domingo, 21 de fevereiro de 2010

RECADOS PARA OS TERCEIROS ANOS B e C ENSINO MÉDIO 2010

VIAGEM(ràpida) PELA HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA

1° TEXTO:

 A PERIODIZAÇÃO NA HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA
(artigo de Oscar Fussato Nakasato / CEFET-PR)

Resumo: Desde Ensaio sobre a literatura (1836), de Gonçalves de Magalhães, até a História da literatura brasileira (edição no Brasil em 1997), de Luciana Stegagno Picchio, a periodização da nossa literatura passou por transformações que indicam uma evolução. De uma periodização condicionada a fatos políticos ou simplesmente cronológica passa-se a uma periodização estilística. Durante muito tempo fatos como a independência do país foram usados como divisores de águas entre períodos literários. A partir de A literatura no Brasil (1955), de Afrânio Coutinho, principalmente, passa-se a reconhecer a literatura como uma realidade estética autônoma.


A periodização é, sem dúvida, um dos grandes problemas da historiografia literária, não obstante o desinteresse em relação ao tema ou mesmo a insignificância que lhe querem atribuir alguns. Não é rara a atitude docente em definir a periodização como "mero recurso didático". Aliás, muitos livros de literatura brasileira destinados ao 2º grau partem desta idéia simplificadora ao estabelecerem o famoso quadro com datas, obras de transição e períodos literários. A periodização e o quadro correspondente podem, sim, ser recursos didáticos, mas não devem ser tratados com o desdém subjacente, neste caso, ao adjetivo "mero". Por outro lado, a periodização parece enfraquecer a idéia de continuidade da literatura.


A pouca importância atribuída à periodização decorre, geralmente, da dificuldade em se aprofundar a questão, que envolve problemas relacionados à literatura e à história, dualidade básica muitas vezes não levada em consideração. O problema não tem unanimidade de tratamento por parte dos próprios historiadores. A exposição dos sistemas periodológicos que apresentaremos na seqüência denuncia esta indefinição ao longo de um século e meio.


1836 - Ensaio sobre a literatura no Brasil - Domingos José Gonçalves de Magalhães


- Antes de 1808


- Depois de 1808


1841 - Bosquejo da história da poesia brasileira - Joaquim Norberto


- Séculos XVI e XVII


- Do início a meados do século XVIII


- Segunda metade do século XVIII


- Do início do século XIX até a época da independência


- Época da independência


- Época da reforma da poesia e do engrandecimento nacional


1843 - Da nacionalidade da literatura brasileira - Santiago Nunes Ribeiro


- 1º período: descobrimento até meados do século XVII


- 2º período: meados do século XVII (Cláudio Manoel da Costa) até 1830


- 3º período: a partir de 1830


1863 - Histoire de la litterature bresilienne - Ferdinand Wolf


- Da descoberta até o fim do século XVII


- Primeira metade do século XVIII


- Segunda metade do século XVIII


- Começo do século XVIII até 1840


- A partir de 1840


1872 - Resumo da história literária - Fernandes Pinheiro


- Fase de formação (séculos XVI e XVII)


- Fase de desenvolvimento (século XVII)


- Reforma (século XIX):


- 1ª época: do princípio do século até a independência


- 2ª época: da independência até a maioridade de D. Pedro II


- 3ª época: tempos contemporâneos


1888 - História da literatura brasileira - Silvio Romero


- Período de formação (1500 - 1750)


- Período de desenvolvimento autonômico (1750 - 1830)


- Período de transformação romântica (1830 - 1870)


- Período de reação crítico-naturalista (1875 - 1893/1900)






1902 - História da literatura brasileira (2ª ed.) - Silvio Romero


- Período de formação (1592 - 1768)


- Período de desenvolvimento autonômico (1768 - 1836)


- Período de reação romântica (1836-1875)


- Período de reação crítica e naturalista e, depois, parnasiana e simbolista (1876 em diante)


1916 - História da literatura brasileira - José Veríssimo


- Período colonial


- Período nacional


1919 - Pequena história da literatura brasileira - Ronald de Carvalho


- Período de formação (1500-1750)


- Período de transformação (1750-1830)


- Período autonômico (1830-1919)


1930 - História da literatura brasileira - Arthur Motta


- Época de formação


- Época de transformação


- Época de expansão autonômica:


- Fase do Romantismo


- Fase do Realismo


1931 - Noções de história da literatura brasileira - Afrânio Peixoto


- Literatura colonial


- Literatura reacionária


- Literatura emancipada


- Influências estrangeiras


1938 - História da literatura brasileira: Seus fundamentos econômicos - Nelson Werneck Sodré


- Literatura colonial


- Esboço de literatura nacional


- Literatura nacional


1955 - A literatura no Brasil - Afrânio Coutinho


- Era barroca


- Era neoclássica


- Era romântica


- Era realista


- Era de transição


- Era modernista


1955 - História da literatura brasileira - Antonio Soares Amora


- Era luso-brasileira: época do quinhentismo e do seiscentismo (1594-1724)


- Era luso-brasileira: época do setecentismo (1724-1808)


- Era nacional: época do Romantismo (1808-1868)


- Era nacional: época do Realismo (1868-1893)


- Era nacional: época do Simbolismo (1893-1922)


- Era nacional: época do Modernismo (1922-1945)


1959 - Formação da literatura brasileira - Antônio Cândido


- 1750 a 1836


- 1836 a 1880


1970 - História concisa da literatura brasileira - Alfredo Bosi


- A condição colonial


- Ecos do Barroco


- Arcádia e Ilustração


- O Romantismo


- O Realismo


- O Simbolismo


- Pré-modernismo e Modernismo


- Tendências contemporâneas




1997 - História da literatura brasileira - Luciana Stegagno Picchio (1)


- As grandezas do Brasil e catequese jesuítica


- O barroco brasileiro


- O século XVIII: das academias barrocas às sociedades independentistas


- O século XIX: Autonomia e independência


- O século XIX: O grande romantismo brasileiro


- O século XIX: Socialidade e Realismo


- O século XIX: Machado de Assis


- A poesia do Parnaso ao crepúsculo: realistas e parnasianos


- A poesia do Parnaso ao crepúsculo: neoparnaianos e crepusculares


- A prosa do Parnaso ao crepúsculo: simbolistas, neoparnasianos e literatura regionalista


- A prosa do Parnaso ao crepúsculo: engajamento social e hedonismo verbal


- O Modernismo: os anos de vanguarda (1922-1930)


- Estabilização da consciência criadora nacional (1930-1945)


- As letras brasileiras de 1945 a 1964


- Dos anos do golpe ao fim do século


Na historiografia literária brasileira, o poeta de Suspiros poéticos e saudades é pioneiro na divisão periodológica com Ensaio sobre a literatura no Brasil, de 1836. Antes dele, Ferdinand Denis havia publicado em Paris o seu Résumé de l’histoire littéraire du Portugal, suivi du résumé de l’ histoire littéraire du Brésil, em 1826, e Januário da Cunha Barbosa o Parnaso brasileiro, em 1831, mas o primeiro realizou somente um estudo genérico da nossa literatura, sem divisão em períodos, e a preocupação do segundo foi fazer uma coletânea. Esta intenção também presidiu o trabalho de outros nomes importantes, como Varnhagen, que em 1850 publicou Florilégio da poesia brasileira, com um esboço histórico, mas sem uma divisão sistemática.


Nestes começos da historiografia literária, os trabalhos participavam do espírito nacionalista, que constituía a espinha dorsal do pensamento crítico do século XIX. O que se propunha era realizar uma crítica empenhada, que pudesse registrar a existência de uma literatura brasileira e demonstrar a sua autonomia em relação à metrópole. Por isso não é de se estranhar que Gonçalves de Magalhães estabeleça o ano de 1808, tão significativo para a conquista da independência do Brasil, para marcar a transição entre os dois períodos em que divide a história da literatura brasileira. E Joaquim Norberto, que de uma forma geral estabelece uma periodização cronológica sem definição precisa de limites, sugere a proclamação da independência como a ponte transitória entre a quarta época e a quinta. Esse critério histórico-político é retomado por outros historiadores. Fernandes Pinheiro usa a independência e a maioridade de D. Pedro II para a subdivisão da literatura do século XIX, José Veríssimo localiza em 1822 o início do Período nacional e Antonio Soares Amora determina o ano de 1808 para marcar o final da Era luso-brasileira e o início da Era nacional. E mesmo Luciana Stegagno Picchio, na sua contemporânea obra História da literatura brasileira, não consegue fugir da importância do fim da 2ª Guerra Mundial e do golpe militar de 1964 e usa estes fatos como linhas fronteiriças na periodização que realiza.


