sábado, 20 de fevereiro de 2010

RECADOS PARA O PRIMEIRO ANO E ENSINO MÉDIO 2010

Nos conhecendo melhor...




Como contar a sua própria vida

Objetivos

1) Reconhecer características gerais do gênero e, em particular, reconhecimento dos recursos linguísticos e estéticos presentes em uma autobiografia.

2) Manejar s verbos no presente e nos pretéritos perfeito (em 1a. e 3a. p. singular) e imperfeito do modo indicativo.

3) Compor texto autobiográfico.

Se biografia é a história da vida de alguém (já que bio é vida e grafia é texto, escrita), o que você imagina ser autobiografia? O prefixo auto quer dizer "a sim mesmo", logo o termo se refere à história da própria vida. Leia a apresentação que faz de si mesmo o escritor de livros infantis Bartolomeu Campos Queiroz:



...das saudades que não tenho



Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento...

Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição.

(...) Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono. Mesmo nascendo com 57 anos estava aos 60 obrigado ainda a ser criança. E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos. Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.

(...) Tive uma educação primorosa. Minha primeira cartilha foi o olhar do meu pai, que me autorizava a comer ou não mais um doce nas festas de aniversário. Comer com a boca fechada, é claro, para ficar mais bonito e meu pai receber elogios pelo filho contido que ele tinha. E cada dia eu era visto como a mais exemplar das crianças, naquela cidade onde a liberdade nunca tinha aberto as asas sobre nós.

Mas a originalidade de minha mãe ninguém poderá desconhecer. Ela era capaz de dizer coisas que nenhuma mãe do mundo dizia, como por exemplo: – Você, quando crescer vai ter um filho igual a você. Deus há de me atender, para você passar pelo que eu estou passando. – Mãe é uma só. (...)

(Bartolomeu Campos Queiroz, em Abramovich, Fanny (org.) – “O mito da infância feliz”. Summus, São Paulo, 1983).



A autobiografia de Bartolomeu Campos Queirós é marcada por uma certa tristeza e uma forte crítica tanto à educação dos pais, quanto aos costumes da cidadezinha onde nasceu. Dessa forma, ele rompe com a idéia de que criança é sempre feliz por ser inocente e não perceber os problemas da vida.

O escritor dá a entender que todos nascemos velhos, porque somos parte de vidas já vividas pelos pais e até mesmo pela sociedade - simbolizada em seu texto pela cidadezinha em que nasceu.

Também vale notar a referência irônica ao célebre poema "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu ("Oh! que saudades que tenho/ da aurora da minha vida...)

Na biografia, a seleção dos eventos a serem apresentados é definida pelos outros, por isso, a objetividade é mais evidente que na autobiografia, em que a pessoa escolhe o que vai escrever sobre ela mesma.

Outra característica tanto da biografia quanto da biografia é a veracidade dos fatos. Costumam ser narrativas não-ficcionais, ou seja, não são histórias "inventadas". O relato dos fatos no texto autobiográfico aparece freqüentemente pontuado de lembranças, de um colorido emocional, que não é mostrado em outros tipos de textos. Predomina a subjetividade.

Compare a autobiografia reproduzida acima com a biografia de Carlos Drummond de Andrade. O que se pode concluir sobre a presença escolha dos pronomes: na biografia predomina o uso da terceira pessoa (ele), enquanto na autobiografia predomina o uso da primeira pessoa (eu). Esses usos relacionam-se à maior ou menor objetividade.



Autobiografia e sátira

Falar de si mesmo é sempre difícil... Nada como uma boa dose de bom humor para olhar para si próprio, não é mesmo? Leia como alguns autores tratam de suas biografias de forma bem-humorada.



Aí eu peguei e nasci!

Sou filho de árabe com loira e deu macaco na cabeça. E eu não tenho 56 anos. Eu tenho 18 anos. Com 38 de experiência. E eu era um menino asmático que ficava lendo Proust e ouvindo programa de terror no rádio.

