quarta-feira, 31 de outubro de 2012

EVENTO AVALIATIVO DE LITERATURA - 1º ANOS - 4º BMESTRE DE 2012


Escola Estadual João Cruz
Evento avaliativo de Língua Portuguesa/Literatura
Jacareí,    novembro de 2012
Professora: Maria Piedade Teodoro da Silva
Nome:                                                                                                                nº       1º ano

Leia.

A literatura, como temos conversado, ao longo da história das civilizações, tem desempenhado papéis dos quais não se pode prescindir. Um deles, talvez o mais universal, é o tratamento das condições do estar no mundo, ou seja, o que faz de cada um o que ele é, seus sentimentos, seus pensamentos,  seus desejos, seus sonhos em diálogo com a realidade.
Outra dimensão importante da literatura é percebida na representação das coletividades e das sociedades. Por meio da produção literária de uma época, pode-se conhecer o contexto histórico e cultural dessa época. Nessa perspectiva, a literatura testemunha a passagem do tempo e possibilita conhecer o passado, a percepção dos que viveram em outros tempos e os acontecimentos que marcaram a vida de nossos antepassados. Por último, sendo criação do  espírito humano, a literatura busca na linguagem verbal mecanismos para construir o sentido e para estimular a imaginação do leitor, ou até para subverter a própria linguagem.

Atente às afirmações abaixo.

a.       A literatura trata do estar no mundo do ser humano.
b.      A literatura representa metaforicamente os grupos sociais, sua visão de mundo, sua ideologia.
c.       Cada movimento literário revela o contexto social de uma dada época.
d.      A literatura assiste ao passar do tempo, as experiências humanas louváveis e/ou não.
e.       A literatura, arte que explora a linguagem verbal (oral ou escrita) com intuito de recriar a realidade, surpreendendo, causando indignação no leitor.

1.      Quais estão corretas?
(A) Apenas “a”.
(B) Apenas “c”.
(C) Apenas “a” e “b”.
(D) Apenas “b” e “c”.
(E) Todas as assertivas.

Com base nessa informação inicial, as questões desta prova foram divididas em três conjuntos: o ser humano e seus sentimentos; as relações entre cultura e sociedade; e a construção do texto literário.

O SER HUMANO E SEUS SENTIMENTOS

2.      Leia os seguintes fragmentos de letras de canções, o primeiro extraído de Milonga de Sete Cidades, de Vitor Ramil, e o segundo de Noites do Sertão, de Milton Nascimento e Tavinho Moura.

Milonga de Sete Cidades (a Estética do Frio)


Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Milonga é feita solta no tempo
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Em Clareza
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
A voz de um milongueiro não morre
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Concisão tem pátios pequenos
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz (Vitor Ramil)

Noites do Sertão


Não se espante assim meu moço com a noite do meu sertão
Tem mais perigo que a poesia do que o julgo da razão
A tormenta gera história é tão vida quanto o sol
São cavalos beirando o rio, é o corpo da menina ofegante ali do lado
Ansiosa pelo tato do carinho arrebatado do calor da tua mão
Não se engane que o silêncio não existe no anoitecer
Fala mais vida que a cidade, tem mais lenda a oferecer
Não demore ela é donzela mas conhece outra mulher
Seu desejo e a madrugada só esperam teu carinho
Quando o ato terminado
Chegue perto da janela olhe fora e olhe dentro
A paisagem se molhou (Milton Nascimento e Tavinho)
I - Tanto em Milonga de Sete Cidades quanto em Noites do Sertão, um sentimento de melancolia é associado a lembranças que caracterizam as paisagens da infância dos autores, o pampa e o sertão, respectivamente.
II - Vitor Ramil faz uma apologia à frieza das cidades, que transforma seus habitantes em seres solitários; Milton Nascimento e Tavinho Moura, em contraste, acentuam a agitação noturna do sertão, permeada de tristes acontecimentos.
III - O ritmo dolente da milonga está relacionado às baixas temperaturas das cidades pampeanas; enquanto a noite perigosa do sertão remete a situações inusitadas, visto que "a tormenta gera história".