A dicotomia colônia/nação adotada na periodização literária revela a preocupação com autonomia, com características identificadoras de uma literatura brasileira. José Veríssimo, ao referir-se à literatura produzida no Período colonial, diz: "Necessariamente nasceu e desenvolveu-se a literatura no Brasil como rebento da portuguesa e seu reflexo."(2) Mais à frente defende que no Período nacional o país passa "a experimentar o influxo de outras e melhores culturas"(3), além do estímulo mais importante: "o sentimento nacional afinal consciente."(4) Antonio Soares Amora, por sua vez, explica a característica básica da literatura da Era luso-brasileira: "seu paralelismo, em termos de quase identificação estética, com a literatura portuguesa /(...)/."(5) Depois, ao aludir à Era nacional, lembra que a literatura brasileira passa a "conquistar o seu carácter próprio e a receber influências variadas /(...)/."(6)


É interessante observar que a autonomia literária, para estes críticos, além de estar indissoluvelmente ligada à independência política e ao sentimento nacionalista, tem relação direta com a divergência em face da cultura lusíada. Tanto José Veríssimo quanto Antonio Soares Amora mencionam as influências de outras culturas, as quais não são repudiadas. O que podemos compreender, a partir disso, é que a constituição de uma literatura autônoma não se realiza com o influxo de uma única cultura, que acabaria por sufocar as possibilidades de uma expressão mais peculiar. A abertura de canais para culturas diversas, por outro lado, pode fornecer subsídios para a formação da autonomia. Não se pode esquecer, contudo, da herança primordial e substancial da cultura portuguesa. Antonio Candido, que não se preocupa com a distinção entre literatura portuguesa e literatura brasileira em Formação da literatura brasileira, mas com a constituição de uma literatura propriamente dita, lembra que o problema da autonomia está superado, mas que se justificava no século passado, quando "agíamos, em relação a Portugal, como esses adolescentes mal seguros, que negam a dívida aos pais e chegam a mudar de sobrenome."(7)


Lucianna Stegagno Picchio também recusa a dicotomia literatura colonial/literatura nacional. Para ela, existe um único ponto de partida, que é o século XVI, quando começou a se produzir uma literatura de língua portuguesa dentro de coordenadas culturais brasileiras.


Outro critério usado na periodização da história literária é o da divisão puramente cronológica, que considera séculos e décadas. Este critério geralmente não é usado com exclusividade, mas para classificar uma parte da história literária. É o que fazem Joaquim Norberto, Ferdinand Wolf e Fernandes Pinheiro, que usam este esquema para os três primeiros séculos da vida brasileira, revelando uma dificuldade em estabelecer classificações periodológicas mais exatas para um tempo em que não existia propriamente uma literatura, como compreende Antônio Cândido.


Antonio Soares Amora também considera os séculos na subdivisão da sua Era luso-brasileira, usando termos como "quinhentismo", "seiscentismo" e "setecentismo", embora estabeleça para o início e o término de cada época datas mais específicas, que remetem a um fato significativo das letras brasileiras: 1594, início da Época do quinhetismo e do seiscentismo, é o ano das primeiras cartas informativas do Brasil do Padre Manuel da Nóbrega, e 1724, início da Época do setecentismo, marca a fundação da Academia Brasílica do Esquecidos. Para a subdivisão da Era nacional já usa o critério estilístico: Romantismo, Realismo, Simbolismo e Modernismo. A distinção de tratamento dado às duas eras também revela dificuldades relacionadas a uma caracterização mais precisa sobre o tipo de literatura praticado nos três primeiros séculos de vida brasileira.


Contra este método cronológico dos nossos historiadores literários reage Vianna Moog, que numa conferência de 1942 propõe um critério geográfico para a divisão da literatura brasileira. O crítico justifica a sua proposta dizendo que não há uma unidade homogênea e definida na nossa literatura. Na sugestão de Vianna Moog, há sete núcleos: Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Quanto ao processo cronológico, admite que "já é tempo de pô-la de lado"(8). Sua idéia, porém, sugere somente um modo distinto de estudar a literatura e não pode de forma nenhuma invalidar as histórias baseadas em divisões periodológicas.


Com Santiago Nunes Ribeiro, tem início uma série da historiografia literária brasileira que opta por um divisão tríplice. Seguem-no Fernandes Pinheiro, Ronald de Carvalho, Arthur Motta, Afrânio Peixoto, Nelson Werneck Sodré. Ainda poderíamos acrescentar a esta relação o nome de José Veríssimo, que aceita uma fase de transição entre o Período colonial e o Período nacional. De uma forma geral, estes autores situam o primeiro período nos séculos XVI, XVII e parte do século XVIII. A produção dos árcades mineiros marca o período de transição. E o terceiro é localizado a partir do século XIX, alguns determinando um ano específico para o seu início: 1808, 1822... A exceção fica por conta de Afrânio Peixoto e Nelson Werneck Sodré. Aquele localiza o segundo período na primeira metade do século XIX e este a partir do Romantismo, determinando o início do terceiro período com o movimento modernista do século XX.


Os nomes dados aos três períodos também sugerem uma certa homogeneidade de compreensão sobre o que representa cada um deles. Vejamos: Fase de formação, Período de formação, Período colonial, Época de formação (para o primeiro período), Fase de desenvolvimento, Estádio de transição, Período de transformação, Época de transformação (para o segundo período) e Reforma, Período nacional, Período autonômico, Época de transformação autonômica (para o terceiro período). Ocorre que as nomenclaturas usadas por Afrânio Peixoto (Literatura colonial, Literatura reacionária e Literatura emancipada) e Nelson Werneck Sodré ( Literatura colonial, Esboço de literatura nacional e Literatura nacional) se aproximam daquelas usadas pelos outros autores, o que denuncia uma divergência de opiniões sobre a relação período cronológico/período de desenvolvimento literário. Por exemplo: enquanto José Veríssimo aponta a Plêiade mineira como responsável por uma fase de transição e a independência política como um marco significativo o suficiente para determinar o início de uma literatura nacional, Afrânio Peixoto encontra a fase de transição somente no início do Romantismo e uma literatura emancipada a partir do versos abolicionistas de Castro Alves. Nelson Werneck Sodré, por sua vez, reconhece uma literatura nacional somente no presente século, mais ou menos a partir do Movimento Modernista da década de 20.


As convergências e as divergências dos autores que optaram pela divisão tríplice mostram que a periodização não é arbitrária e não pode ser vista como um "mero recurso didático". O sistema periodológico revela um julgamento, um modo de ver o desenvolvimento da literatura. Até Arthur Motta (1930), era bastante freqüente entender como uma fase de "formação" o primeiro período da história literária brasileira. Afrânio Peixoto (1955) ataca tal classificação: "Ainda estamos na adolescência nacional. /(...)/ Não vejo, pois, formação acabada, nem reforma, nem transformação"(9). Paradoxalmente, o autor classifica o seu último período como Literatura emancipada. Antonio Candido, mais coerente, explica com bastante clareza o que entende por formação na sua obra historiográfica:


Mas há várias maneiras de se estudar literatura. Suponhamos que, para se configurar plenamente como sistema articulado, ela dependa da existência do triângulo "autor-obra-público", em interação dinâmica, e de uma certa continuidade da tradição. Sendo assim, a brasileira não nasce, é claro, mas se configura no decorrer do século XVIII, encorpando o processo formativo, que vinha de antes e continua depois. Foi este o pressuposto geral do livro, no que toca ao problema da divisão de períodos. Procurei verificá-lo através das obras dos escritores, postas em absoluto primeiro plano, desde o meado daquele século até o momento em que a nossa literatura aparece integrada, articulada com a sociedade, pesando e fazendo sentir a sua presença, isto é, no último quartel do século XIX."(10)


Além de introduzir a divisão tríplice, a periodização de Santiago Nunes Ribeiro também inaugura um critério mais especificamente literário na classificação dos períodos, com o estabelecimento de autores de transição. Cláudio Manoel da Costa faz a ponte do primeiro para o segundo período e os padres Caldas e São Carlos e José Bonifácio deste para o terceiro.


