Escola Estadual João
Cruz
Evento avaliativo de
Língua Portuguesa/Literatura
Jacareí, novembro de 2012
Professora: Maria
Piedade Teodoro da Silva
Nome: nº
1º ano
Leia.
A literatura, como
temos conversado, ao longo da história das civilizações, tem desempenhado
papéis dos quais não se pode prescindir. Um deles, talvez o mais universal, é o
tratamento das condições do estar no mundo, ou seja, o que faz de cada um o que
ele é, seus sentimentos, seus pensamentos, seus desejos, seus sonhos em diálogo com a
realidade.
Outra dimensão
importante da literatura é percebida na representação das coletividades e das
sociedades. Por meio da produção literária de uma época, pode-se conhecer o contexto
histórico e cultural dessa época. Nessa perspectiva, a literatura testemunha a
passagem do tempo e possibilita conhecer o passado, a percepção dos que viveram
em outros tempos e os acontecimentos que marcaram a vida de nossos
antepassados. Por último, sendo criação do espírito humano, a literatura busca na
linguagem verbal mecanismos para construir o sentido e para estimular a
imaginação do leitor, ou até para subverter a própria linguagem.
Atente às afirmações abaixo.
a. A literatura
trata do estar no mundo do ser humano.
b. A literatura
representa metaforicamente os grupos sociais, sua visão de mundo, sua
ideologia.
c. Cada
movimento literário revela o contexto social de uma dada época.
d. A literatura
assiste ao passar do tempo, as experiências humanas louváveis e/ou não.
e. A literatura,
arte que explora a linguagem verbal (oral ou escrita) com intuito de recriar a
realidade, surpreendendo, causando indignação no leitor.
1.
Quais
estão corretas?
(A) Apenas “a”.
(B) Apenas “c”.
(C) Apenas “a” e “b”.
(D) Apenas “b” e “c”.
(E) Todas as
assertivas.
Com base nessa informação
inicial, as questões desta prova foram divididas em três conjuntos: o ser humano e seus sentimentos; as relações
entre cultura e sociedade; e a construção do texto literário.
O SER HUMANO E SEUS SENTIMENTOS
2.
Leia os seguintes fragmentos de letras de canções, o primeiro
extraído de Milonga de Sete Cidades,
de Vitor Ramil, e o segundo de Noites do
Sertão, de Milton Nascimento e Tavinho Moura.
Milonga de Sete Cidades (a
Estética do Frio)
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Milonga é feita solta no tempo
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Em Clareza
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
A voz de um milongueiro não morre
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Concisão tem pátios pequenos
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz (Vitor Ramil)
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz (Vitor Ramil)
Noites do Sertão
Não se espante assim meu moço
com a noite do meu sertão
Tem mais perigo que a poesia do que o julgo da razão
A tormenta gera história é tão vida quanto o sol
São cavalos beirando o rio, é o corpo da menina ofegante ali do lado
Ansiosa pelo tato do carinho arrebatado do calor da tua mão
Tem mais perigo que a poesia do que o julgo da razão
A tormenta gera história é tão vida quanto o sol
São cavalos beirando o rio, é o corpo da menina ofegante ali do lado
Ansiosa pelo tato do carinho arrebatado do calor da tua mão
Não se engane que o silêncio não existe no anoitecer
Fala mais vida que a cidade, tem mais lenda a oferecer
Não demore ela é donzela mas conhece outra mulher
Seu desejo e a madrugada só esperam teu carinho
Quando o ato terminado
Chegue perto da janela olhe fora e olhe dentro
A paisagem se molhou (Milton Nascimento e Tavinho)
Fala mais vida que a cidade, tem mais lenda a oferecer
Não demore ela é donzela mas conhece outra mulher
Seu desejo e a madrugada só esperam teu carinho
Quando o ato terminado
Chegue perto da janela olhe fora e olhe dentro
A paisagem se molhou (Milton Nascimento e Tavinho)
I - Tanto em Milonga
de Sete Cidades quanto em Noites do Sertão, um sentimento de melancolia é
associado a lembranças que caracterizam as paisagens da infância dos autores, o
pampa e o sertão, respectivamente.