3.      Quais estão corretas?
(A) Apenas I.                        (D) Apenas II e III.
(B) Apenas II.                       (E) I, II e III.
(C) Apenas III.   


Leia os seguintes textos, o primeiro, um soneto de Luís Vaz de Camões, e o segundo, a letra da canção Me Acalmo, Me Desespero, de Cazuza.

Soneto de Camões

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora. (Luiz Vaz de Camões)

Me Acalmo Me Desespero


O amor deflagra guerras
No coração de quem ama
Um bandido sórdido
Uma menina linda
O amor lança seu ferrão
No desamparo dos amantes
É um inseto louco em volta da luz
Um lobo solitário uivando na escuridão
Do amor pouco sei
E quase tudo espero
Amando eu me acalmo e me desespero
O amor faz da minha voz
Um gemido surdo
De mim um escravo lanhado
Um tigre encurralado
O amor sombreia as trevas
Clareia até cegar
É um lar que não abriga
O crime perfeito de dois assassinos (Cazuza)
Considere as seguintes afirmações sobre a forma como o amor é descrito no soneto e na letra da canção.
I - O amor, por ser um sentimento de natureza contraditória, leva o indivíduo a ver o mundo como um lugar instável e desconcertante.
II - O amor é um sentimento imprevisível que é deflagrado a partir da figura sedutora e angelical de certas mulheres.
III - O amor provoca o intenso desejo daquele que ama, fazendo com que ele, o amante, mantenha um diálogo com a mulher amada.

4.      Quais dessas afirmações são compartilhadas por ambos os eu-líricos?
(A) Apenas I.                         (D) Apenas II e III.
(B) Apenas II.                        (E) I, II e III.
(C) Apenas I e III.
Leia os poemas do heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campo.
1.    Todas as cartas de amor...
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.) Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)



2.    Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
3.    Aniversário
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
Considere as seguintes afirmações sobre a poesia de Álvaro de campos, heterônimo de Fernando Pessoa.
I - Em Todas as Cartas de Amor, o eu lírico recusa-se a escrever porque prefere sonhar a viver.
II - No Poema em Linha Reta, a trajetória do indivíduo é descrita como sendo vinculada a fracassos e vilezas, o que provoca seu cansaço e sua revolta.
III - Em Aniversário, o eu lírico, acreditando ter recuperado a perfeição do passado, renega os familiares mortos.

5.      Quais estão corretas?
(A) Apenas I.                              (D) Apenas I e III.
(B) Apenas II.                             (E)  I, II e III. 
(C) Apenas I e II.

Leia o texto abaixo, de Ana Cristina César.

FINAL DE UMA ODE
Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo (rio que corta Portugal) e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco controlavelmente, mas de maneira curta, curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto um dó extremo do rato que se fere no porão, ai que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho. Quisera dividir o corpo em heterônimos-medito aqui no chão, imóvel, tóxico do tempo.

Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - O eu lírico assume postura confessional, atento aos elementos desconexos do cotidiano.
II - O eu lírico declara sentir-se fragmentado (''dividir o corpo em heterônimos''), pois percebe o ambiente que o circunda a partir de pontos de vista divergentes entre si.
III - O eu lírico sofre e se descontrola diante de sua incapacidade para mudar os fatos que o atormentam.

6.      Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.

Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra, que faz parte da poesia lírica barroca, com temática religiosa.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na nossa ovelha a vossa glória.  (Gregório de Matos)