O critério usado por Santiago Nunes Ribeiro é retomado por Silvio Romero na segunda edição de História da literatura brasileira, de 1902. Apesar de explicitar no próprio livro a sua posição sociológica, denunciando a sua formação na escola do determinismo positivista, Silvio Romero realiza uma periodização que estabelece os diversos blocos estilísticos usando um critério mais rigoroso em relação aos utilizados até então. As datas limítrofes são as da publicação de obras representativas da literatura brasileira. É verdade que foi passional ao indicar Ensaios de filosofia e crítica, de Tobias Barreto, de 1875, e o primeiro volume do Livro do centenário (A literatura brasileira), de sua própria autoria, de 1900, como iniciadores de novos períodos, mas as outras obras que sugere continuam até hoje como referências na periodização da literatura brasileira: Prosopopéia (1601, e não 1592, "data suposta da 1ª edição" para Silvio Romero), de Bento Teixeira, Obras poéticas (1768), de Cláudio Manoel da Costa, Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães, e Broquéis (1893), de Cruz e Souza.


No prólogo da edição de 1902 da História da literatura brasileira, Silvio Romero ainda sugere duas novas divisões. Na primeira divide a história da literatura brasileira em Período clássico (1549-1836), Período romântico (1836-1870) e Período das reações antirromânticas (a partir de 1870). Na segunda, há um simplificação ainda maior: Período puramente clássico (1592-1792) e Período de transformações ulteriores (a partir de 1792). E conclui dizendo que "são, como se vê, quatro classificações e divisões diversas, o que importa afirmar não fazer o autor grande cabedal da que propôs no texto do livro e destas que aí ficam."(11) Dessa forma, procura sustentar a sua indefinição com a idéia de que a periodização não representa um fator importante na história da literatura. Mas a insignificância que atribui à questão não estará mascarando uma dificuldade em encontrar uma solução satisfatória para o problema?


Esta dificuldade foi assumida por Fernandes Pinheiro ao propor o seu sistema de periodização: "Adotando a divisão por períodos literários, na ordem do séculos, não desconhecemos a inconseqüência de semelhante classificação, visto como prolongam-se interminadamente no seguinte as idéias dominantes no anterior, não se sabendo ao certo quando acabam as antigas, nem se podendo fixar o ponto de partida das novas idéias."(12).


Preocupação semelhante demonstra José Veríssimo quando assevera que "uma escola literária não morre de todo porque outra a substitui."(13). O problema é sério, mas não é exclusivo da literatura. Qualquer classificação de disciplina que verse sobre a conduta e o pensamento humanos enfrenta esta dificuldade. Em se tratando de literatura, há duas atitudes bastante comuns frente ao problema: simplificá-lo, o que pode favorecer uma ilusória sensação de segurança, e ignorá-lo, por acreditá-lo sem solução.


Em A literatura no Brasil, Afrânio Countinho faz a opção pelo enfrentamento do problema. Na introdução o escritor critica as divisões periodológicas adotadas até então, compreendidas por ele como puramente cronológicas ou condicionadas à história política. Fundamentando sua posição nas idéias de René Wellek, Afrânio Coutinho formula uma periodização estilística: Barroco, Neoclassicismo, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Impressionismo e Modernismo. Dessa forma, reconhece a literatura como realidade estética autônoma. Ao mesmo tempo, admite o problema apontado por Fernandes Pinheiro e José Veríssimo e procura superá-lo através de um classificação que respeita mais a individualidade do escritor, sem dar às datas limítrofes a importância que antes tinham. É verdade que no interior do texto há referências a fatos representativos da literatura, com suas respectivas datas, mas não há mais um esquema rigoroso, que enquadre artistas e obras em períodos precisos. Dessa forma, há uma compreensão maior sobre o modo como os blocos literários se imbricam.


Antonio Candido dá prosseguimento ao trabalho de Afrânio Coutinho no que diz respeito a este imbricamento em Formação da literatura brasileira, realizando-o de maneira mais efetiva. No seu texto autores e obras se comunicam a todo momento. É claro que as aproximações no interior de um estilo de época são muito mais freqüentes, o que explica a própria idéia de período literário, em que prevalece um sistema de normas e padrões estilísticos. Mas a comunicação ocorre, também, entre os períodos, como podemos ver no exemplo que segue: "Junqueira Freire chora, se revolta, tem desejos insatisfeitos, clama na sua cela e traz desordenadamente este tumulto ao leitor. É mais apaixonado ou sincero do que, por exemplo, Tomás Gonzaga, escrevendo com emoção freada, na masmorra da Ilha das Cobras? De modo algum."(14)


A utilização do conceito de "continuidade" e de "dinamismo dialético" na relação de obras, autores e períodos aproxima Formação da literatura brasileira da idéia de poética sincrônica, de Roman Jakobson, retomada e desenvolvida por Haroldo de Campos em Por uma poética sincrônica. A proposta contida neste ensaio sugere uma revisão do panorama diacrônico da historiografia literária, estabelecendo uma ótica do presente para as obras, o que possibilitaria sincronizar, por exemplo, Sousândrade e a poesia concreta, segundo lembra o próprio Haroldo de Campos. No caso de Antonio Candido, a diacronia não é abandonada, já que há uma linha temporal presidindo os estudos que realiza, mas a história da literatura não é tratada como uma simples sucessão de períodos estilísticos.


O livro de Antonio Candido não é propriamente uma história da literatura brasileira, já que o autor prefere trabalhar uma parcela cronológica (1750-1880). Nem por isso deixa de fazer historiografia. Formação da literatura brasileira mostra bem a articulação das obras no tempo. E a escolha da fração cronológica é justificada através do termo "momentos decisivos", sub-título do livro, cuja idéia é desenvolvida no corpo do texto. O propósito de Antonio Candido é mostrar a importância dos dois períodos que estuda (Arcadismo e Romantismo) na formação da nossa literatura. E neste aspecto faz uma revisão historiográfica, pois desloca o conceito de formação no eixo temporal.


Antonio Candido privilegia o elemento estético e reconhece a autonomia da literatura, como quer Afrânio Coutinho. A divisão periodológica que estabelece em Formação da literatura brasileira revela essa postura. É o critério estilístico que aponta 1836 como divisor de águas, embora não haja rigor nesta proposta, pois é dada ênfase à idéia de movimento entre obras e períodos. Por outro lado, o autor não se esquece de que o fenômeno literário não pode ser isolado de um contexto histórico-social, ainda mais numa obra historiográfica. Antonio Candido diz que existe um estreita solidariedade entre o Arcadismo e o Romantismo, "pois se a atitude estética os separa radicalmente, a vocação histórica os aproxima, constituindo ambos um largo movimento /(...)/"(15) Ou seja: os "momentos decisivos" são marcados por obras que participam de um processo histórico, compromissadas com a vida nacional, e que acabarão por elaborar o sistema necessário à existência de uma "literatura propriamente dita".


Alfredo Bosi também usa o critério estilístico na divisão periodológica de História concisa da literatura brasileira, repetindo a mesma tendência em não definir datas limítrofes rigorosas. O que difere a sua obra dos volumes de Afrânio Coutinho é o cuidado que teve em classificar as produções anteriores ao Arcadismo e posteriores à década de 30 do presente século. Ao chamar de Condição colonial e Ecos do Barroco os capítulos em que descreve a literatura produzida no Brasil até o aparecimento dos árcades, deixa clara a impossibilidade de uma classificação mais rigorosa para este período inicial. Retoma, de certa forma, as idéias de Antonio Candido, que chama de "manifestações literárias" as produções brasileiras até as Academias do século XVIII. E mesmo as de José Veríssimo, embora este seja mais cético em relação às nossas primeiras letras: "/(...)/ uma literatura que em trezentos anos da sua existência apagada e mesquinha não experimentou outras reações que as da Metrópole, servilmente seguida."(16) Os "ecos" a que se refere Alfredo Bosi também são do barroco europeu.