Em 69 entrei pra Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Mas eu matava aula com o namorado da Wanderléa pra ir assistir o programa de rádio do Erasmo Carlos. E aí eu desisti. Senhor Juiz, Pare Agora!

E aí eu fui pra swinging London, usava calça boca de sino, cabelo comprido e assisti ao show dos Rolling Stones no Hyde Park. E fazia alguns bicos pra BBC.

Voltei. Auge do tropicalismo. Freqüentava as Dunas da Gal em Ipanema. Passei dois anos batendo palma pro pôr-do-sol e assistindo o show da Gal toda noite. E depois diz que hippie não faz nada! (...)

José Simão Biografia


Perceba como José Simão, ao usar linguagem coloquial, expressões populares e gírias, se aproxima do leitor de jornal e da Internet ao escrever um texto descontraído e cheio de humor: "Aí eu peguei", "deu macaco na cabeça", "matava aula", "alguns bicos pra BBC", etc.

Ao escolher "fatos não nobres" de sua autobiografia, José Simão torna seu texto mais engraçado e carregado de ironia - uma boa maneira de fazer humor.

Leia a seguir a autobiografia de mais um humorista - Millôr Fernandes, um dos fundadores do famoso jornal alternativo, dos anos 60 e 70, "O Pasquim":


SUPERMERCADO MILLÔR -- ANO I - N.º 1


(Autobiografia De Mim Mesmo À Maneira De Mim Próprio)

"E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias que só me saíam gêmeas as palavras – reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada. Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui.” Millôr Fernandes)



1) Releia o título "Supermercado Millôr" e o subtítulo "Autobiografia de Mim Mesmo à maneira de Mim Próprio" e analise que relação pode haver entre uma autobiografia e a idéia de produto a ser vendido, como mercadoria, num supermercado.



2) Relembrando que pleonasmo é uma forma de se usar a mesma idéia de forma repetitiva e desnecessária - lembre-se dos famosos pleonasmos "subir para cima", "descer para baixo", "entrar para dentro" e "sair para fora", que, segundo a gramática, devem ser evitados.- procure, então, explicar os pleonasmos usados no subtítulo, por Millôr, confirmando a abordagem satírica de sua biografia.



3) Millôr elabora sua biografia, de forma irônica e crítica, ao usar:

• contradições/paradoxos;

• chavões ou frases feitas, recriando-os;

• criação de novas palavras, com fina ironia.



NOTA: Enfim, muitas vezes, o gênero biografia pode ser uma boa desculpa para um escritor fazer crítica social ou mesmo brincar consigo mesmo e com a própria humanidade.

Recursos lingüísticos e estéticos valorizam o relato


Na autobiografia, você é o autor do texto e protagonista da história. Vale a pena ter em mente e, conseqüentemente, na ponta do lápis, que ao escrever a sua autobiografia, você poderá contar com recursos lingüísticos e estéticos a fim de valorizá-la.


Recriando a sua imagem na autobiografia

Um bom texto será aquele que pretenda não somente recontar os eventos sucedidos ao longo da vida, mas também recriar sua imagem (como você é/era/foi) perante o leitor.

Para ilustrar essa característica, leia as autobiografias a seguir e trate de observar como os autores se descrevem e se apresentam ao leitor:


Texto n° 1: Sou alegre e uma pessoa querendo viver mt. Sou sincera qd vejo que não estou agradando eu simplesmente caio fora, se não gosta de mim não precisa me aturar nem por educação. Sou romantica, sou furiosa umm... Amo minha familia e não sei viver sem eles. Amo meu Pequeno a minha luz. Amo escrever meus poemas é atravez deles que ponho minhas emoções. Amo meus amigos. E amo fazer amizades. Para vc saber mesmo quem sou só me conhecendo(http://ilianoronha24chocolicia.blogspot.com/)


Texto n° 2: POEMA AUTOBIOGRÁFICO

Quando eu nasci,

Meu pai batia sola,

Minha mana pisava milho no pilão,

Para o angu das manhãs...

Portanto eu venho da massa,

Eu sou um trabalhador...

Ouvi o ritmo das máquinas,

E o borbulhar das caldeiras...