II - Vitor Ramil faz
uma apologia à frieza das cidades, que transforma seus habitantes em seres
solitários; Milton Nascimento e Tavinho Moura, em contraste, acentuam a
agitação noturna do sertão, permeada de tristes acontecimentos.
III - O ritmo dolente
da milonga está relacionado às baixas temperaturas das cidades pampeanas;
enquanto a noite perigosa do sertão remete a situações inusitadas, visto que
"a tormenta gera história".
3. Quais estão corretas?
(A) Apenas I. (D) Apenas II e III.
(B) Apenas II. (E) I, II e III.
(C) Apenas III.
Leia os seguintes textos, o primeiro, um soneto de Luís Vaz de Camões, e o segundo, a letra da canção Me Acalmo, Me Desespero, de Cazuza.
Soneto de Camões
Tanto de meu estado me
acho incerto,
Que em vivo ardor
tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente
choro e rio,
O mundo todo abarco e
nada aperto.
É tudo quanto sinto,
um desconcerto;
Da alma um fogo me
sai, da vista um rio;
Agora espero, agora
desconfio,
Agora desvario, agora
acerto.
Estando em terra,
chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil
anos, e é jeito
Que em mil anos não
posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém
por que assim ando,
Respondo que não sei;
porém suspeito
Que só porque vos vi,
minha Senhora. (Luiz Vaz de Camões)
Me Acalmo Me Desespero
O amor deflagra guerras
No coração de quem ama
Um bandido sórdido
Uma menina linda
No coração de quem ama
Um bandido sórdido
Uma menina linda
O amor lança seu ferrão
No desamparo dos amantes
É um inseto louco em volta da luz
Um lobo solitário uivando na escuridão
No desamparo dos amantes
É um inseto louco em volta da luz
Um lobo solitário uivando na escuridão
Do amor pouco sei
E quase tudo espero
Amando eu me acalmo e me desespero
E quase tudo espero
Amando eu me acalmo e me desespero
O amor faz da minha voz
Um gemido surdo
De mim um escravo lanhado
Um tigre encurralado
Um gemido surdo
De mim um escravo lanhado
Um tigre encurralado
O amor sombreia as trevas
Clareia até cegar
É um lar que não abriga
O crime perfeito de dois assassinos (Cazuza)
Clareia até cegar
É um lar que não abriga
O crime perfeito de dois assassinos (Cazuza)
Considere as seguintes afirmações sobre a forma como o amor é
descrito no soneto e na letra da canção.
I - O amor, por ser
um sentimento de natureza contraditória, leva o indivíduo a ver o mundo como um
lugar instável e desconcertante.
II - O amor é um
sentimento imprevisível que é deflagrado a partir da figura sedutora e
angelical de certas mulheres.
III - O amor provoca
o intenso desejo daquele que ama, fazendo com que ele, o amante, mantenha um
diálogo com a mulher amada.
4. Quais dessas afirmações são compartilhadas
por ambos os eu-líricos?
(A) Apenas I. (D) Apenas II e III.
(B) Apenas II. (E) I, II e III.
(C) Apenas I e III.
Leia os poemas do heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campo.
1. Todas
as cartas de amor...
Todas
as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.) Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.) Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
2.
Poema em linha reta
Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas
vezes porco, tantas vezes vil,Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão
as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
3.
Aniversário
No
TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos)
Considere
as seguintes afirmações sobre a poesia de Álvaro de campos, heterônimo de
Fernando Pessoa.
I - Em Todas as Cartas de Amor, o eu lírico
recusa-se a escrever porque prefere sonhar a viver.
II - No Poema em Linha Reta, a trajetória do
indivíduo é descrita como sendo vinculada a fracassos e vilezas, o que provoca
seu cansaço e sua revolta.
III - Em Aniversário, o eu lírico, acreditando
ter recuperado a perfeição do passado, renega os familiares mortos.
5. Quais estão corretas?
(A) Apenas I. (D) Apenas I e III.
(B) Apenas II. (E) I, II e III.
(C) Apenas I e II.
Leia o texto abaixo, de Ana Cristina César.