Quanto às produções mais recentes, Alfredo Bosi as classifica como Tendências contemporâneas. O termo é genérico, mas pode se alegar que também o Modernismo parte do mesmo princípio de contemporaneidade e permanece até hoje. Este período, porém, indica mais que o hodierno, o que faz com que obras escritas no Modernismo não sejam "modernas". A escolha de Alfredo Bosi se deve, em verdade, à falta de um termo mais específico.


De qualquer forma, ao estabelecer a divisão que distingue o Modernismo de Tendências contemporâneas, História concisa da literatura brasileira realiza um julgamento, o qual é explicitado na parte introdutória do último capítulo. Alfredo Bosi reconhece nas obras da década de 30 e 40 um amadurecimento da nossa literatura, uma superação do caráter aventureiro e romântico da década de 20, embora não negue a contribuição do decênio marcado pela Semana de Arte Moderna.


A discussão sobre as possibilidades de divisão da literatura moderna é anterior a Alfredo Bosi. Em 1956, Alceu Amoroso Lima já propõe 1930 como limite para o Modernismo, denominando de Pós-modernismo a nova fase que se inicia naquela data. Ainda segundo o crítico, o ano de 1945 também marca o início de uma nova fase, o Neomodernismo. Afrânio Coutinho discorda da terminologia por acreditar que as alterações não foram tão radicais para justificarem os prefixos "pós" e "neo". Para ele, o caráter modernista preside toda produção desde 1922, apesar de concordar com a existência destas três fases dentro do movimento. A elas Luciana Stegagno Picchio ainda acrescenta uma quarta, que se inicia em 1964, com o golpe militar.


De Gonçalves de Magalhães a Luciana Stegagno Picchio há mudanças na periodização da literatura brasileira que indicam uma evolução em direção à compreensão da literatura como um fenômeno autonômico. De uma periodização condicionada a fatos políticos ou simplesmente cronológica (com divisões baseadas em séculos ou décadas), passa-se a uma periodização estilística. Isso não significa que antes a historiografia negasse o elemento estético e que hoje a política e a cronologia não sejam consideradas. Quando Gonçalves de Magalhães estabelece o ano de 1808 como divisor de águas entre os dois períodos que reconhece na literatura brasileira, ele o faz consciente das alterações que provoca a chegada da família real ao Brasil e suas conseqüências na vida literária do país. E Afrânio Coutinho, ao optar por dividir a literatura brasileira em estilos de época, não se esquece das inevitáveis relações entre o fenômeno literário e o desenvolvimento político-social, bem como da cronologia, já que considera a evolução estilística através dos tempos.


Qualquer que seja a solução que se encontre para o problema da periodologia, não se pode esquecer da dualidade básica que preside a questão: história e literatura. "Quando" e "onde" são perguntas fundamentais da história que necessitam de resposta. Afinal, a literatura, mesmo com características de atemporalidade e universalidade, está fatalmente ligada a um lugar e a um tempo. Esta certeza cria dificuldades quando estudamos obras ímpares, como as de Machado de Assis. Daí José Veríssimo e Luciana Stegagno Picchio reservarem um capítulo especial para o autor. Outros simplificam o problema, enquadrando o escritor na escola que é contemporânea às suas produções. Mas casos como o de Machado de Assis não desautorizam a periodologia. Alerta, porém, para a necessidade de priorizar sempre a literatura. Afinal, se a história responde às perguntas "onde" e "quando", a literatura constitui a resposta para a questão primordial: "o que".


NOTAS
1. A primeira edição desse livro é de 1972.
2. VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
3. Ibid, p.2.
4. Ibid, p.6.
5. AMORA, Antonio Soares. História da literatura brasileira. Lisboa: Ática, 1961.
6. Ibid, p.24.
7. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, v.I.
8. VIANNA MOOG, Clodomir. Uma interpretação da literatura brasileira. In: Uma interpretação da literatura brasileira e outros escritos. Introdução de Clóvis Ramalhete. Rio de Janeiro: Delta, 1966. p.105-130.
9. PEIXOTO, Afrânio. Noções de história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Franscisco Alves, 1931.
10. CANDIDO, A. p.16. Obs: os grifos são nossos.
11. ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Tomo Primeiro. 3ª ed. aumentada. Organizada e prefaciada por Nelson Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
12. LIMA, Alceu Amoroso. Introdução à literatura brasileira. 4ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1968.
13. VERÍSSIMO, J. p.9.
14. CANDIDO, A. v.2, p.157.
15. CANDIDO, A. v.1, p.16.
16. VERÍSSIMO, J. p.3.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


01.AMORA, Antonio Soares. História da literatura brasileira. Lisboa: Ática, 1961.
02.BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3ª ed. São Paulo: Cultrix, 1985.
03.CAMPOS, Haroldo de. Por uma poética sincrônica. In: A arte no horizonte do provável. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1972. p.205-223.
04.CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 981, v.I.
05.CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, v. II.
06. COUTINHO, Afrânio (org.). A literatura no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editorial Sul Americana, 1968, v. I.
07. COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1968.
8. LIMA, Alceu Amoroso. Introdução à literatura brasileira. 4ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1968.
9. MOTTA, Arthur. História da literatura brasileira: época de formação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1930.
10. PEIXOTO, Afrânio. Noções de história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Franscisco Alves, 1931.
11 . PICCHIO, Luciana Stegagno. História da literatura brasileira. Tradução por Pérola de Carvalho e Alice Kyoko. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1997.
12. RIBEIRO, Santiago Nunes. Da nacionalidade da literatura brasileira. In: Caminhos do pensamento crítico (org. Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro: Pallas/INL-MEC, 1972, v.1. p.42-72.
13.ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Tomo Primeiro. 3ª ed. aumentada. Organizada e prefaciada por Nelson Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
14. SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira: Seus fundamentos econômicos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1969.
15. VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
16. VIANNA MOOG, Clodomir. Uma interpretação da literatura brasileira. In: Uma interpretação da literatura brasileira e outros escritos. Introdução de Clóvis Ramalhete. Rio de Janeiro: Delta, 1966. p.105-130.
17. WOLF, Ferdinand. O Brasil literário; história da literatura brasileira. Tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955.




2º TEXTO:

Quinhentismo (século XVI)



Representa a fase inicial da literatura brasileira, pois ocorreu no começo da colonização. Representante da Literatura Jesuíta ou de Catequese, destaca-se Padre José de Anchieta com seus poemas, autos, sermões cartas e hinos. O objetivo principal deste padre jesuíta, com sua produção literária, era catequizar os índios brasileiros. Nesta época, destaca-se ainda Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Através de suas cartas e seu diário, elaborou uma literatura de Informação ( de viagem ) sobre o Brasil. O objetivo de Caminha era informar o rei de Portugal sobre as características geográficas, vegetais e sociais da nova terra.


Barroco ( século XVII )


Essa época foi marcada pelas oposições e pelos conflitos espirituais. Esse contexto histórico acabou influenciando na produção literária, gerando o fenômeno do barroco. As obras são marcadas pela angústia e pela oposição entre o mundo material e o espiritual. Metáforas, antíteses e hipérboles são as figuras de linguagem mais usadas neste período. Podemos citar como principais representantes desta época: Bento Teixeira, autor de Prosopopéia; Gregório de Matos Guerra ( Boca do Inferno ), autor de várias poesias críticas e satíricas; e padre Antônio Vieira, autor de Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes.


Neoclassicismo ou Arcadismo ( século XVIII )


O século XVIII é marcado pela ascensão da burguesia e de seus valores. Esse fato influenciou na produção da obras desta época. Enquanto as preocupações e conflitos do barroco são deixados de lado, entra em cena o objetivismo e a razão. A linguagem complexa é trocada por uma linguagem mais fácil. Os ideais de vida no campo são retomados ( fugere urbem = fuga das cidades ) e a vida bucólica passa a ser valorizada, assim como a idealização da natureza e da mulher amada. As principais obras desta época são: Obra Poética de Cláudio Manoel da Costa, O Uraguai de Basílio da Gama, Cartas Chilenas e Marília de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga, Caramuru de Frei José de Santa Rita Durão.