Obedeci ao chamado das sirenes...

Morei num mucambo do ""Bode"",

E hoje moro num barraco na Saúde...

Não mudei nada...(Solano Trindade )


Texto n° 3: O auto-retrato


No retrato que me faço

- traço a traço -

às vezes me pinto nuvem,

às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas

de que nem há mais lembrança...

ou coisas que não existem

mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco

- pouco a pouco -

minha eterna semelhança,

no final, que restará?

Um desenho de criança...

Terminado por um louco! (Mário Quintana)


Vamos entender um pouco...

No poema “O auto-retrato” de Mário Quintana, observa-se uma relação intrínseca entre a obra e o autor. O Poeta constrói o poema discutindo dois atos: o ato de criação da obra e o ato de se construir enquanto pessoa. O título do poema mostra a necessidade do Poeta em se auto-retratar para o outro. O uso de pronomes possessivos durante todo o poema destaca o caráter intimista da criação poética. Com o uso de advérbios expressando dúvida e a relação temporal criada entre o verbo existir, o Poeta vai construindo sua própria imagem para o leitor. Ao opor figuras como a criança e o louco, o Poeta busca afirmar a dificuldade inerente ao ato de se descobrir enquanto pessoa e poeta. Criador e criação se misturam dentro do poema.


Texto n° 4: SOU NEGRO


“Sou Negro

meus avós foram queimados

pelo sol da África

minh’alma recebeu o batismo dos tambores

atabaques, gonguês e agogôs.

Contaram-me que meus avós

Vieram de Loanda

Como mercadoria de baixo preço

Plantaram cana pro senhor do engenho novo

E fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado

nas terras de Zumbi

Era valente como quê

Na capoeira ou na faca

escreveu não leu

o pau comeu

Não foi um pai João

humilde e manso.

Mesmo vovó

não foi de brincadeira

Na guerra dos Malés

ela se destacou.

Na minh’alma ficou

o samba

o batuque

o bamboleio

e o desejo de libertação.”

(O poeta do povo, p.48)


É relevante observar que a poesia desse autor não se volta somente para a cultura do povo de forma mais abrangente, mas se dedica de maneira muito especial, e até mesmo militante, à cultura afro-brasileira. O poeta fala de dentro dessa cultura, ou seja, o eu lírico é um eu que se quer e se vê negro. Solano Trindade mostra suas raízes negras e dá um grito negro que revela uma visão diferente, uma visão do Outro:


Texto n° 5: Auto-retrato


Provinciano que nunca soube

Escolher bem uma gravata;

Pernambucano a quem repugna

A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa

Envelheceu na infância da arte,

E até mesmo escrevendo crônicas

Ficou cronista de província;

Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia

Um piano, mas o teclado

Ficou de fora); sem família,

Religião ou filosofia;

Mal tendo a inquietação de espírito

Que vem do sobrenatural,

E em matéria de profissão

Um tísico profissional.(Manoel Bandeira)


Texto n° 6: Auto-Retrato Falado

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço

coisas inúteis.

(No meu morrer tem uma dor de árvore. (Manoel de Barros (1916) se firma cada vez mais como um de nossos maiores e melhores poetas. Ênio Silveira, no "O Livro das Ignorãças", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1993, pág. 107)

Texto n° 7: Auto - Retrato

Neste auto-retrato que faço

Paço a paço vou mostrando o laço

Que me liga ao abraço

Desta vida que escolhi viver.

Sou dengosa

Sou manhosa

Sou birrenta, barulhenta

Sou o trovão do temporal

Sou a claridade do amanhecer


Amo o amor

Entendo a dor

Sou amante da lua

Sou aliada do sol


Não gosto de chuva

Não gosto de luva

Não gosto de nada

Que impeça a verdade

Mas uma coisa é preciso dizer:

Gosto e muito

De uma boa amizade.



Gosto também de ter esperança

De acreditar no meus semelhante

De ver a vida passar

E aprender com o vento

As lições do tempo.


Esta sou eu

E vivendo eu vou.