FINAL DE UMA ODE
Acontece assim: tiro
as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo (rio que
corta Portugal) e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando
o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco controlavelmente,
mas de maneira curta, curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora
estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para
um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto um dó extremo do rato que se
fere no porão, ai que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor
me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho.
Quisera dividir o corpo em heterônimos-medito aqui no chão, imóvel, tóxico do
tempo.
Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - O eu lírico
assume postura confessional, atento aos elementos desconexos do cotidiano.
II - O eu lírico
declara sentir-se fragmentado (''dividir o corpo em heterônimos''), pois
percebe o ambiente que o circunda a partir de pontos de vista divergentes entre
si.
III - O eu lírico
sofre e se descontrola diante de sua incapacidade para mudar os fatos que o
atormentam.
6. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.
Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra, que faz parte da
poesia lírica barroca, com temática religiosa.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas
não porque hei pecado,
Da vossa alta
clemência me despido;
Porque quanto mais
tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar
mais empenhado.
Se basta a vos irar
tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja
um só gemido;
Que a mesma culpa,
que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão
lisonjeado.
Se uma ovelha perdida
e já cobrada
Glória tal e prazer
tão repentino
Vos deu, como
afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a
ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não
queirais, pastor divino,
Perder na nossa
ovelha a vossa glória. (Gregório de
Matos)
7. Sobre o poema, é INCORRETO afirmar:
a) O poema
apresenta-se em forma de soneto, com uma linguagem plena de artifícios de
versificação, o que faz ressaltar o conteúdo temático, que é o arrependimento
do eu lírico de seus pecados, em busca do perdão de Jesus Cristo.
b) A forma de
expressão poética do eu lírico, neste poema, é marcada pela tensão e reflete os
conflitos do homem do período barroco, que vivia as contradições entre o
teocentrismo medieval e o antropocentrismo clássico.
c) Percebe-se neste
poema a preocupação com a forma característica ao período barroco, em que o
poeta faz uso de muitos processos técnicos e expressivos, dentre eles a rima
bem marcada dos versos e o uso freqüente de antíteses e inversões sintáticas.
d) O poema apresenta
ideais divergentes entre o humano e o divino em decorrência da oposição que
havia, na época, entre a mentalidade pagã da burguesia portuguesa e a
religiosidade católica da sociedade brasileira.
e) O poema todo
estrutura-se como uma evocação lírico-religiosa, em que o eu lírico confessa
ser um pecador, no início do poema, para a seguir estabelecer um confronto de
idéias entre a culpa do pecador e a clemência de Jesus, e somente no final,
como último apelo, nomear-se uma "ovelha desgarrada", evocando o
perdão divino.
Leia o seguinte trecho do conto "Amor", de Clarice
Lispector.
“O mundo se tornara
de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa
de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes,
que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um
momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde
ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da
frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser
revertidas com a mesma calma com que não o eram.”
(LISPECTOR, Clarice.
Laços de família. 11. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 21-2.)
8. Com base nesta leitura, é correto
afirmar:
a) No trecho "a
falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir",
emerge a força do fantástico, traço tão significativo neste conto como em todos
os demais contos de Laços de família.
b) No trecho
"como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o
eram", percebe-se uma referência à súbita paixão que invade a
protagonista, provocando o desequilíbrio familiar e o desejo de viver ao lado
do amante.
c) No trecho
"Expulsa de seus próprios dias", revela-se o conflito da protagonista
ao se defrontar, no espaço urbano, com uma cena comum que desencadeia uma
reavaliação de sua vida íntima e doméstica.
d) No trecho
"parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes", destaca-se a
atmosfera de mistério que provoca a aproximação entre esse conto e as histórias
policiais com sua ambientação urbana.
e) No trecho
"Vários anos ruíam", sobressai uma marca destacada dos contos da
autora: apresentar narrativas cuja ação se estende por uma longa duração de
tempo.
Leia
o fragmento a seguir que inicia o conto Feliz Aniversário, de Clarice Lispector
e responda à questão.
A família foi pouco a pouco
chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava
ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de
azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem
cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas
mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados — e esta vinha
com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles,
acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas
em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno
novo e pela gravata.