7.      Sobre o poema, é INCORRETO afirmar:

a) O poema apresenta-se em forma de soneto, com uma linguagem plena de artifícios de versificação, o que faz ressaltar o conteúdo temático, que é o arrependimento do eu lírico de seus pecados, em busca do perdão de Jesus Cristo.
b) A forma de expressão poética do eu lírico, neste poema, é marcada pela tensão e reflete os conflitos do homem do período barroco, que vivia as contradições entre o teocentrismo medieval e o antropocentrismo clássico.
c) Percebe-se neste poema a preocupação com a forma característica ao período barroco, em que o poeta faz uso de muitos processos técnicos e expressivos, dentre eles a rima bem marcada dos versos e o uso freqüente de antíteses e inversões sintáticas.
d) O poema apresenta ideais divergentes entre o humano e o divino em decorrência da oposição que havia, na época, entre a mentalidade pagã da burguesia portuguesa e a religiosidade católica da sociedade brasileira.
e) O poema todo estrutura-se como uma evocação lírico-religiosa, em que o eu lírico confessa ser um pecador, no início do poema, para a seguir estabelecer um confronto de idéias entre a culpa do pecador e a clemência de Jesus, e somente no final, como último apelo, nomear-se uma "ovelha desgarrada", evocando o perdão divino.

Leia o seguinte trecho do conto "Amor", de Clarice Lispector.

“O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.”
(LISPECTOR, Clarice. Laços de família. 11. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 21-2.)

8.      Com base nesta leitura, é correto afirmar:
a) No trecho "a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir", emerge a força do fantástico, traço tão significativo neste conto como em todos os demais contos de Laços de família.
b) No trecho "como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram", percebe-se uma referência à súbita paixão que invade a protagonista, provocando o desequilíbrio familiar e o desejo de viver ao lado do amante.
c) No trecho "Expulsa de seus próprios dias", revela-se o conflito da protagonista ao se defrontar, no espaço urbano, com uma cena comum que desencadeia uma reavaliação de sua vida íntima e doméstica.
d) No trecho "parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes", destaca-se a atmosfera de mistério que provoca a aproximação entre esse conto e as histórias policiais com sua ambientação urbana.
e) No trecho "Vários anos ruíam", sobressai uma marca destacada dos contos da autora: apresentar narrativas cuja ação se estende por uma longa duração de tempo.

Leia o fragmento a seguir que inicia o conto Feliz Aniversário, de Clarice Lispector e responda à questão.

A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados — e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.
Tendo Zilda — a filha com quem a aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. "Vim para não deixar de vir", dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda
— a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante — e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.
E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos. Fonte: LISPECTOR, Clarice. Feliz aniversário. In: ______. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco,1998. p. 54.

9.      O texto retrata o momento em que chegam os convidados para uma festa familiar. Pela leitura atenta do texto, podemos depreender que as pessoas estão

A) bastante à vontade, uma vez que a ocasião é familiar.
B) muito incomodadas, uma vez que precisam ‘manter as aparências’.
C) pouco empolgadas, uma vez que encontros em família fazem parte da rotina.
D) bem ansiosas, visto que a ‘grande avó’ comemora oitenta e nove anos.


AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA E SOCIEDADE

Leia, abaixo, a letra da canção  Feitiço da Vila, de Noel Rosa.

Feitiço da Vila


Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.
Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.
A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente
O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora
Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixao nao me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia à parte,
meus senhores,
Eu sou da Vila! (Noel Rosa)
Considere as seguintes afirmações sobre a letra dessa canção.
I - O sol da Vila Isabel testemunha o cotidiano de homens
e mulheres que lutam para sobreviver; a lua, por sua vez, atraída pelo gingado das mulheres, surge antes do tempo para assistir o espetáculo do samba.
II - As tradições, os versos, as crenças, os conhecimentos e os costumes dos moradores de Vila Isabel são reforçados através da referência à princesa que assinou a Abolição.
III - Depois de mencionar que, na Vila, bacharel pode enfrentar um bamba, Noel Rosa exalta a Vila Isabel, ao compará-la a importantes estados da Federação.

10.  Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.

Instrução: As questões 10 e  11 estão relacionadas ao poema abaixo.

DUAS DAS FESTAS DA MORTE

Recepções de cerimônia que dá a morte:
o morto, vestido para um ato inalgural;
e ambiguamente: com a roupa do orador
e a da estátua que se vai inaugurar.

No caixão, meio caixão meio pedestal,
o morto mais se inaugura do que morre;
e duplamente: ora sua própria estátua
ora seu próprio vivo, em dia de posse.