Romantismo ( século XIX )


A modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real portuguesa em 1808, e a Independência do Brasil em 1822 são dois fatos históricos que influenciaram na literatura do período. Como características principais do romantismo, podemos citar : individualismo, nacionalismo, retomada dos fatos históricos importantes, idealização da mulher, espírito criativo e sonhador, valorização da liberdade e o uso de metáforas. As principais obras românticas que podemos citar : O Guarani de José de Alencar, Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães, Espumas Flutuantes de Castro Alves, Primeiros Cantos de Gonçalves Dias. Outros importantes escritores e poetas do período: Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e Teixeira e Souza.


Realismo - Naturalismo ( segunda metade do século XIX )


Na segunda metade do século XIX, a literatura romântica entrou em declínio, juntos com seus ideais. Os escritores e poetas realistas começam a falar da realidade social e dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como características desta fase, podemos citar : objetivismo, linguagem popular, trama psicológica, valorização de personagens inspirados na realidade, uso de cenas cotidianas, crítica social, visão irônica da realidade. O principal representante desta fase foi Machado de Assis com as obras : Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista. Podemos citar ainda como escritores realistas Aluisio de Azedo autor de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia autor de O Ateneu.


Parnasianismo ( final do século XIX e início do século XX )


O parnasianismo buscou os temas clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura alienada, pois não retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.


Simbolismo ( fins do século XIX )


Esta fase literária inicia-se com a publicação de Missal e Broquéis de João da Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens.


Pré-Modernismo (1902 até 1922)


Este período é marcado pela transição, pois o modernismo só começou em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Está época é marcada pelo regionalismo, positivismo, busca dos valores tradicionais, linguagem coloquial e valorização dos problemas sociais. Os principais autores deste período são: Euclides da Cunha (autor de Os Sertões), Monteiro Lobato, Lima Barreto, autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma e Augusto dos Anjos.


Modernismo (1922 a 1930)


Este período começa com a Semana de Arte Moderna de 1922. As principais características da literatura modernista são : nacionalismo, temas do cotidiano (urbanos) , linguagem com humor, liberdade no uso de palavras e textos diretos. Principais escritores modernistas : Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.


Neo-Realismo (1930 a 1945)


Fase da literatura brasileira na qual os escritores retomam as críticas e as denúncias aos grandes problemas sociais do Brasil. Os assuntos místicos, religiosos e urbanos também são retomados. Destacam-se as seguintes obras : Vidas Secas de Graciliano Ramos, Fogo Morto de José Lins do Rego, O Quinze de Raquel de Queiróz e O País do Carnaval de Jorge Amado. Os principais poetas desta época são: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Cecilia Meireles.


A literatura que se escreve no Brasil é já a expressão de um pensamento e sentimento que se não confundem mais com o português, e em forma que, apesar da comunidade da língua, não é mais inteiramente portuguesa. É isto absolutamente certo desde o Romantismo, que foi a nossa emancipação literária, seguindo-se naturalmente à nossa independência política. Mas o sentimento que o promoveu e princi- palmente o distinguiu, o espírito nativista primeiro e o nacionalista depois, esse se veio formando desde as nossas primeiras manifestações literárias, sem que a vassalagem ao pensamento e ao espírito português lograsse jamais abafá-lo. É exatamente essa persistência no tempo e no espaço de tal sentimento, manifestado literariamente, que dá à nossa literatura a unidade e lhe justifica a autonomia. A nossa literatura colonial manteve aqui tão viva quanto lhe era possível a tradição literária portuguesa. Submissa a esta e repetindo-lhe as manifestações, embora sem nenhuma excelência e antes inferiormente, animou-a todavia desde o princípio o nativo sentimento de apego à terra e afeto às suas cousas. Ainda sem propósito acabaria este sentimento por determinar manifestações literárias que em estilo diverso do da metrópole viessem a exprimir um gênio nacional que paulatinamente se diferençava. Necessariamente nasceu e desenvolveu-se a literatura no Brasil como rebento da portuguesa e seu reflexo. Nenhuma outra apreciável influência espiritual experimentou no período da sua formação, que é o colonial. Também do próprio meio em que se ia daquela formando lhe não proveio então qualquer influxo mental que pudesse contribuir para distingui-la. E como assim foi até quase acabar o século XVIII, não apresenta períodos claros e definidos da sua evolução nesse lapso. As reações que daquele meio porventura sofreu foram apenas de ordem física, a impressão da terra em seus filhos; de ordem fisiológica, os naturais efeitos dos cruzamentos que aqui produziram novos tipos étnicos; e de ordem política e social, resultantes das lutas com os holandeses e outros forasteiros, das expedições conquistadoras do sertão, dos descobrimentos das minas e conseqüente dilatação do país e aumento da sua riqueza e importância. Estas reações não bastaram para de qualquer modo infirmar a influência espiritual portuguesa e minguar-lhe os efeitos. Criaram, porém, o sentimento por onde a literatura aqui se viria a diferençar da portuguesa. As divisões até hoje feitas no desenvolvimento da nossa literatura não parece correspondam à realidade dos fatos. Mostra-o a sua mesma variação e diversidade nos diferentes historiadores da nossa literatura, e até mesmo no principal deles, incoerente consigo mesmo. Após acurado estudo desses fatos tenho por impossível e vão assentá-los em divisões perfeitamente exatas ou dispô-los em bem distintas categorias. Fazê-lo com êxito importaria o mesmo que descobrir outros tantos aspectos diversos e característicos em uma literatura sem autonomia, atividade e riqueza bastantes para se nela passarem as alterações de inspiração, de


estesia ou de estilo que discriminam e assentam os períodos literários; uma literatura que em trezentos anos da sua existência apagada e mesquinha não experimentou outras reações espirituais que as da Metrópole, servilmente seguida. Assim sendo,


NOTA:


A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas européias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti.


Participações e como foi


Em um período repleto de agitações, os intelectuais brasileiros se viram em um momento em que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário, e do qual, não se sabia ao certo o rumo a ser seguido.


No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia. Entre os escritores modernistas destacam-se: Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Na pintura, destacou-se Anita Malfatti, que realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.


A Semana, na verdade, foi a explosão de idéias inovadoras que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com a incompreensão e com a completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Manuel Bandeira, ao recitar seu poema Os sapos, foi desaprovado pela platéia através de muitas vaias e gritos.


Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas idéias ao longo do tempo. O movimento modernista continuou a expandir-se por divulgações através da Revista Antropofágica e da Revista Klaxon, e também pelos seguintes movimentos: Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Verde-Amarelismo e pelo Movimento Antropofágico.


Todo novo movimento artístico é uma ruptura com os padrões utilizados pelo anterior, isto vale para todas as formas de expressões, sejam elas através da pintura, literatura, escultura, poesia, etc. Ocorre que nem sempre o novo é bem aceito, isto foi bastante evidente no caso do Modernismo, que, a principio, chocou por fugir completamente da estética européia tradicional que influenciava os artistas brasileiros.

1ª ATIVIDADE - MÓDULO: O poder da palavra e a palavra do poder

Para começar...


Palavras são poderosas. Como os produtos químicos, elas mudam a química interna do corpo.

As palavras têm poder?


Alguns dirão que sim, outros que talvez e haverá ainda os que negarão com veemência...


Tudo o que existe em nosso universo veio a existir pelo poder da palavra.


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez."

"Faça-se a luz!" E com essas palavras Deus criou o universo. O poder, na gênese do mundo, vinha do verbo. Na Bíblia, e em volumes antigos de retórica, literatura e ciência, os nomes estão cobertos de autoridade. Nos tempos modernos, essa força ganha outras cores. E os livros de auto-ajuda chegam repletos de conselhos linguísticos para alcançar a felicidade.

Palavra vem do latim 'parabola', de origem grega (parabole), em sentindo vulgar exprime o som articulado, que contém um sentido ou um significado.