Tendo Zilda — a filha com quem a
aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como
numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com
cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em
bico, mantendo sua posição de ultrajada. "Vim para não deixar de
vir", dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas
mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam
bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu
vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com
dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda
— a única mulher entre os seis
irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e
tempo para alojar a aniversariante — e como Zilda estava na cozinha a ultimar
com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria
empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na
fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a
concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.
E à cabeceira da mesa grande a
aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos. Fonte: LISPECTOR, Clarice.
Feliz aniversário. In: ______. Laços de família. Rio de Janeiro:
Rocco,1998. p. 54.
9.
O texto retrata
o momento em que chegam os convidados para uma festa familiar. Pela leitura
atenta do texto, podemos depreender que as pessoas estão
A) bastante à vontade, uma vez
que a ocasião é familiar.
B) muito incomodadas, uma vez que
precisam ‘manter as aparências’.
C) pouco empolgadas, uma vez que
encontros em família fazem parte da rotina.
D) bem ansiosas, visto que a
‘grande avó’ comemora oitenta e nove anos.
AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA E
SOCIEDADE
Leia, abaixo, a letra da canção
Feitiço da Vila, de Noel Rosa.
Feitiço da Vila
Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.
Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.
A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente
O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora
Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixao nao me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia à parte,
meus senhores,
Eu sou da Vila! (Noel Rosa)
sei por onde passo
paixao nao me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia à parte,
meus senhores,
Eu sou da Vila! (Noel Rosa)
Considere as seguintes afirmações sobre a letra dessa canção.
I - O sol da Vila
Isabel testemunha o cotidiano de homens
e mulheres que lutam
para sobreviver; a lua, por sua vez, atraída pelo gingado das mulheres, surge
antes do tempo para assistir o espetáculo do samba.
II - As tradições, os
versos, as crenças, os conhecimentos e os costumes dos moradores de Vila Isabel
são reforçados através da referência à princesa que assinou a Abolição.
III - Depois de
mencionar que, na Vila, bacharel pode enfrentar um bamba, Noel Rosa exalta a
Vila Isabel, ao compará-la a importantes estados da Federação.
10. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
Instrução: As questões 10 e 11 estão relacionadas ao poema abaixo.
DUAS DAS FESTAS DA MORTE
Recepções de
cerimônia que dá a morte:
o morto, vestido para
um ato inalgural;
e ambiguamente: com a
roupa do orador
e a da estátua que se
vai inaugurar.
No caixão, meio
caixão meio pedestal,
o morto mais se
inaugura do que morre;
e duplamente: ora sua
própria estátua
ora seu próprio vivo,
em dia de posse.
Piqueniques infantis
que dá a morte:
os enterros de
criança no Nordeste:
reservados a menores
de treze anos,
impróprios a adultos
(nem o seguem).
Festa meio excursão
meio piquenique,
ao ar livre, boa para
dia sem classe;
nela, as crianças
brincam de boneca,
e aliás, com uma
boneca de verdade. (João Cabral de Melo Neto)
Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - Nas cerimônias
fúnebres, a homenagem feita pelo orador assegura que a memória dos atos do
morto sobreviverá entre familiares e concidadãos.
II - No Nordeste, os
enterros de crianças se assemelham a festas, da quais os adultos não
participam.
III - Os enterros,
que parecem "meio excursão meio piquenique", e o cadáver da criança,
que se confunde com uma boneca, caracterizam a banalização da morte infantil.
11. Quais estão corretas, de acordo com o
poema?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações
sobre o poema.
( ) O poeta refere a morte de quem é
homenageado e de quem sequer é lembrado, valendo-se de versos livres e termos
prosaicos.
( ) O poema contrasta a formalidade da
cerimônia da primeira estrofe com a informalidade do enterro da segunda
estrofe.
( ) O poeta, ao descrever a homenagem ao
defunto, denuncia o desinteresse do orador pela família do morto.
( ) O poema, ao associar "caixão" e
"pedestal", remete às noções de imobilidade e de exibição, o que
reforça o paralelo entre o morto e a estátua.