Continuo aprendendo

Até a morte chegar

Com a certeza de ter vivido e aprendido

O bastante pra poder doar. (Augusta Schimidt)


Vínculo entre autora e leitor

Notou como o texto estabelece um vínculo entre autora e leitor?

Podemos afirmar que o texto não nos cansa e que a cronologia continua presente, só que de uma forma menos distante e menos numérica, uma vez que somos levados a conhecer o autobiografado e a compartilhar de sua experiência pessoal.

No texto da poetisa, há uma mescla de fatos, emoções e sentimentos que cada acontecimento desencadeou em sua vida. Sugiro que você faça a releitura e trate de identificar tais aspectos.


O compromisso de dizer a verdade

Outro dado curioso é que tanto a biografia como a autobiografia têm o compromisso de dizer a "verdade".

Contudo, se paramos para pensar, quando selecionamos ou omitimos alguma informação sobre os acontecimentos vividos, a "verdade" não será "meia-verdade"? O que você acha?

Por outro lado, é fundamental saber escolhê-las, pois, se formos muito rígidos no afã de informar e apresentar dados cronológicos, o texto ficará muito chato.

Já imaginou se ele fosse todo baseado em "Em 1999, em 2000, em 2001..."?

Na autobiografia acima, a autora vai mencionando os fatos e relacionando-os à sua idade na época, o que torna o texto bem mais leve e interessante. Concorda?


Usando a elipse na autobiografia

Gramaticalmente, a autora faz uso da elipse, recurso pelo qual a palavra está subentendida (ex. años). Tente ser criativo e eletivo, sim, porém, busque o equilíbrio entre os fatos e suas características pessoais.

Inspire-se pelo viés artístico da autora espanhola e conheça outro texto seu igualmente autobiográfico:


Pontos a ter em conta para redigir a autobiografia:


1. Escreve o teu nome e apelidos

2. Antecedentes do teu nascimento: Pais, cidade, contexto em que nasceu, lugar, etc.

3. Quais as razões para os teus pais terem escolhido o teu nome?

4. O que recordas, com agrado e desagrado, da tua vida escolar.

Acreditas que podes alcançar os sonhos e metas que te propuseste? Por quê?

5.Lembras-te de algum professor em especial que te marcou de forma positiva ou negativa? Quem foi esse professor? Porque te marcou?

6.Relação com os teus familiares: pais, irmãos, sobrinhos, etc.

7.Breve resumo da tua vida atual.



Atividades:



1. Vamos falar de nós mesmos????????? Vamos a nossa autobiografia. Não se esqueça de titulá-la. Pode ser em verso ou prosa.

2. Prepare a leitura em classe de texto-autobiográfico.

3. Pesquisa: fazer o levantamento de obras autobiográficas. Selecionar uma delas para ler.

4. Destaque em qual categoria se classifica essa autobiografia lida com base na exposição teórica exposta anteriormente. Justifique.

5. Vá ao site http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&rlz=1R2ADBF_pt-BRBR346&q=poesia+auto-retrato&um=1&ie=UTF-8&ei=rPJ1S4PsLsuVtgfl9pC2Cg&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=1&ved=0CBAQsAQwAA para que possa entrar em contato com diversas possibilidades de autorretrato explorando a linguagem visual.




Como contar a história da vida de alguém

Objetivos:

1. Ler textos Biografia para perceber algumas características típicas do gênero biografia.

2. Manejar tempos verbais presente e pretérito indefinido (reescrita para sistematização da conjugação verbal), a partir das duas biografias apresentadas (onde aparecem os verbos no passado, escrevê-los no presente e vice-versa).

3. Verificar a compreensão da leitura, no qual o professor discute com os alunos questões lexicais, semânticas etc.

4. Compor texto biográfico em versão multimídia (texto + imagens/fotos + trilha sonora, etc.) poetas brasileiros do século XX e XXI (no mínimo dois).

5. Compor texto biográfico de matemáticos (orientação do professor Narita) em versão multimídia (texto + imagens/fotos + trilha sonora, etc.)