Usar a palavra significa falar, manifestar um pensamento por meio de discurso ou orações faladas.

A palavra é poderosa, ela pode confortar, magoar, fazer sorrir ou chorar. Uma palavra pode manifestar carinho, pode ser uma ofensa, uma promessa e até um verdadeiro tapa na cara, mais que isso, a palavra tem o poder exprimir idéias.

O Ser Humano é o único ser vivo no planeta Terra que utiliza a palavra como meio de comunicação intrapessoal (consigo mesmo) e interpessoal (com o outro). A palavra é um símbolo que expressa uma idéia, e está intrinsicamente relacionada com nossa mente. A mente, por sua vez, está relacionada diretamente com nossos sentimentos, com nosso corpo, com nossas atitudes e com nossas ações. A palavra escrita ou falada por nós tem grande influência na maneira como vivemos, pois é através dela que a maioria das pessoas se comunica com o mundo externo e até interno. Percebemos o poder que a palavra tem em nossa sociedade através de frases do tipo: "Dou-lhe a minha palavra !", "Quero a sua palavra.", "Dito e feito !" etc.

A palavra também está diretamente relacionada à capacidade de realização pessoal de cada um. Aquilo que acreditamos em nossas vidas são formuladas por frases que adotamos como verdade. Tais frases, também conhecidas por crenças, moldam a realidade à nossa volta.

Apesar de haver muitos modos de conhecer o mundo, através do mito, da arte, da ciência, cada um deles com sua linguagem específica, é através da linguagem verbal que melhor se manifesta o pensamento abstrato que faz uso de idéias e conceitos gerais. Por isso, vamos começar nossa discussão exatamente caracterizando a linguagem verbal.

Ao nascer todo bebê está desprovido, dentre outras coisas, da palavra ou fala. Apesar desta dificuldade inicial, o bebê irá desenvolver rapidamente esta maravilhosa ferramenta de comunicação. É através da fala que o bebê conseguirá potencializar o processo de aprendizagem. Este ciclo da vida se repete por anos, séculos e milênios e graças a ele permitiu que a raça humana se organizasse e constituísse o ser dominante em todo planeta.

A linguagem dirige nossos pensamentos para direções especificas e, de alguma forma, ela nos ajuda a criar a nossa realidade, potencializando ou limitando as nossas possibilidades. A habilidade de usar a linguagem com precisão é essencial para uma boa comunicação.

Palavras e pensamentos: aspectos interdependentes

A linguagem, segundo estudiosos, é uma função inata que permite ao indivíduo simbolizar o seu pensamento e decodificar o pensamento do outro. Através dela facilita-se a troca de experiências e conhecimentos, interferindo na percepção da realidade.

A origem da linguagem é resultado de um processo de socialização do ser humano, que é estimulado pelo meio em que se vive, no qual ocorre a adequação dele e a transformação, proporcionando associações das diferentes áreas sensitivas, perceptivas e motoras.

O pensamento precede a linguagem, que também é considerada outra forma de pensamento. A etapa das imagens mentais precede a primeira palavra da criança. As imagens mentais, segundo estudiosos, são cópias ativas da realidade que é organizada pelo cérebro.

É de extrema importância que fique bem esclarecido que ao fazer referência da palavra imagem a primeira coisa que vem em mente são as imagens, porém não se restringe aos modelos visuais, considera-se também as auditivas, somestésicas, cinestésicas, etc

Na medida em que a criança se desenvolve e aprende sobre os indivíduos, linguagem e objetos de forma simultânea, logo em seguida esse se modifica devido à linguagem que sofre algumas influências de outras aquisições.

Primeiramente, se desenvolve a compreensão por volta dos 3 meses, quando a criança já apresenta compreensão das situações e em seguida a expressão. São processos independentes, porém na aquisição do vocabulário, do ponto de vista interno permitida pela expressão, faz com que a compreensão se desenvolva mais.

Por Elen Cristine Campos Caiado - Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia


Leia os textos a seguir e destaque o que eles têm em comum.

Texto 1: A PALAVRA MÁGICA

Silvestre, um pacato viúvo sem filhos, vive numa vila onde todos usufruem da sua boa vontade. Um dia, envolve-se numa discussão com o Ramos da loja, que o trata de inócuo, palavra que ouvira num folhetim.

O rumor faz com que a palavra maldita se espalhe pela freguesia, conotada de sentidos pejorativos e pronunciada de maneiras diversas. Começa por significar vadio, passando a bêbedo na boca da mulher do Paulino. Mais tarde, quando um vigarista vendedor de drogas entra na aldeia, a palavra ganha o sentido de trampolineiro ou ladrão dos finos e, quando o Rainha mata o marido da amante, sendo catalogado com o mesmo termo, “inoque” já significa devasso e assassino.

Como uma bola de neve, a palavra transforma-se num insulto terrível, chegando ao Perdigão dos Cabritos e, meses depois, a um cabeleireiro que chegou à vila, adquirindo então novos significados como parricida, incendiário, pederasta ou escroque, sendo até utilizada para desabafos do género poça ou bolas.

Quando começaram a ser julgadas as primeiras queixas no tribunal da vila contra a injúria de “noque”, “inóque” ou “inóquo”, o juiz, apercebendo-se do verdadeiro significado da palavra, fica incrédulo perante a confusão gerada, pois inócuo significa “que não faz dano, inofensivo”. E foi assim que Bernardino, um dos primeiros queixosos, perdeu a causa.

Texto 2: Desenvolva uma boa relação com a palavra “não”

A dificuldade que uma pessoa tem de dizer ou ouvir "não" esta diretamente relacionado com sua auto-estima.

John Kenney, ex-presidente dos EUA dizia que a fórmula do fracasso era querer agradar a todos. Acostumar-se a dizer "sim" para todos e "não" apenas aos seus próprios sonhos e desejos é acostumar-se às decepções.

É importante desenvolver a habilidade de dizer "não" aqueles que você ama. Essa incapacidade reside em um medo inconsciente de ficar sozinho, ser abandonado. Só que observando ao redor irá perceber que ficaram sozinhos apenas aqueles que não se valorizaram não sendo reconhecidos por aqueles que ama e ajuda. Por isso antes de culpar outros por suas decepções aprenda a falar não quando for preciso e aqueles que realmente te amam irão entender seus motivos.

Uma vida mais realizada reside no equilíbrio de não ser passivo ao ponto de abusarem de você nem agressivo ao ponto de afastar a pessoas de seu convívio. A chave é a assertividade sendo sincero com você mesmo. Sem ser agressivo você deve fazer com que outros respeitem sua resposta. Com isso você irá ficar muito mais prático em dizer "não" aos vícios por exemplo.

Outro obstáculo da palavra "não" que atinge aqueles com baixa auto-estima é o medo de ouvir "não" que os impede de solicitar o que querem. São pessoas quietas e passivas que não fazem novas amizades porque temem a rejeição. Para essas pessoas eu digo: solicite sempre que precisar de algo. O máximo que pode acontecer é você ouvir um "não" e nesse caso sua situação atual não se altera em nada, já se ouvir um sim você se sentirá contente e orgulhosa por ter arriscado.

Desde que aprendi a dizer “não” minha vida tem se desenvolvido inclusive profissionalmente porque a coragem de arriscar e ouvir um “não” deixa implícito que eu acredito em meu potencial e estou aberta a oportunidades.

Portanto, sabendo que os resultados da sua vida dependem de sua mudança de atitude faça uma lista dos "nãos" que você precisa aprender a dizer e de tudo que você quer conseguir e solicitar arriscando ouvir um "não".

Pense Bem...

"Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta. Nos perguntamos: ‘Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?’ Na verdade, quem é você para não ser tudo isso? Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo". (Trecho do discurso de Nelson Mandela - nascido em 1918 )

Texto 3 : O Mundo Maravilhoso da Palavra intraduzível

Cada língua possui uma abordagem distinta para a mesma realidade, mas suas diferenças podem ser apenas aparentes.