12. A sequência correta de preenchimento, de
cima para baixo, é
(A) V - F - V - F.
(B) F - V - V - F.
(C) V - V - F - F.
(D) F - V - F - V.
(E) V - F - F - V.
Instrução: As questões 12 e 13 referem-se ao texto abaixo.
Considere o fragmento abaixo, extraído do conto Mágoa que Rala, do
escritor Lima Barreto, que aborda a estada de D. João VI e da família real em
terras brasileiras.
Dos chefes de Estado
que tem tido o Brasil, o que mais amou, e muito profundamente o Rio de Janeiro foi,
sem dúvida, D. João VI [...]. A gente para eles [os artistas], um pouco mais
que animais, eram uns negros à toas; e a natureza, um flagelo de mosquitos e
cascavéis, sem possuir uma proporcionalidade com o homem, como a de Portugal,
que parecia um
jardim feito para o
homem. Mesmo os nossos poetas mais velhos nunca entenderam a nossa vegetação, os
nossos mares, os nossos rios; não compreendiam as nossas coisas naturais e
nunca lhes pegaram a alma, o substractum; e se queriam dizer alguma coisa
sobre ela caíam no
lugar comum amplificado e no encadeamento de adjetivos grandiloquentes, quando não
voltavam para a sua arcadiana livresca floresta de álamos, plátanos, mirtos,
com vagabundíssimas ninfas e faunos idiotas, segundo a retórica e a poética das
suas cerebrinas escolas, cheias de pomposos tropos, de rapé, de latim, e regras
de catecismo literário.
[...] como se poderia
exigir de funcionários, fidalgos limitados na sua própria prosápia, uma maior
força de sentimento diante dos novos quadros naturais que a luminosa Guanabara
lhes dava, cercando as águas de mercúrio de suas harmoniosas enseadas?
D. João VI, porém,
nobre de alta linhagem e príncipe do século de Rousseau, mal enfronhado na literatura
palerma dos árcades, dos desembargadores e repentistas, estava mais apto para
senti-los de primeira mão, diretamente.
Considere as seguintes afirmações sobre esse fragmento.
I - Ao abordar a
estada de D. João VI e da família real em terras brasileiras, o autor condena
os artistas que não se deixaram tocar pela força da paisagem brasileira, preferindo
cenários e personagens artificiais.
II - Ao apresentar
uma leitura amargurada sobre os burocratas e intelectuais da época, o autor
revela sua condição social inferior: mulato pobre no aristocrático meio
intelectual da virada do século XIX para o XX.
III - Ao contemplar a
"luminosa Guanabara", D. João VI, por desconhecer os preceitos da
"literatura palerma dos árcades", deixou-se sensibilizar diante dos
novos quadros naturais.
13. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.
De acordo com esse
fragmento,
1 - os "poetas
mais velhos", por serem brasileiros, são capazes de falar com propriedade
da natureza.
2 - os escritores
tinham a sensibilidade embotada pelo excesso de erudição.
3 - os poetas
brasileiros, em seu processo de criação, foram influenciados pela mistura de
raças.
14. Quais estão corretas?
(A) Apenas 1.
(B) Apenas 2.
(C) Apenas 3.
(D) Apenas 2 e 3.
(E) 1, 2 e 3.
O poema que segue faz parte do primeiro livro de Carlos Drummond
de Andrade, Alguma poesia, publicado em 1930, e tem como título "Cidadezinha qualquer".
15. Leia o poema e assinale a alternativa
correta.
Casas entre
bananeiras
Mulheres entre
laranjeiras
Pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai
devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas
olham.
Eta vida besta, meu
Deus.
a) O poema denuncia
de forma irônica e com uma linguagem sintética a monotonia e o tédio que
predominam em pequenas cidades do interior.
b) O poema mostra com
sentimento piedoso o desajuste existencial do homem diante da vida.
c) O poema retrata de
modo triste e melancólico a desventura amorosa do poeta na cidade de Itabira,
onde nasceu.
d) Predomina no poema
um sentimento de nostalgia do passado, por meio de uma linguagem muito simples
e pouco elaborada esteticamente.
e) Há no poema uma
preocupação de ordem social e política que sintetiza o "sentimento do
mundo" do eu lírico.