6. Apresentar e socializar sua biografia junto aos colegas de classe.


É verdade que Einstein foi um péssimo aluno? Como é, na intimidade, o escritor José Saramago? E Bill Gates, o criador da Microsoft, faz o que em suas horas vagas?

O gênero de texto que conta a história da vida de alguém se chama biografia (bio é vida, e grafia é escrita). É uma mistura entre jornalismo, literatura e história, em que se relata e registra a história da vida de uma pessoa, enfatizando os principais fatos. É um gênero de narrativa não-ficcional. Os fatos podem ser contados em ordem cronológica - isto é, do nascimento à morte, ou por temas (amores, derrotas, traumas etc). Não precisam ser, necessariamente, escritas. Podem ser filmes, peças de teatro etc.

Conhecer a biografia de uma personalidade permite entender um pouco melhor o tempo em que ela viveu, o que a fez ser famosa, como alcançou o sucesso, atos que podem servir de exemplo, coisas que ela fez e que você jamais faria. Também pode ser interessante conhecer sua autobiografia.


Características textuais e lingüísticas

Leia o texto biográfico que segue, que conta um pedaço da vida de um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade:


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. Descendente de uma família de fazendeiros em decadência, o poeta estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo (RJ), de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, o itabirano começou a carreira de escritor como colaborador do “Diário de Minas”, que congregava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Devido à insistência familiar para obter um diploma, ele se formou em farmácia na cidade de Ouro Preto, em 1925. Fundou com outros escritores “A Revista”, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas Gerais.

O escritor ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Depois, passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954, colaborou como cronista no “Correio da Manhã” e, a partir do início de 1969, no “Jornal do Brasil”.

(...)

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi, seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

(...)

Alvo de admiração unânime, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro- RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade, fato que o havia deixado extremamente abatido.


Atividades:

1) Veja que a biografia de Drummond é um relato elaborado numa seqüência temporal que entremeia fatos de sua vida e de sua carreira profissional:

a) 1º e 2º parágrafos: origem, estudos e carreira - no serviço público e como escritor. Nesses dois parágrafos, os fatos da biografia são relatados de forma mais neutra.

b) 3º e 4º parágrafos: fatos da vida e obra do poeta, ressaltando sua fama literária. Esses trechos já emitem opinião a respeito do biografado, especialmente pelos usos de:

• enumeração das línguas em que a obra de Drummond foi traduzida, indicando seu papel internacional;

• advérbio "seguramente" através do qual é evidenciado um argumento sobre a importância do poeta;

• adjetivo superlativo: "mais influente". O poeta não é só influente, mas "mais influente", o que intensifica o qualificador;

• adjetivo "unânime" referindo-se ao substantivo "admiração", também com conotação elogiosa ao poeta.


2) Releia a biografia e repare que há várias formas de se referir ao biografado, em substituição a seu nome: "Drummond", "o poeta", "o itabirano", "ele" e verbos com o sujeito oculto. Essas substituições representam um tipo de coesão textual. A fim de evitar a repetição de termo já referido, outras palavras retomam o já dito e vão ajudando a construir o texto, articulando-o.


3) Veja que a expressão "insubordinação mental" como causa da expulsão de Drummond da escola jesuítica, está escrita entre aspas. Qual seria a intenção desse uso? Dado o reconhecimento literário que se deu na vida do poeta, podemos considerar que é uma maneira de marcar de modo irônico a maneira inovadora de pensar do poeta, não é mesmo?


4) Analise agora os verbos usados no texto:

• nasceu, estudou, foi expulso, começou, se formou, fundou, ingressou, transferiu-se, passou a trabalhar, se aposentou, colaborou, foi, morreu.

Veja que predominam verbos de ação, numa determinada sequência, como é próprio de uma biografia, feita de forma tradicional.


Características da biografia

Podem afirmar que na biografia:

• os acontecimentos devem estar ordenados em seqüência temporal, ou seja, do mais antigo para o mais recente;

• deve haver um trabalho prévio de seleção das informações, que possam ser consideradas relevantes para o leitor.