Que o amor é complicado ninguém questiona. O povo boro, na índia, tem um vocabulário aparentemente bem mais atento às nuances desse sentimento do que muitas línguas: para eles Onsay significa´fingir amar`, Ongubsy, ´´amar de verdade`` e Onsia, ´´amar pela última vez``.

É como se certos povos vissem e sentissem certas coisas e fenômenos a que outros não parecem atentos.

Sentida diferente, a experiência humana é parecida em lugares, os mais diversos.

Cada língua tem ´´palavras de toque`` , cristais raros, que concentram a aventura humana de uma cultura.

A cultura dos povos manifesta-se principalmente por meio de sua língua.

Há termos que carrega uma forte carga cultural, e quanto mais intensa ela ela for, maiores serão as barreiras tradutórias.

Um dos maiores desafios do tradutor de obras literárias, é encontrar palavras que reflitam o estranhamento de uma realidade alheia _ homens, cores, plantas, odores e ritmos de uma cultura.

Pelas palavras dos outros vemos outras realidades, outras paisagens, comportamentos; que talvez estejam aqui também, entre nós, invisíveis porém.

O alemão produz muitas palavras compostas: ao se juntarem dois radicais, o significado de um se projeta sobre o outro, que gera um terceiro significado que, por sua vez não representa simplesmente a soma dos dois.

Há muito se acabou o zelo solitário dos lexicógrafos da Era Vitoriana.

Cada língua tem palavras ´´sem tradução`` mas a experiência humana é comum a vários povos.

O mito do intraduzível insinua um desejo de superação: O tradutor se debate com o ´´o genio da língua``, que ganha proporção de montanhas, abismos, imagens de pequenez e vertigem.

Os inimigos do tradutor são a ´´densidade`` (a opacidade), a ´´riqueza``, a ´´raridade`` (preciosidade) da língua a ser traduzida, que parecem sempre maiores do que a da língua para a qual se traduzirá, que parece estar em posição de deficiência, de falta.

No culto do intraduzível, há fascínio pela impossibilidade de dizer. Fascínio e medo: admiramos quem pode nos dizer o que não podemos, duvidamos de quem nos ensina a dizer o que antes não achávamos que podíamos.

ninamar

anap_ferr@hotmail.com

Texto 4: Defenestração

Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.

- Os hermeneutas estão chegando!

- Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...

Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.

- Alo...

- O que é que você quer dizer com isso?

Traquinagem devia ser uma peça mecânica.

- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

Plúmbeo devia ser um barulho que o corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

- Defenestras?

A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam. Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais. Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:

- Aquele é um defenestrado.

Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata. Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião (dicionário do Aurélio Buarque) que não me deixa mentir. ¿ Defenestração¿ vem do francês ¿defenestration¿. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela. Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração? (...) Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada. Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.

-Querida...

-Mmmm?

- Há uma coisa que preciso lhe dizer...

-Fala, Amor

-Sou um defenestrador.

E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama: Estou pronta para experimentar tudo com você! TUDO! Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e babulcia:

- fui defenestrado...

Alguém comenta:

- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?

Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti. (Luís Fernando Veríssimo)

Texto 5: O PODER DA PALAVRA

Lancei aos meus alunos (do 10º ano) o desafio de escreverem um texto sobre o Poder da Palavra.

Surgiram ideias interessantes. Sublinhou-se uma certa superstição em relação à palavra. Analisaram-se situações de atribuição de um poder mágico: acontece algo só porque se pronunciou isto ou aquilo. Essa crença está presente quando com três batidas em objeto de madeira se afasta o perigo do que se enunciou por palavras.

Mas este poder mágico parece desvanecer(-se), quando é necessário referir uma realidade menos agradável, logo ocultada por perífrases de caráter eufemístico, mostrando como as palavras são formas simbólicas de representação do mundo. Tome-se por exemplo a lepra como metáfora de "pecado". Atualmente, o termo "cancro" embarga a voz e é difícil de pronunciar. Mais uma vez a magia da palavra ultrapassa a barreira do incomunicável e surgem as expressões "doença incurável", "doença que não perdoa", "doença prolongada".

Também no âmbito da Religião, a palavra parece ter o seu quê de magia. A Consagração, no ritual da Missa Católica, serve de paradigma maior. Mas são também as palavras que dão voz ao "Senhor que derruba os cedros, que varre as florestas e faz ecoar os trovões". São as palavras que criam o Mundo (o Génesis o "prova": Deus disse... e o Mundo foi feito), que criam a pessoa de Jesus Cristo (e "o Verbo se fez carne e habitou entre nós"). São essas mesmas palavras que fazem surgir a imagem de um Deus próximo dos homens, de um Deus comunicante.

As palavras servem também para representar um Diabo disfarçado de "Diacho", "Diabro", "Anjo Mau", "Príncipe das Trevas"...

Mas e o poder das palavras sobre quem as profere, quem as ouve, quem as lê?

Não existe "repouso" no poder das palavras,

porque nelas se espelha, se empenha,

se renova o que há de mais profundo

na condição humana.

E como explicar "as palavras doces", "as falinhas mansas", "o paleio", "o palavreado"?

Poder-se-á falar no poder de sedução das palavras?

Muitas vezes, elas não passam de alívio para quem as diz, de música para o ouvido de quem as escuta,

ou simplesmente, leva-as o vento.

Nota: A palavra aparece no centro dos contos tradicionais ou em situações de exigência (como forma) de controlo. Todo o "Abracadabra" ou "Abre-te Sésamo" fechava ou abria mundos -- riquezas. E os universos (pessoais) que as palavras podem abrir -- ou fechar? Na sua versão moderna, a "password", a palavra passe.( Professora de Língua Portuguesa, Aida Santos)


Texto 6: O PODER DAS PALAVRAS

"A corrupção é endêmica na cultura brasileira", escreveu o Departamento de Comércio dos Estados Unidos a empresários americanos.

A embaixada americana reconheceu que a frase é inexata, desculpou-se e retirou o adjetivo. Segundo James Robin, porta-voz do Departamento de Estado americano, a intenção era usar a palavra widespread (=difundido, comum) sem implicar ofensa alguma.

Aqui está o problema. Não tinha a intenção, mas ofendeu.

Existem palavras que possuem cargas negativas, ofensivas ou pejorativas. Observe como o verbo MORRER tem um peso maior que FALECER. Isso não significa que quem faleça morra menos. É uma questão de carga, talvez de fundo psicológico ou social. Compare LÁBIO e BEIÇO. BEIÇO é pejorativo e preconceituoso. É usado para ofender e discriminar.

Devemos ter cuidado com as palavras. Elas têm alma. E a nossa corrupção é ou não "endêmica"? O Brasil reagiu. O presidente do Senado na época, Antônio Carlos Magalhães, aplaudido até pelos partidos de oposição, disse que os americanos são "prepotentes" e não têm autoridade para falar em corrupção.

Todos têm razão. "Endêmica" é um adjetivo que ofende e os americanos não têm moral para falar em corrupção. Se eles têm corrupção, não podem falar da nossa. A nossa corrupção não pode ser ofendida assim, com uma palavra tão "baixa". É preciso defendê-la: "A corrupção é nossa e ninguém tasca". Ninguém pode ofender assim um "orgulho nacional" Eles estão pensando o quê? Que a nossa corrupção é "doente"? Que um dia, talvez, ela possa ser erradicada? Não e não! A nossa corrupção é muito "sadia".

Lamentável. Reagimos e exigimos que retirassem o adjetivo, mas o substantivo ficou. Feliz o dia em que lutaremos contra o substantivo. Sem ele, não haverá adjetivos e talvez sobre alguma verba para investirmos em educação, na formação dos professores, na luta contra a miséria cultural. Fonte: JB, jornalista Sérgio Noguei


Texto 7: Pensamento e Linguagem (origem do pensamento)

Qual seria a origem do pensamento? Em que momento em nossas vidas passamos a pensar? Segundo Vigotsky existe uma fase pré-linguística no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da fala. O balbucio e o choro da criança e mesmo suas primeiras palavras são claramente estágios do desenvolvimento da fala e não têm nenhuma relação com a evolução do pensamento. Essas manifestações geralmente têm sido consideradas uma forma de comportamento predominantemente emocional, caracterizando a fase pré-linguística da fala. No entanto, nem todas se limitam à função de descarga emocional. As primeiras formas de comportamento da criança e as suas primeiras reações à voz humana mostram que a função social da fala já é aparente durante o primeiro ano de vida, isto é, na fase
pré-intelectual do desenvolvimento da fala.