O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que
Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica.
Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira
centrava seus temas em questões de natureza social.
"Se pudesse economizar durante alguns
meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se
trepa.
Consumidos os
legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
o produto das sortes.
Resmungava,
rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava se,
engolia em seco." (In: RAMOS,
Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)
16. Sobre este trecho do romance, somente
está INCORRETO o que se afirma na alternativa:
a) Este trecho resume
a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à
economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão
nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas
orações: "... Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria
à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes...."
b) A oração: "Se
pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça" tanto pode
ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser
o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as
demais personagens do romance.
c) A oração:
"... Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos
minguados, engasgava-se, engolia em seco" indica a voz do narrador em
terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão
“Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por um
provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro linguístico
é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes
populares à da elite.
e) O texto tem início
com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação econômica; a seguir,
passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem se encontra, e
finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado, sempre em
dívida com o patrão.
Os textos abaixo fazem parte de duas obras clássicas do Romantismo
brasileiro: o texto 1 é o início do romance Iracema, de
José de Alencar, publicado em 1865; o texto 2 é uma estrofe do canto VIII do
poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, do livro Últimos cantos, de 1851.
Texto 1
"Além, muito
além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos
lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais
longos que seu talhe de palmeira..."
Texto 2
"Tu choraste em
presença da morte?
Na presença de
estranhos choraste?
Não descende o
cobarde do forte;
Pois choraste, meu
filho não és!
Possas tu,
descendente maldito
De uma tribo de
nobres guerreiros,
Implorando cruéis
forasteiros,
Seres presa de vis
Aimorés."
17. Assinale a alternativa INCORRETA.
a) O romance Iracema,
de José de Alencar, ficou conhecido como "lenda da formação do estado do
Ceará", que se deu pela união do homem branco português com a mulher
indígena brasileira. O poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, é considerado
um "hino" em louvor à tradição guerreira da civilização indígena
brasileira.
b) A forma como o
narrador localiza a história e descreve a personagem feminina, no primeiro
texto, revela uma leveza de estilo que é própria da poesia; no segundo texto,
ao contrário, há uma força dramática nos versos que se constrói pela fala exaltada
do pai ao filho.
c) As duas obras
idealizaram o índio enquanto uma raça forte que contribuiu para a formação da
nação brasileira, num momento que se definia pela defesa do nacionalismo e pelo
culto à natureza. Neste sentido, pode-se dizer que elas representaram autonomia
estética no âmbito literário e autonomia política no âmbito social para um país
em formação, como se apresentava o Brasil naquele momento histórico.
d) No primeiro texto
o discurso narrativo é pleno de metáforas e alegorias, a mostrar uma mulher
meiga e cheia de encantos, pela comparação com elementos da natureza. No
segundo texto as sílabas fortes dos versos marcam a cadência do discurso
poético, de forma a revelar a ira do pai contra o filho, o que mostra a bravura
da raça indígena, em que é preciso ser guerreiro e vencer a luta contra o
inimigo.
e) A mesma concepção
idealizada e significação política atribuídas à raça indígena no Romantismo foi
retomada pelos escritores modernistas e contemporâneos, que exaltaram a beleza
e a força indígena em obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Maíra, de
Darcy Ribeiro.
A CONSTRUÇÃO DO TEXTO
LITERÁRIO
Leia os fragmentos
que seguem, extraídos, respectivamente, dos textos Trezentas Onças e No
Manantial, incluídos em Contos Gauchescos, de Simões Lopes Neto.
Fragmento 1
Eh-pucha! patrício,
eu sou mui rude ... a gente vê caras, não vê corações ... ; pois o meu, dentro
do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no
pino do meio-dia: era luz de deus por todos os lados!. .. E já todo no meu
sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e
comecei a pitar.
Fragmento 2
O arranchamento
alegre e farto foi desaparecendo ... o feitio da mão de gente foi.se gastando,
tudo foi minguando; as carquejas e as embiras invadiram; o gravatá lastrou; só o
umbu foi guapeando, mas abichornado, como viúvo que se deu bem em casado ... ;
foi ficando tapera ... a tapera ... que é sempre um lugar tristonho onde parece
que a gente vê gente que nunca viu ...