• deve-se evitar julgamentos de valor, expressões adjetivas que indiquem a opinião do autor a respeito das informações que apresenta.

Biografia e crítica social

Mas será que só há biografias de pessoas famosas? Bem, sabemos que a história muda dependendo de quem a conta. Quando a história é contada pelo vencedor, costumam-se enfatizar os positivos para ele. Numa outra perspectiva, entende-se história também como ação de todas as pessoas, na relação entre as diferentes classes sociais.

Leia a seguir a biografia de uma mulher, Carolina Maria de Jesus, que morava numa favela e que escreveu um livro de muito sucesso na década de 1960: "Quarto de despejo".


Cinderela negra - A saga de Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus foi uma figura ímpar. Viveu sozinha, com três filhos – um de cada pai – em uma favela na cidade de São Paulo, desde 1947. Descendente de escravos africanos, nasceu em 1914, em Sacramento, um vilarejo rural no Estado de Minas Gerias e foi à escola apenas até o segundo ano primário. Trabalhou na roça com a mãe, desde muito cedo. Depois, ambas foram empregadas domésticas.

Já em São Paulo, na favela do Canindé, como catadora de papel e mãe de três filhos, escrevia folhas e folhas de histórias reais e imaginadas. Um dia, um jovem jornalista teve acesso a estes escritos e conseguiu ajudá-la a publicar o seu “Quarto de despejo”, em 1960. O sucesso foi imediato. Vendeu o equivalente, naquele ano, a Jorge Amado. Seu livro foi publicado em 13 línguas, em mais de 40 países.

Porém, sua trajetória, até a morte na década de 70, foi incomum e perturbadora. Carolina não se “enquadrou” como escritora famosa. (...). Em pouco tempo, ela foi forçada a voltar à condição de pobre, com dificuldades de sobrevivência. Na miséria viu terminarem seus dias, em 1977.

(adaptado do livro “Cinderela negra - A saga de Carolina Maria de Jesus”, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine, Editora da UERJ, Rio de Janeiro, 1994)


Os autores da biografia de Carolina de Jesus já antecipam ao leitor, pelo título, do que vão tratar:

• há uma comparação entre Carolina e a personagem "Cinderela" do famoso conto de fadas, a partir da idéia de transformação. Assim como Cinderela vivia nas cinzas e foi transformada, por uma fada, numa linda mulher por quem o príncipe se apaixonou, Carolina viveu seus dias de gata borralheira, mas também seu tempo de fama, como escritora;

• o uso da expressão "Cinderela negra" traz uma realidade social brasileira, em geral, permeada de preconceito e racismo;

• o termo "saga" no título já prenuncia a vida heróica de uma mulher do povo, feito Carolina, que venceu muitos obstáculos para sobreviver, quanto mais para viver e ser uma escritora.

BIOGRAFIA

Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.

Mario Quintana (Caderno H)

NOTA: Existem vários tipos de biografias:

• Informativa: é a mais objetiva; o biógrafo se baseia na seleção de fatos e materiais, não fornecendo interpretação subjetiva. A biografia informativa inclui a biografia política (enaltecendo a causa de um candidato político) e a biografia histórica;

• Crítica: propõe-se a avaliar as obras e descortinar a vida do biografado através de meras interpretações das obras ou debruçando-se diretamente sobre os seus escritos;

• Standard: já encerra em si uma visão da biografia enquanto gênero literário e pratica-o enquanto arte;

• Interpretativa: bastante subjetiva, por vezes quase de ficção.

Atividades:

1. Crie perfil biográfico em versão multimídia (texto + imagens/fotos + trilha sonora, etc.) poetas brasileiros do século XX e XXI (no mínimo dois).

2. Componha texto biográfico de matemáticos (orientação do professor Narita) em versão multimídia (texto + imagens/fotos + trilha sonora, etc.). OBS: PROJETO COMPLEMENTAR

3. Apresente e socialize as biografias junto aos colegas de classe.

11 comentários:

_Amigos para Sempre_ disse...

ola professora aqui e o Igor do 2 A gostei muito dessa aula de hoje (24/02/10).
professora a senhora poderia me indicar alguns livros pra leitura.
valeu um abraço.
ate mais !!!!
me mande sugestões para o meu e-mail que é : igorpuma13@hotmail.com

Gabriela Moraes disse...