O mais interessante é que, num certo momento, mais ou menos aos dois anos de idade, as curvas da evolução do pensamento e da fala, até então separadas, encontram-se e unem-se para iniciar uma nova forma de comportamento.

O relato de Stern sobre esse importante evento foi bastante interessante. Ele mostrou como a vontade de dominar a linguagem segue-se à primeira percepção difusa do propósito da fala, quando a criança “faz a maior descoberta de sua vida”, a de que “cada coisa tem seu nome”. (Stern apud Vigotsky, 2000a, p.53). Nesse momento o pensamento torna-se verbal e a fala torna-se racional. Esse instante crucial, em que a fala começa a servir ao intelecto, e o pensamento começa a ser verbalizado, é indicado por dois sintomas objetivos criança pelas palavras, suas perguntas sobre cada coisa nova; e (2) a conseqüente ampliação de seu vocabulário, que ocorre de forma rápida e aos saltos.

Texto 8: A Linguagem Como Atividade Humana – a importância da linguagem

Apesar de haver muitos modos de conhecer o mundo, através do mito, da arte, da ciência, cada um deles com sua linguagem específica, é através da linguagem verbal que melhor se manifesta o pensamento abstrato que faz uso de idéias e conceitos gerais. Por isso, vamos começar nossa discussão exatamente caracterizando a linguagem verbal.

Considerando o homem um ser que fala e a palavra a senha de entrada no mundo humano, vamos examinar mais profundamente o que vem a ser a linguagem especificamente humana. A linguagem é um sistema simbólico. O homem é o único animal capaz de criar símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que representam e, por isso mesmo, convencionais, ou seja, dependentes de aceitação social. Tomemos, por exemplo, a palavra casa. Não há nada no som nem na forma escrita que nos remeta ao objeto por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas ruas). Designar esse objeto pela palavra casa, então, é um ato arbitrário. A partir do momento em que não há relação alguma entre o signo casa e o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção, aceita pela sociedade, de que aquele signo representa aquele objeto. E só a partir dessa aceitação que poderemos nos comunicar, sabendo que, em todas as vezes que usarmos a palavra casa, nosso interlocutor entenderá o que queremos dizer. A linguagem, portanto, é um sistema de representações aceitas por um grupo social, que possibilita a comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo.

Entretanto, na medida em que esse laço entre representação e objeto representado é arbitrário, ele é, necessariamente, uma construção da razão, isto é, uma invenção do sujeito para poder se aproximar da realidade. A linguagem, portanto, é produto da razão e só pode existir onde há racionalidade.

A linguagem é, assim, um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural, pois é ela que nos permite transcender a nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta animal, limitada ao aqui e agora, e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas que só têm existência no nosso pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades como tristeza, beleza, liberdade).

O nome tem a capacidade de tornar presente para a nossa consciência o objeto que está longe de nós. O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto idéia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada; o som da voz do pai; o rosto de um amigo querido. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa cons¬ciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos, através da linguagem, um mundo estável de idéias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Assim é instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida.

Por transcender a situação concreta, o fluir contínuo da vida, o mundo criado pela linguagem se apresenta mais estável e sofre mudanças mais lentas do que o mundo natural. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou sociedade. Podemos passar adiante esta construção da razão que se chama cultura.

ATIVIDADES:
Estudo do módulo: LINGUAGEM E PODER: O TEXTO LEGAL, de autoria de SIMONE GONÇALVES DA SILVA COLEÇÃO: PEC - PROJETO ESCOLA E CIDADANIA – Língua Portuguesa, da Editora do Brasil – págs. 793 a 816.


Contextualizando o módulo: Em uma sociedade como a nossa, são muitas as situações em que uma pessoa, ao longo da vida, precisa cumprir uma série de obrigações legais; mas, se há leis e obrigações, é porque também há direitos. Daí a pergunta: você sabe quais são os seus direitos?

Proposta: Desenvolver o conhecimento sobre os textos organizados na forma de normas e prescrições legais; concomitante o Caderno do aluno nº. 4 – Situação de aprendizagem 2: trabalhando com o gênero discursivo entrevista – “A entrevista e a construção da identidade social”. Consiste, então, de duas aulas para cada abordagem.

Após exposição do primeiro subtítulo, “Normas para reger a vida”, pág. 794, construção do Contrato Político Pedagógico com participação coletiva.

13 comentários:

Ariane disse...

Os textos postados falam sobre o 'poder da palavra' que mesmo a palavra tendo já um significado se não tivermos o conhecimento do tal, inventamos,criamos e
moldamo-as da forma em que achamos necessária. E como trabalhamos na sala de aula, a palavra exerce um poder enorme sobre nós, nossas atitudes e nossos sentimentos, pois a mesma palavra ora nos faz rir, ora nos faz chorar, ou ficar com raiva, enfim, a mesma palavra pode despertar em nós vários sentimentos.

Ariane C. Gregório - 3EMC

Palavras ao vento (...) disse...

Boa parte do que eu penso está sendo citado acima no comentário da Ari. Mais vale incrementar e ressaltar mais algumas coisas, como por exemplo que a palavra também tem o poder de influenciar e manipular. Principalmente se a pessoa não possui conhecimentos como cita o texto "A palavra Mágica". Tudo gira em volta da palavra, é por ela que nos expressamos. O mundo vive assim desde seu primeiro momento. A importância da palavra é inestimável.

amanda disse...

Olá professora,então não posso dizer muito pois esse é o meu primeiro ano com a senhora , mais pelo meu ponto de vista agente vai se dar muito bem. Porque eu adoro as aulas de portugês e estou me identificando muito com o jeito que a senhora explica.

DJ. G disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DJ. G disse...

Bom como as meninas ja disse como o a palavra tem bastante poder, eu e queria encrementar a que tem a palavra da ofênsa. que pode desperta raiva em outras pessoas.

Unknown disse...

O conteúdo que esta sendo discutido em sala de aula e uma matéria muito interessante,ela me fez entender que já nascemos com a capacidade de pensar e com o tempo essa capacidade vai se desenvolvendo e com o meio onde vivemos criamos a capacidade de nos comunicar esse meio é"fala", e como a professora citou a palavra tem poder porque com ela somos capazes de definir o que realmente queremos e também somos capazes de induzir alguém através de nossa palavra,a mesma palavra capacidade de trazer felicidade e também tristeza dependendo da forma que ela for dita ou expressada.

Pedro H. R. Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro H. R. Monteiro disse...

O poder da palavra. A palavra não só exerce uma grande influencia sobre os sentimentos como é o maior poder que temos, pois vivemos em um mundo democrático, onde a palavra do povo deve ser ouvida e respeitada mesmo que isso não ocorra sendo assim a palavra tem um poder enorme sobre o mundo, cabe somente a nós sabermos usar essa dádiva a nosso favor.

Pedro Henrique R. Monteiro - 3°EMC

Unknown disse...

a palavra tem poder , a palavra pode mudar o mundo ,atrases dela pode trazer a guerra como a paz ,pode trazer a liberdade ou a ditadura

Diego Henrique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Juliana disse...

Jujubinha- Juliana 5ªB

Olá professora, passei aqui para falar que eu acho que a senhora deveria dar o mais rapido possivel o "trabalho" da autobiografia feita no computador, estou louca para fazer esta atividade!!!!!

amanda disse...

Bom professora, o conteúdo que eu achei muito importante em sala de aula , foi o livro que ainda não discutimos.Jorge Amado Capitães de Areia.
E eu gostei muito porque através dele, nós percebemos como era sofrida as coisas naquele tempo, não que ainda não seja , mais que através dos anos, vem melhorando bastante, ele mostra a tristeza e dura realidade.

amanda disse...

Olá professora, então estou achando muito interessante , o que agente está aprendendo sobre:
"INTERTEXTUALIDADE" consegui entender bem o conteúdo.