Piqueniques infantis que dá a morte:
os enterros de criança no Nordeste:
reservados a menores de treze anos,
impróprios a adultos (nem o seguem).

Festa meio excursão meio piquenique,
ao ar livre, boa para dia sem classe;
nela, as crianças brincam de boneca,
e aliás, com uma boneca de verdade. (João Cabral de Melo Neto)

Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - Nas cerimônias fúnebres, a homenagem feita pelo orador assegura que a memória dos atos do morto sobreviverá entre familiares e concidadãos.
II - No Nordeste, os enterros de crianças se assemelham a festas, da quais os adultos não participam.
III - Os enterros, que parecem "meio excursão meio piquenique", e o cadáver da criança, que se confunde com uma boneca, caracterizam a banalização da morte infantil.

11.  Quais estão corretas, de acordo com o poema?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III. 

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema.
(  ) O poeta refere a morte de quem é homenageado e de quem sequer é lembrado, valendo-se de versos livres e termos prosaicos.
(  ) O poema contrasta a formalidade da cerimônia da primeira estrofe com a informalidade do enterro da segunda estrofe.
(  ) O poeta, ao descrever a homenagem ao defunto, denuncia o desinteresse do orador pela família do morto.
(  ) O poema, ao associar "caixão" e "pedestal", remete às noções de imobilidade e de exibição, o que reforça o paralelo entre o morto e a estátua.

12.  A sequência correta de preenchimento, de cima para baixo, é
(A) V - F - V - F.
(B) F - V - V - F.
(C) V - V - F - F.
(D) F - V - F - V.
(E) V - F - F - V.

Instrução: As questões 12 e 13 referem-se ao texto abaixo.

Considere o fragmento abaixo, extraído do conto Mágoa que Rala, do escritor Lima Barreto, que aborda a estada de D. João VI e da família real em terras brasileiras.

Dos chefes de Estado que tem tido o Brasil, o que mais amou, e muito profundamente o Rio de Janeiro foi, sem dúvida, D. João VI [...]. A gente para eles [os artistas], um pouco mais que animais, eram uns negros à toas; e a natureza, um flagelo de mosquitos e cascavéis, sem possuir uma proporcionalidade com o homem, como a de Portugal, que parecia um
jardim feito para o homem. Mesmo os nossos poetas mais velhos nunca entenderam a nossa vegetação, os nossos mares, os nossos rios; não compreendiam as nossas coisas naturais e nunca lhes pegaram a alma, o substractum; e se queriam dizer alguma coisa
sobre ela caíam no lugar comum amplificado e no encadeamento de adjetivos grandiloquentes, quando não voltavam para a sua arcadiana livresca floresta de álamos, plátanos, mirtos, com vagabundíssimas ninfas e faunos idiotas, segundo a retórica e a poética das suas cerebrinas escolas, cheias de pomposos tropos, de rapé, de latim, e regras de catecismo literário.
[...] como se poderia exigir de funcionários, fidalgos limitados na sua própria prosápia, uma maior força de sentimento diante dos novos quadros naturais que a luminosa Guanabara lhes dava, cercando as águas de mercúrio de suas harmoniosas enseadas?
D. João VI, porém, nobre de alta linhagem e príncipe do século de Rousseau, mal enfronhado na literatura palerma dos árcades, dos desembargadores e repentistas, estava mais apto para senti-los de primeira mão, diretamente.

Considere as seguintes afirmações sobre esse fragmento.
I - Ao abordar a estada de D. João VI e da família real em terras brasileiras, o autor condena os artistas que não se deixaram tocar pela força da paisagem brasileira, preferindo cenários e personagens artificiais.
II - Ao apresentar uma leitura amargurada sobre os burocratas e intelectuais da época, o autor revela sua condição social inferior: mulato pobre no aristocrático meio intelectual da virada do século XIX para o XX.
III - Ao contemplar a "luminosa Guanabara", D. João VI, por desconhecer os preceitos da "literatura palerma dos árcades", deixou-se sensibilizar diante dos novos quadros naturais.

13.  Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.

Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.
De acordo com esse fragmento,
1 - os "poetas mais velhos", por serem brasileiros, são capazes de falar com propriedade da natureza.
2 - os escritores tinham a sensibilidade embotada pelo excesso de erudição.
3 - os poetas brasileiros, em seu processo de criação, foram influenciados pela mistura de raças.

14.  Quais estão corretas?
(A) Apenas 1.
(B) Apenas 2.
(C) Apenas 3.
(D) Apenas 2 e 3.
(E) 1, 2 e 3.

O poema que segue faz parte do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, publicado em 1930, e tem como título "Cidadezinha qualquer".

15.  Leia o poema e assinale a alternativa correta.

Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

a) O poema denuncia de forma irônica e com uma linguagem sintética a monotonia e o tédio que predominam em pequenas cidades do interior.
b) O poema mostra com sentimento piedoso o desajuste existencial do homem diante da vida.
c) O poema retrata de modo triste e melancólico a desventura amorosa do poeta na cidade de Itabira, onde nasceu.
d) Predomina no poema um sentimento de nostalgia do passado, por meio de uma linguagem muito simples e pouco elaborada esteticamente.
e) Há no poema uma preocupação de ordem social e política que sintetiza o "sentimento do mundo" do eu lírico. 

O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira centrava seus temas em questões de natureza social. 

  "Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa.
Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes.
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava se, engolia em seco."  (In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)
16.  Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma na alternativa: 

a) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas orações: "... Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes...."
b) A oração: "Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça" tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as demais personagens do romance.
c) A oração: "... Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco" indica a voz do narrador em terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro linguístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes populares à da elite.
e) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado, sempre em dívida com o patrão.

Os textos abaixo fazem parte de duas obras clássicas do Romantismo brasileiro: o texto 1 é o início do romance Iracema, de José de Alencar, publicado em 1865; o texto 2 é uma estrofe do canto VIII do poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, do livro Últimos cantos, de 1851.

Texto 1
"Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira..."

Texto 2
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés."

17.  Assinale a alternativa INCORRETA.
a) O romance Iracema, de José de Alencar, ficou conhecido como "lenda da formação do estado do Ceará", que se deu pela união do homem branco português com a mulher indígena brasileira. O poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, é considerado um "hino" em louvor à tradição guerreira da civilização indígena brasileira. 
b) A forma como o narrador localiza a história e descreve a personagem feminina, no primeiro texto, revela uma leveza de estilo que é própria da poesia; no segundo texto, ao contrário, há uma força dramática nos versos que se constrói pela fala exaltada do pai ao filho. 
c) As duas obras idealizaram o índio enquanto uma raça forte que contribuiu para a formação da nação brasileira, num momento que se definia pela defesa do nacionalismo e pelo culto à natureza. Neste sentido, pode-se dizer que elas representaram autonomia estética no âmbito literário e autonomia política no âmbito social para um país em formação, como se apresentava o Brasil naquele momento histórico.
d) No primeiro texto o discurso narrativo é pleno de metáforas e alegorias, a mostrar uma mulher meiga e cheia de encantos, pela comparação com elementos da natureza. No segundo texto as sílabas fortes dos versos marcam a cadência do discurso poético, de forma a revelar a ira do pai contra o filho, o que mostra a bravura da raça indígena, em que é preciso ser guerreiro e vencer a luta contra o inimigo.
e) A mesma concepção idealizada e significação política atribuídas à raça indígena no Romantismo foi retomada pelos escritores modernistas e contemporâneos, que exaltaram a beleza e a força indígena em obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Maíra, de Darcy Ribeiro.

A CONSTRUÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO

Leia os fragmentos que seguem, extraídos, respectivamente, dos textos Trezentas Onças e No Manantial, incluídos em Contos Gauchescos, de Simões Lopes Neto.

Fragmento 1
Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude ... a gente vê caras, não vê corações ... ; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: era luz de deus por todos os lados!. .. E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar.