Oi professora , gostei muita da aula de literatura de hoje (24/02) o livro que a senhora passou para ler , eu so não entendi é para fazer algum resumo , ou para aquelas aulas de leituras que você falou hoje ?

um beijo , meu e-mail é gabrielaa_mc@hotmail.com

ate sexta :D

LEITURA: O SAGRADO DO ESSENCIAL disse...

IGOR, CLARO QUE HÁ ÓTIMOS LIVROS PARA SE LER; PORÉM GOSTARIA DE SABE SE EXISTE PREFERÊNCIA DE ESTILO, AUTOR, TEMPO.

MAS VAMOS A SUGESTÃO:

"Ao mesmo tempo uma fábula e uma sátira mordaz, A Revolução dos Bichos é a história dos animais de uma granja se rebelam contra o Homem que os oprime e assumem o poder. Em seguida, começam a cometer todos os mesmos erros que qualquer poder revolucionário comete ao assumir o governo: de oprimido torna-se opressor. Ao lado de 1984, é a grande obra prima de George Orwell."

"A obra prima de Graciliano Ramos, VIDAS SECAS que retrata a vida de uma família que vive no sertão brasileiro e todos os sacrifícios por que passam para sobreviver. Cada capítulo conta a história sob a perspectiva de uma personagem, Fabiano e sua família, incluindo Baleia, sua cadela, incrivelmente a personagem mais humana do romance!".

ISSO PARA COMEÇAR...

LEITURA: O SAGRADO DO ESSENCIAL disse...

Gabriela de qual classe?????? Qual livro???? Todas as leituras sugeridas em qualquer classe, centra-se na atividade exclusiva de leitura.

_Amigos para Sempre_ disse...

ola professora gostei muito das aulas dessa semana por que teve bastante rendimento na minha opinião
comecei ater "alguns outros olhos" para leitura.
Em questão do livro eu ja estou com um que o capitães da areia
Ate mais fique com deus, beijos thau !!!

obs: o conto que a senhora pediu pra fazer a leitura e por acaso para levar na quarta ?

Igor de almeida 2A do ensino médio

LEITURA: O SAGRADO DO ESSENCIAL disse...

Igor, você está no 1º ano??????????? Esse é o espaço do 1° ano E!!!!!!!!! O conto "Missa do galo", de Machado de Assis deve ser lido até quarta feira. até.

Unknown disse...

oi professora... aqui é o Romagno do 1E.
no momento não tenho nenhuma critica ou sugestão a dar.
Mas estou gostando muito de ler o livro Capitãs da Areia.
Abraço.

flavia disse...

Olá professora aqui é a flavia de
1E estoupassando pra falar q estou achando as aulas super aproveitativas não tenho mtas criticas e tbm estou gostando mto de ler o livro Capitães da areia

Rodrigo Maia disse...

Bom Dia Professora , aqui é o Rodrigo Maia do 1°EME , Estou aque justamente para Dizer que suas aulas estão rendendo cada vez mais para ampliar o meu conheçemento , creio eu que o Livro Capitães da Areia vai me ajudar pode vir a me ajudar daqui pra frente , e tambem gosto das suas aulas expositivas !
Fico por aque ! Até a Proxima !

Tonello disse...

Ola professora aqui é o matheus tonello do 1°E.
Adorei as aulas da senhora e tambem nao tenho o que criticar.
E estou adorando o livro "Capitães da areia" de Jorge Amado.
Beijos,Abraço
Até mais.

alininha 100%cine disse...

oi professora aqui e a aline do 1-E gostei muito das suas aulas pois vai direto no assunto .e até agora nao tenho duvida alguma pois suas explicaçoes são muito boas ...estou gostando muito do livro do jorge amado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ate amanhã!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!