Considere as seguintes afirmações sobre esses fragmentos.
I - No primeiro
fragmento, a presença de termos regionais, de linguagem figurada e de ditado
popular contribui para a caracterização da identidade e do estado de espírito
do personagem.
II - No segundo
fragmento, o uso das formas verbais "invadiram" e "lastrou"
para descrever mudanças sofridas pela vegetação sugere uma identificação entre
a paisagem natural e o destino trágico da família de Maria Altina.
III - Ambos os
fragmentos exemplificam o uso coloquial da linguagem de Blau Nunes, que
contrasta com o discurso urbano e erudito do "patrício", reproduzido
no texto.
18. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Leia o poema Tabaréu, de Adélia Prado.
TABARÉU
Vira-e-mexe eu penso
é numa toada só.
Fiz curso de
Filosofia pra escovar o pensamento,
não valeu. O mais
universal a que chego
é a recepção de Nossa
Senhora de Fátima
em Santo Antônio do
Monte.
Duas mil pessoas com
velas louvando Maria
num oco de escuro,
pedindo bom parto,
moço de bom gênio pra
casar,
boa hora pra nascer e
morrer.
O cheiro do povo
espiritado,
isso eu entendo sem
desatino.
Porque, mercê de
Deus, o poder que eu tenho
é de fazer poesia,
quando ela insiste feito
água no fundo da
mina, levantando morrinho de areia.
É quando clareia e
refresca, abre sol, chove,
conforme
necessidades.
Às vezes dá até de
escurecer de repente
com trovoada e raio.
Não desaponta nunca.
É feito sol.
Feito amor divino. (Adélia
Prado, 2003)
Considere as
seguintes afirmações sobre esse poema.
I - O curso de
filosofia tentaria organizar/escovar o pensamento, mas a poeta reconhece que
sua capacidade de alcançar o "universal" é limitada: ela é capaz,
sim, de entender uma cena de fé coletiva, com suas solicitações práticas e
emocionadas.
II - O uso do
registro oral e popular (''vira e mexe", "escovar o pensamento",
"o mais universal que eu chego") revela a perspectiva despretensiosa
e informal da poeta, que contrasta com os versos metrificados do poema, os
quais mantêm, em sua maioria, o mesmo número de sílabas.
III - A capacidade de
escrever poesia associa-se a fenômenos naturais, como água caindo sobre areia,
variação de temperatura, sol e raio, dos quais derivam as dúvidas sobre a
existência de Deus enunciadas no poema.
19. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Leia o seguinte fragmento, do romance Cidade de Deus, de Paulo
Lins, publicado em 1997 e considerado um dos precursores na abordagem da
violência das favelas cariocas a partir de dentro, isto é, por um autor que foi
morador da periferia.
É que arrisco a prosa
mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o
seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por
bocas sem dentes e olhares cariados, nos conchavos de becos, nas decisões de
morte. A areia move-se nos fundos dos mares. A ausência de sol escurece mesmo
as matas.
O líquido-morango do
sorvete meia as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios
adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque
é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase palavra é
defecada ao invés de falada. Falha a fala. Fala a bala.
Sobre esse fragmento, considere as afirmações que seguem.
I - A palavra sai de
forma agressiva, "defecada ao invés de falada", porque o narrador
acaba concordando com a ideia de que não vale a pena escrever literatura sobre a
realidade urbana periférica.
II - O narrador usa
linguagem figurada (como as balas atravessando os fonemas ou os olhares
cariados) para explicar que, mesmo vivendo em um lugar permeado de crimes e
miséria, se arrisca a fazer literatura.
III - Ao mencionar
que "Fala a bala", o narrador dá a entender que a violência é a
linguagem que a maioria dos moradores das favelas conhece.
20. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
(E) I, II e III.
Um comentário:
Boas férias!
A propósito, por acaso, gosta de literatura amadora? >>> O http://jefhcardoso.blogspot.com anseia por seu comentário. Abraço!
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