Fragmento 2
O arranchamento alegre e farto foi desaparecendo ... o feitio da mão de gente foi.se gastando, tudo foi minguando; as carquejas e as embiras invadiram; o gravatá lastrou; só o umbu foi guapeando, mas abichornado, como viúvo que se deu bem em casado ... ; foi ficando tapera ... a tapera ... que é sempre um lugar tristonho onde parece que a gente vê gente que nunca viu ...

Considere as seguintes afirmações sobre esses fragmentos.
I - No primeiro fragmento, a presença de termos regionais, de linguagem figurada e de ditado popular contribui para a caracterização da identidade e do estado de espírito do personagem.
II - No segundo fragmento, o uso das formas verbais "invadiram" e "lastrou" para descrever mudanças sofridas pela vegetação sugere uma identificação entre a paisagem natural e o destino trágico da família de Maria Altina.
III - Ambos os fragmentos exemplificam o uso coloquial da linguagem de Blau Nunes, que contrasta com o discurso urbano e erudito do "patrício", reproduzido no texto.

18.  Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.

Leia o poema Tabaréu, de Adélia Prado.

TABARÉU
Vira-e-mexe eu penso é numa toada só.
Fiz curso de Filosofia pra escovar o pensamento,
não valeu. O mais universal a que chego
é a recepção de Nossa Senhora de Fátima
em Santo Antônio do Monte.
Duas mil pessoas com velas louvando Maria
num oco de escuro, pedindo bom parto,
moço de bom gênio pra casar,
boa hora pra nascer e morrer.
O cheiro do povo espiritado,
isso eu entendo sem desatino.
Porque, mercê de Deus, o poder que eu tenho
é de fazer poesia, quando ela insiste feito
água no fundo da mina, levantando morrinho de areia.
É quando clareia e refresca, abre sol, chove,
conforme necessidades.
Às vezes dá até de escurecer de repente
com trovoada e raio. Não desaponta nunca.
É feito sol.
Feito amor divino. (Adélia Prado, 2003)

Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - O curso de filosofia tentaria organizar/escovar o pensamento, mas a poeta reconhece que sua capacidade de alcançar o "universal" é limitada: ela é capaz, sim, de entender uma cena de fé coletiva, com suas solicitações práticas e emocionadas.
II - O uso do registro oral e popular (''vira e mexe", "escovar o pensamento", "o mais universal que eu chego") revela a perspectiva despretensiosa e informal da poeta, que contrasta com os versos metrificados do poema, os quais mantêm, em sua maioria, o mesmo número de sílabas.
III - A capacidade de escrever poesia associa-se a fenômenos naturais, como água caindo sobre areia, variação de temperatura, sol e raio, dos quais derivam as dúvidas sobre a existência de Deus enunciadas no poema.

19.  Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III. 

Leia o seguinte fragmento, do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, publicado em 1997 e considerado um dos precursores na abordagem da violência das favelas cariocas a partir de dentro, isto é, por um autor que foi morador da periferia.

É que arrisco a prosa mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por bocas sem dentes e olhares cariados, nos conchavos de becos, nas decisões de morte. A areia move-se nos fundos dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas.
O líquido-morango do sorvete meia as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase palavra é defecada ao invés de falada. Falha a fala. Fala a bala.

Sobre esse fragmento, considere as afirmações que seguem.
I - A palavra sai de forma agressiva, "defecada ao invés de falada", porque o narrador acaba concordando com a ideia de que não vale a pena escrever literatura sobre a realidade urbana periférica.
II - O narrador usa linguagem figurada (como as balas atravessando os fonemas ou os olhares cariados) para explicar que, mesmo vivendo em um lugar permeado de crimes e miséria, se arrisca a fazer literatura.
III - Ao mencionar que "Fala a bala", o narrador dá a entender que a violência é a linguagem que a maioria dos moradores das favelas conhece.

20.  Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D)  Apenas II e III.
(E) I, II e III. 

Um comentário:

Jeferson Cardoso disse...

Boas férias!
A propósito, por acaso, gosta de literatura amadora? >>> O http://jefhcardoso.blogspot.com anseia por seu comentário. Abraço!