para se compreender. "Enquanto eu tiver perguntas
para fazer e não houver resposta continuarei a escrever". Sua tarefa é "a procura
da palavra no escuro". Evita tratar da felicidade: ela "provoca aquela saudade
demasiada e lilás- (.) Eu não quero provocar porque dói."


"A Hora da Estrela’ apresenta dois núcleos de interesse a história de Macabéa
e as reflexões do narrador. E, pois, um romance do tipo digressivo em que as opiniões do narrador fazem parte do enredo As páginas iniciais são tomadas pelos
comentários dele sobre a própria narrativa, é um texto de metalinguagem, isto é,
muito preocupado com a investigação da natureza linguistica do próprio texto.
O narrador assume três formas de presença: monólogo fio condutor da ação;
relato puro e simples: palavras das personagens. 

Esse "livro tem duas características fundamentais: a originalidade do estilo e a profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente banais. A
linha condutora é a estória de um imigrante nordestino deslocado e perdido
na grande cidade do Rio de Janeiro. Através dessa personagem, descortina-se a pobreza  "feia e promíscua" e ao mesmo tempo a singeleza de vidas tão
pouco interessantes. A narrativa, cheia de digressões (que fazem lembrar o
estilo machadiano), vai além da descrição realista de um cotidiano inexpressivo
- questiona os valores da sociedade moderna, o papel social do artista
contemporâneo e a própria existência humana. A Hora da Estrela transita entre
o lado trágico e o lado esplêndido da vida, entre a fragilidade e a grandeza do
ser humano. O tema da solidão tem a função de dar destaque às desigualdades
sociais e ao enigma da vida, imprimindo novas perspectivas aos problemas e
indagações que nos cercam.
"








Clarice Lispector - Estilo.  

(Heitor Nogueira)

Clarice desenvolveu um estilo literário ímpar. Com livros marcados por singularidades e inovações lingüísticas, a escritora encabeça a lista dos que mais incorporaram traços inéditos à literatura nacional.

A ficção clariceana se concentra nas regiões mais profundas do inconsciente, ficando em segundo plano o meio externo, pois quase tudo se resume à mente das próprias personagens. Portanto, Lispector é o principal nome de uma tendência intimista em nossa literatura. O ser, o estar no mundo, o intimismo formavam o eixo principal de questionamentos tecidos em seus romances introspectivos. Não centra sua obra no social, no romance engajado, mas sim no indivíduo e suas mais íntimas aflições, reproduzindo pensamentos das personagens.

Artifício largamente utilizado por James Joyce, Proust e, sobretudo, Virgínia Woolf [indico ao lado livro da escritora inglesa], o fluxo da consciência marca indelevelmente a literatura de Clarice. Tal aspecto consiste em explorar a temática psicológica de modo tão profundo que o assunto nunca é completamente explorado, ou seja, as diversas possibilidades de análise psicológicas e a complexividade da temática contribuem para a inesgotabilidade do assunto.O fluxo da consciência indefine as fronteiras entre a voz do narrador e a das personagens, de modo que reminiscências, desejos, falas e ações se misturam na narrativa num jorro desarticulado, descontínuo que tem essa desordem representada por uma estrutura sintática caótica. Assim, o pensamento simplesmente flui livremente, pois as personagens não pensam de maneira ordenada, mas sim de maneira conturbada e desconexa. Portanto, é a espontaneidade da representação do pensamento das personagens que caracteriza o caos de tal marca literária.

O monólogo interior é outro artifício utilizado por Clarice que contribui para a construção da atmosfera introspectiva. Essa técnica consiste em reproduzir o pensamento da personagem que se dirige a si mesmo, ou seja, é como se o “eu” falasse pra si próprio. Registra-se, portanto, o mergulho no mundo interior da personagem que revela suas próprias emoções, devaneios, impressões, dúvidas, enfim, sua verdade interior diante do contexto que lhe é posto.

Muitos críticos afirmam que Clarice Lispector é a pioneira no emprego da epifania na prosa brasileira. “No sentido literário, a "epifania" é um momento privilegiado de revelação, quando acontece um evento ou incidente que "ilumina" a vida da personagem.” Assim, pode-se dizer que nos textos de Lispector, o objetivo maior é o momento da epifania: por meio de uma espécie de revelação (o que se dá por meio de um fato inusitado), a personagem descobre que vive num mundo absurdo, causando um desequilíbrio interior que, por sua vez, provocará uma mudança radical na vida da personagem.

É também peculiaridade da autora a construção de frases inconclusas e outros desvios da sintaxe convencional, além da criação de alguns neologismos. Clarice não adota o padrão da gramática normativa, pois tem na valorização da expressividade do texto a regra primordial de sua literatura. Assim, as frases não são feitas com o rigor gramatical e coerente, mas sim com o primor e o viço da expressão artística.

Enfim, podando os excessos e desconsiderando os modismos, Clarice figura entre os melhores escritores da Literatura Brasileira.



Clarice por Clarice 7

“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”. 

 A Perfeição O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

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